Cenários emedebistas

O  atual MDB que restabeleceu a sigla do partido de oposição ao Regime Militar, pouco tem a ver com aquele, liderado pelo Dr. Ulysses Guimarães. Dos "emedebistas de raiz" o último remanescente é Jarbas Vasconcellos (PE) que retorna ao Senado Federal.
Com a redemocratização, liderada então pelo PMDB, este optou pelo modelo "voto-cargo-dinheiro-voto", através do qual, até 2006 teve eleito o maior número de deputados federais e senadores. Em 2010 já foi superado pelo PT, mas através dos blocos partidários manteve a liderança nas duas casas. 
Esse modelo o fez sempre um "partido de Governo", participando deles, mediante a negociação de cargos, mesmo sem ter candidato próprio para a Presidência. Alcançou o auge com Michel Temer, na Vice-Presidência da chapa associada ao PT, o que propiciou uma curta gestão peemedebista, com o impeachment de Dilma Rousseff.
Essa conquista teve um custo politico-eleitoral muito caro, com a ampla derrocada das principais lideranças no Senado, não reeleitas: Romero Jucá, que ainda permanece como Presidente do partido, Edison Lobão, o representante do Sarney e outros. Apenas os dissidentes sobreviveram: Renan Calheiros, Eduardo Braga e Jader Barbalho.
Na Câmara dos Deputados, os "temeristas" não retornaram. Eduardo Cunha, está preso. Os representantes do grupo Sérgio Cabral-Jorge Picciani, também não retornaram, vencidos nas urnas. No Espirito Santo o PMDB não conseguiu quorum para eleger sequer um deputado federal, deixando Lelo Coimbra, um dos líderes de Temer, de fora. Beto Mansur não foi reeleito. O único sobrevivente é Baleia Rossi, ainda o líder do partido na Câmara dos Deputados. 

Com o desprezo de Jair Bolsonaro das lideranças partidárias - por ressentimento e oportunismo - não há como trazer o MDB, como partido, para a sua base aliada. Pouco adianta, porque mesmo que se fechasse questão, as lideranças não podem evitar defecções. 

A direção, ainda dominada pela "velha guarda", considera o partido como independente, até porque não tem alternativa, mas definiu uma posição em relação à reforma da previdência proposta pelo Governo: é a favor da reforma, mas com ajustes, não concordando com as mudanças nas regras de aposentadoria especial dos professores, da aposentadoria rural e do Benefício de Prestação Continuada. Representa, de partida, uma desidratação da ordem de R$ 140 bilhões. Mas aceita discutir a "capitalização".

Apesar da definição partidária o Governo não pode contar como certos a favor da Reforma da Previdência, os 34 votos do MDB, na Câmara dos Deputados. Dificilmente conseguirá recuperar os itens rejeitados pela direção partidária. Mas para evitar mais perdas, dependerá das negociações nem sempre "republicanas", com os deputados do partido.

Dos 34 deputados do MDB eleitos em 2018, apenas 9 são novos, embora nem todos sejam novatos. 25 foram reeleitos e são sobreviventes. Estarão voltados para as eleições de 2020, para manter a base eleitoral que sejam eleitos Prefeitos Municipais ou formem os apoios para o seu retorno em 2022. Os dois focos principais são os "de sempre": cargos regionais e emendas parlamentares. 

São predominantemente despachantes de interesses comunitários ou corporativos. Esses - em geral - de servidores públicos. Com isso mantém o apoio dos seus eleitores servidores públicos e familiares e podem ganhar o voto de trabalhadores sensibilizados com a imagem de que, com a reforma, terão que trabalhar por muito mais tempo para poderem se aposentar. 

Os votos mais importantes do MDB estão no Senado, onde apesar de grandes perdas quantitativas (menos 7 senadores) e qualitativas (não reeleição de Romero Jucá, Edison Lobão e outros líderes tradicionais) mantém a maior bancada (11) e alguns líderes tradicionais (Renan Calheiros, Eduardo Braga, Jader Barbalho e Fernando Coelho). Precisando de pelo menos 54 votos para aprovação da PEC e evitar - pelo menos - 28 votos contra, a posição da bancada medebista será fundamental.

O voto a favor da Reforma da Previdência seria daqueles que aceitam a versão governamental de que sem aquela, os Governos não terão condições de honrar os pagamentos aos aposentados e pensionistas públicos. E tem alguns exemplos concretos, sendo o mais grave o que ocorre no Rio de Janeiro. Mas para o imaginário popular, a falta do dinheiro para os aposentados decorreu da "roubalheira" dos governantes. Para aquele a questão não é tirar mais dos servidores públicos e dos trabalhadores em geral, mas acabar com a roubalheira. Os emedebistas que votarem a favor da Reforma de Previdência serão punidos pelas urnas. 
Só o não serão se trouxer benefícios palpáveis e concretos aos seus eleitores. 

O voto dos parlamentares emedebistas, como de vários outros, não será ideológico ou programático. Será fisiológico e de sobrevivência politica, diante das eleições municipais de 2020 e da sua candidatura à reeleição em 2022.

A sobrevivência do MDB como grande partido, dependerá do seu desempenho em 2020, de forma a manter a sua base local, de 1026 Prefeituras Municipais. 

Não o conseguirá com base programática, principalmente diante da pauta do Governo: liberal na economia, conservador nos costumes e armamentista na segurança pública.

Terá que montar uma pauta própria, com temas que dizem mais respeitos à vida do cidadão nas cidades, principalmente pequenas e médias. 
Uma pauta alternativa deverá envolver: revisão do pacto federativo, com o reforço de receitas próprias dos Municípios; delegação total dos serviços públicos de educação básica e atendimento primário em saúde, sem interferências burocráticas do Governo Federal. Nunca foi a posição predominante do PMDB ao qual intressava a dependência do Governo Federal e a intermediação dos seus políticos para conseguir a destinação e liberação das verbas.

O comprometimento ético das lideranças do PMDB transformaram esse ativo em passivo. 

Nessa mensagem de "temos força em Brasília" terá que enfrentar 3 principais concorrentes: os candidatos do PFL que dirão, nós somos governo; os do DEM, (nós nos damos muito bem com o Governo) e outros partidos que negociam apoios eventuais em troca de benefícios locais. Não teriam maiores diferenciações em relação a esses. 



(cont)




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...