Culpa da engenharia? (5)

A VALE, antiga CVRD - Companhia Vale do Rio Doce - da qual fui consultor para o seu primeiro planejamento estratégico, era (e acho que ainda é), juntamente com a Petrobrás, o principal objetivo de desejo de muitos jovens engenheiros e engenheiras. A nata da engenharia gostaria de trabalhar nessas empresas. Isso fez com que essas contassem com excelentes quadros de engenheiros (as), todos de alta competência, selecionados por rigorosos concursos públicos. A Vale, mesmo depois de privatizada, manteve o rigor na seleção e contratação dos seus engenheiros(as). 
Por essas circunstâncias não é crível que a barragem da represa de rejeitos da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, tivesse ocorrido por incompetência ou desleixo dos engenheiros responsáveis pelo seu monitoramento.
Acusá-los de displicência ou incompetência é posição contra a nata da engenharia brasileira, adotada por má ou falta de informação, por procuradores e juizes, sem o devido conhecimento de causa.
Foi uma grande tragédia humana, cuja avaliação é contaminada por dois dos pecados capitais: a soberba e a inveja.
A alta competência técnica dos engenheiros da Vale, os leva a um excesso de alta confiança, que os leva à soberba. Tendem a se posicionar como únicos "donos da verdade", menosprezando o conhecimento e opinião de terceiros. 
Só o excesso de autoconfiança poderia fazer com que estivessem almoçando tranquilamente, com a absoluta certeza de que nada iria ocorrer, naquele momento, com a barragem. 
Por outro lado, principalmente aqueles desprezados pela engenharia da Vale, aproveitaram para "satanizar" àquela. Movidos pela inveja.

Nessa imensa tragédia, há que se distinguir a dimensão econômica da técnica. A dimensão econômica da Vale é movida pelas maiores distorções do capitalismo predatório. O objetivo dos gestores é inteira (se não exclusiva) mente voltada para os resultados econômicos e garantia de dividendos para os acionistas. 
Essa dimensão fez com que a Vale desativasse a represa de rejeitos do Córrego do Feijão, após o rompimento da barragem do Fundão em Mariana. 
A diretriz econômica da Vale é desativar a operação de minas, com custo de extração superior a um dado limite, associado às cotações internacionais. Como essas tinham caido, a mina foi desativada. Com a recente recuperação das cotações, a Vale reiniciou as operações. 
A autossuficiência da engenharia da Vale, garantindo a aparente estabilidade da barragem, levou à direção a uma contratação pró-forma de uma inspeção, para mostrar aos financiadores e às autoridades licenciadoras, para a retomada da operação da mina. Como era considerada apenas uma formalidade, foi contratada mediante pregão, de menor preço, por valor irrisório. 

(cont)



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