Culpa da engenharia? (3)

Com a misteriosa divulgação de vídeo sobre o momento da ruptura da barragem, o foco voltou à engenharia, com uma percepção da maioria dos especialistas de que houve "liquefação" da barragem, em termos leigos, um amolecimento da barragem de terra, por infiltração excessiva de água.

Num primeiro momento da ruptura da barragem, todo mundo virou "técnico de futebol" (oops), técnico ou especialista em barragens, dizendo que o alteamento à montante era uma técnica obsoleta e de maior risco. Como amadores, ninguém explicou por que era de maior risco e também não informou que a Vale não construiu nenhuma barragem com alteamento, seja à montante como à jusante, porque nas minas que explora como empreendimento de sua iniciativa utiliza a extração pela via seca. Segundo a Vale, todas as minas com barragens de rejeitos  com água, são de minas compradas pela Vale, com as barragens de terra, alteadas à montante, isto é, elevadas atrás da barragem inicial.

O fato irrefutável, mostrado pelo vídeo, é que a barragem começou a ceder pela parte de baixo, o que significa que a liquefação ocorreu nas camadas iniciais da barragem, não nos alteamentos sucessivos.
Dificilmente se encontrará alguma explicação técnica, diferente da liquefação. Mas ainda faltam diversas explicações.

A primeira é porque esse processo de liquefação não deu sinais de que estava ocorrendo. Segundo os especialistas esse processo não ocorre de repente dá sinais de que está ocorrendo, principalmente por fissuras na barragem, com veios de água.
Em Mariana isso ocorreu, indicando a necessidade de medidas corretivas. As quais não foram feitas, por economia, ou para aumentar os lucros da SAMARCO e os bônus dos diretores. O problema de engenharia foi transferida para a economia, e a ruptura causou, prejuizos econômicos, ambientais e perdas humanas. Houve uma clara responsabilidade de gestão.

Já no caso da barragem do córrego do feijão, as circunstâncias foram outras e faltam muitas explicações.

Aparentemente, não houve sinais visíveis de que estava ocorrendo um processo de liquefação. Além dos laudos, os responsáveis pelo monitoramento estavam muito próximos à barragem.
Por razões históricas, excesso de autoconfiança ou imprudência, o centro administrativo da mina, com o refeitório junto, estavam logo abaixo  (a montante) da barragem, ainda que num patamar um pouco acima do leito natural de escoamento.
Como não havia nenhum indício de risco, almoçavam tranquilamente quando, em menos de um minuto, foram engolfados pelas água e lama que veio abaixo, com a ruptura da barragem. Não houve tempo para acionar as sirenes.
Pelo vídeo pode-se identificar um grupo de pessoas, junto à barragem, exatamente no patamar onde se iniciou a ruptura. Aparentemente estavam fazendo uma inspeção - provavelmente de rotina - mas não tem como contar os seus achados e conclusões, porque foram os primeiros a ser encobertos pela água lamaçenta. 

A engenharia precisará decifrar dois grandes mistérios, sem os quais pouco adiantará cobrar mais fiscalização ou ação das mineradores, se não se sabe o que causou a doença, tampouco como ela evoluiu sem apresentar sintomas. 

Fazendo um paralelo médico ocorrem, ainda que raros, casos de pessoas que morrem repentinamente de um câncer agressivo sem que a vítima apresentasse qualquer sintoma. Ocorrem, mais frequentemente, caso em que quando o sintoma se manifesta e o paciente vai ao médico se constata um câncer avançado e a pessoa vem a falecer logo após, por falência múltipla dos órgãos. 

Qualquer barragem não entra em colapso sem aviso prévio. 

(cont)











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