Cenários da resistência

O PT, derrotado nas eleições presidenciais, promete uma oposição de resistência. A qual, provavelmente, os seus membros e adeptos não sabem o que, nem como. 
Mas como resistência é uma ação reativa, essa será praticada como defesa contra eventuais ataques, reais ou supostos. 
Um real previsível será contra o processo de desocupação da Administração Federal, por simpatizantes. O Governo Temer já fez uma grande desocupação, retirando os petistas de cargos comissionados ou de livre nomeação. Mas simpatizantes ainda permanecem e, em algumas áreas, principalmente no Ministério da Educação e das Relações Exteriores (Itamaraty) a perspectiva é de "caça às bruxas". A resistência, provavelmente, será pela rede social, com sucessão de denúncias de arbitrariedades, reais ou falsas, repercussão pela mídia e movimentos de rua. No caso do Itamaraty, buscará o apoio internacional e na Educação, as greves de docentes, em todos os níveis. Provavelmente pelo mote de "resistência por uma educação democrática".
A principal resistência deverá ocorrer no Congresso Nacional, principalmente na Câmara dos Deputados, onde a despeito de uma desidratação, o PT conseguiu se manter como o partido com o maior número de cadeiras. As desidratações do MDB e do PSDB, foram maiores. Apesar de uma bancada de 56 deputados federais, representando apenas 11% do total. Com o apoio do PCdoB, fiel aliado, poderá chegar a um bloco da esquerda radical de 65 deputados. Se conseguir somar mais 10 do PSOL, o que não é automático, chegaria a um bloco de 75 deputados, de 15% sobre o total, insuficiente para qualquer aprovação ou para barrar a aprovação de qualquer medida, mesmo as emendas constitucionais que requerem 3/5 dos votos, isto é, 308 votos. Seriam necessários 206 votos contra. Só restam os discursos e as obstruções. As obstruções retardam, mas não impedem. Por si só não terá condições de barrar nenhuma das propostas que Bolsonaro encaminhar ao Congresso.
A bancada do PT na Câmara irá contar com Gleise Hoffmann, agora Gleise Lula, a mais estridente. Fará barulho, mas esse alarido afasta os demais partidos. Na Câmara dos Deputados o PT será um "cão que ladra, mas não tem condições de morder".

A bancada do PT ainda terá alguma importância estadual e regional. Dos 56 deputados, 24 estão concentrados em 3 estados: Bahia (8), Minas Gerais (8) e São Paulo (8).  Nos estados do Nordeste o PT conseguiu a eleição de mais 12 deputados, somando uma bancada petista do Nordeste, de 20 deputados. 
A Bahia é o principal reduto petista, tendo reeleito o Governador Rui Costa, no primeiro turno, uma bancada na Câmara Federal, de 8 deputados, com a reeleição de um dos seus líderes, Alvaro Florence, e Jaques Wagner, Senador. Provavelmente será o principal líder do PT no Congresso Nacional. Em função de arranjos estaduais, toda bancada baiana no Senado é aliada ao PT. E poderá se aliar à esquerda moderada, o que seria mais difícil na Câmara dos Deputados. 
Surpreendentemente, Minas Gerais elegeu uma bancada de 8 deputados do PT. Ao mesmo tempo em que o candidato do PT à reeleição, Fernando Pimentel, não chegou ao segundo turno e a ex-Presidente Dilma Rousseff, amargou um 4º lugar na disputa pelo Senado.
Em São Paulo, embora o PT siga uma trajetória de queda da sua bancada, manteve 8 deputados, dos quais 5 reeleitos e 3 novos. José Mentor, um dos tradicionais petistas no Congresso não foi reeleito. Os demais não reeleitos estavam no seu primeiro mandato na Câmara Federal. Entre os novos estão Alexandre Padilha, candidato derrotado ao Governo do Estado, em segundo turno, em 2014 e Rui Falcão, ex-presidente do partido. Ambos muito ligados a Lula. 
A síndrome do escorpião do PT fará com eles se mantenham fiéis aos seus estilos e propósitos, isolados e resistindo lutando, até o seu último combatente. Acreditando  numa virada.
Sem "poder de fogo" dentro do Congresso, por ficar isolado, irá recorrer à mobilização popular para apoiar a sua resistência.
A resposta popular dependerá do grau de satisfação com os resultados efetivos do Governo Bolsonaro, refletido nas pesquisas de opinião.
No cenário "lua de mel continuada" o PT não terá apoio popular para a sua mobilização.
No cenário ciclotímico terá vitórias e derrotas. Conseguirá barrar algumas questões específicas, mas não a política econômica liberal de Guedes. Essa só não será ultra-liberal pela resistência dos militares nacionalistas. Não pela resistência do PT.
Já no cenário "fracasso e frustração", ainda em 2019, o PT poderá canalizar a frustração e voltar a se fortalecer nas eleições municipais de 2020. 
Dentro das circunstâncias do Governo Bolsonaro, Lula preso colaborará para manter ativa a militância petista e a sua configuração como um mito. Fora da cela, mas com limitações de movimentação, perderá força. Ele e o PT precisarão criar factóides para tentar mantê-lo em evidência. Abrirá guerra pela rede social, para chamar atenção. Só terá efeito se o outro lado cair na sua armadilha, o que será provável. Não terão efeitos maiores que brigas virtuais, afetando relações de amizade e familiares, mas com baixo impacto político. 
O cenário "lua de mel continuada" terá continuidade.

(cont)















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