Trajetórias do primeiro mês (2)

É no seio do clã Bolsonaro que surgiu um problema, amplificado pela cobertura da midia tradicional, que atinge a imagem que Jair Bolsonaro "vendeu" para conquistar o apoio popular.

De um relatório do COAF sobre movimentações atípicas de funcionários da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro - ALERJ, em função das investigações dos Ministérios Publico, que resultaram na prisão de diversos deputados estaduais, o jornal Estado de São Paulo, pinçou um caso - não entre os maiores - o de Fabrício Queiroz, por ele ter sido assessor parlamentar do Deputado Estadual, eleito e reeleito por 3 vezes, Flávio Bolsonaro, primogênito de Jair Bolsonaro.
O relatório do COAF indicou uma ampla ocorrência, dentro da ALERJ, do "rachid". É um esquema de nomeação de funcionários, que não dão expediente na instituição, mas recebem os seus proventos e repassam grande parte aos operadores dos deputados que fizeram as nomeações. Em alguns casos, esses operadores, como chefe do gabinete ou outra função relevante, tem ampla delegação do deputado, para selecionar os funcionários fantasmas, assim como para obter a homologação do parlamentar (assina aqui), acertar os esquemas de contribuição ou repasse e gerir o uso dos recursos arrecadados.
Ficou evidente que Fabricio Queiroz, colega nos cursos militares e companheiro de pesca de Jair Bolsonaro, fazia esse papel.
Os relatórios do COAF, comprovam os recebimentos de Queiroz, com todos os indícios de uma rachid. Mas não há identificação do destino dado aos recursos.
Queiroz teria sido pressionado para assumir total responsabilidade "livrando a cara" de Flávio Bolsonaro: "eu fazia tudo por conta própria. O Flávio assinava tudo, em confiança. Ele não sabia de nada".
Mas Queiroz recusou essa condição por achar que Bolsonaro e filhos conseguiriam abafar o processo: "manda o Moro parar com isso!" e aproveitou uma situação clínica, para ele mesmo e seus familiares a não comparecerem ao Ministério Público para prestar esclarecimentos. 
Com a recusa de Queiroz, a mídia transferiu o foco para Flavio Bolsonaro que, contribuiu para tal, ao pedir ao STF a paralisação das investigações, sob o argumento de que teria foro privilegiado. Um erro primário, do ponto de vista das comunicações.
Flávio Bolsonaro, que tem base eleitoral nas corporações militares e policiais, esteve integrado nos blocos parlamentares de apoio àquelas. Parte delas migrou para as milícias. Essas, na expansão de seus negócios, enveredou pela grilagem de terras, com a implantação de loteamentos clandestinos e formação de novas comunidades (ou extensão de existentes) como feudos sob seu controle. Com a leniência do Estado formal, corrompido pelas forças informais. 
O assassinato da vereadora Marielle Franco, foi um "tiro no pé" das miliciais e grileiros associados, chamando atenção para o crime. Conseguiram durante um ano, abafar o caso, mesmo com a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. Mas com o total enfraquecimento do Estado estadual, e assunção dos novos Governos, uma operação conduzida pela Polícia Federal, prendeu vários lideres e deu a conhecer ligações entre a milicia e os deputados estaduais, entre eles Flávio Bolsonaro. 
Mais uma vez, embora o número de envolvidos seja grande, a mídia só deu destaque às ligações do deputado Bolsonaro.
Há - efetivamente - uma ampla campanha da mídia tradicional visando o desgaste de Jair Bolsonaro. Essa é um contrataque  ao comportamento ofensivo contra aquela. Mesmo sendo a mais alta autoridade do Poder Executivo e uma figura de importância mundial, recusa o diálogo aberto com a imprensa, adota relação altamente seletiva e evita o confronto direto, como fez em Davos. 
Esse confronto tende a se agravar e, com isso, se ampliar a artilharia contra os Bolsonaros, empanando o ambiente de "lua de mel" do Presidente com a população.


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