- a eleição dos novos teria representado um ampliação de visão de mundo do eleitor?
- qual é a perspectiva de atuação dos novos na Câmara dos Deputados na legislação 2019-2022?
- qual é perspectiva de reeleição dos agora novos e também dos veteranos em 2022? Haverá possibilidade de uma renovação efetiva do quadro político?
O principal achado do estudo que desenvolvemos sobre a origem dos votos dos deputados federais, em 2014, e que deu origem ao livro "Até onde a vista alcança", foi de que o eleitor vota num candidato a deputado federal, como um despachante de interesses comunitários ou corporativos, junto às autoridades ou órgãos federais. E assim decide e age, por ter uma visão de mundo curta, limitada pelas circunstâncias da sua vida cotidiana.
A significativa eleição de "bolsonaristas", seja pelo seu partido - o PSL - como por outros partidos, refletiria uma quebra dessa visão restrita? Teria havido uma ampliação dessa visão, para uma votação a favor de programas, ideologias? Teria havido o que alguns consideram o "amadurecimento" do eleitorado brasileiro, ou em termos mais amplos do povo brasileiro?
Os dados gerais não indicam essa evolução, embora incorpore um elemento nacional: a ampla rejeição da maioria dos eleitores da política atual, dos políticos em exercício. Essa rejeição generalizada aos "amores antigos" fez com que o eleitor buscasse "novo amor" e, uma grande parte, foi seduzida por oportunistas, que se aproveitaram do sentimento de raiva contra o antigo parceiro, para tomar conta do coração ou mente do eleitor indignado.
O principal mote dos novos conquistadores do coração machucado do eleitor foi se apresentar como anticorrupção. Embora um sentimento nacional, a sua leitura foi particular, voltada aos seus problemas cotidianos. O principal foi de que a "roubalheira do PT" é a responsável pela falta de trabalho, que o deixa (o eleitor), pessoas da família ou conhecidos desempregados.
Outra questão, também nacional, foi a sensação de insegurança, com a percepção real ou imaginária do aumento da violência e dos riscos pessoais. O oportunista e a sua turma, que ofereceu ao eleitor, a alternativa de se armar para se defender pessoalmente, ganhou o seu coração e voto.
O eleitor continuou votando segundo a sua visão de mundo restrita, dentro da perspectiva de melhoria da sua vida cotidiana. Mas votando naquele que propôs essa melhoria a partir de uma atuação em Brasília.
Nesse sentido votou programaticamente em um ideário com proposições objetivas que afetam ou podem afetar a sua vida cotidiana.
Não foi uma opção de natureza ideológica, de contraposição de modelos econômicos: não foi uma opção entre privatização ou estatização, em relação ao futuro. A reação foi em relação ao passado: o modelo petista, na visão da maioria dos eleitores, é o responsável pela situação precária da sua vida.
Não é uma visão ampla de se é melhor ou pior para o Brasil. Para o eleitor o Brasil é o ambiente em que ele vive. Ele estende para o conjunto a sua visão de mundo, basada na sua vivência.
A sua visão ideológica não é consistente a partir de conceitos ou divisões teóricas, mas fragmentada com posições específicas que podem ser contraditórios. A maioria dos eleitores não são de direita ou de esquerda.
A sua eventual configuração ideológica é uma construção de cientistas políticos e de outros analistas, a partir das preferências em relação à temas específicos. A menos dos mais letrados o eleitor em geral, não se autocaracteriza como esquerda ou direita. Até mesmo as preferências ou idiossincrasias partidárias mudam, conforme as circunstâncias.
O resultado das eleições indica que em relação a determinados temas específicos houve uma manifestação clara da maioria do eleitorado(*):
Isso significa que em relação aos temas sobre as quais os dados indicam uma posição majoritária do eleitorado, o Executivo não terá maiores dificuldades em aprovar as medidas necessárias no Congresso Nacional, sem necessidade de grandes negociações.
Já em relação aos demais temas será necessária ampla negociação, para a aprovação das propostas do Executivo, como encaminhadas, em geral, obra de tecnocratas.
Haverá sempre negociações para alterações tópicas, em função de interesses específicos, sejam territoriais como corporativos.
No curto prazo, não haverá condição de manter o presidencialismo de coalização, um enunciado "politicamente correto" para esconder o modelo real de "presidencialismo de cooptação".
Se o Executivo tentar negociar dentro desse modelo, ainda que seja o necessário para aprovação de medidas, tidas como de interesse nacional e de toda a sociedade, esta não aprovará os métodos. Vai contra um dos principais pilares da eleição de Bolsonaro.
Não esquecendo que eram os mesmos propósitos do PT, no início do século e que depois foram abandonados, primeiramente com o mensalão e depois com o petrolão. Resultando agora na sua fragorosa derrota.
A onda bolsonarista iniciada por um posicionamento contra a prevalência do "politicamente correto", que vinha tolhendo as manifestações da maioria silenciosa, foi ampliada pelo posicionamento anti-PT. Os seus adeptos iniciaram um processo através das redes sociais, mas o "anti-pt" e mais especificamente o "anti-lula" se espalhou porque encontrou um solo fértil, uma propensão de grande parte da classe média em aceitar a versão de que toda culpa das dificuldades econômicas e do desemprego no Brasil é do PT, causado principalmente pela desastrosa gestão de Dilma Rousseff e continuada pelo seu vice-presidente, Michel Temer. Para os anti-petistas não há diferença entre Dilma e Temer, porque ambos foram eleitos pela mesma chapa, em 2010 e 2014. Em função do presidencialismo de coalizão, o sentimento contra o PT se estendeu para todos os políticos, principalmente contra os caciques da base aliada.
Na onda bolsonarista, foram eleitos vários militares e policiais com visão corporativa de preservação ou até ampliação dos benefícios dos servidores públicos militares e assemelhados. Contrapõe se às medidas propostas pelo principal assessor econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes, um fiador da defesa de um Estado menor e menos gastador.
Além desses, embarcaram no PSL vários candidatos, sem espaço em outros partidos, a maioria carregando derrotas em outras disputas eleitorais menores, como das vereanças municipais, em 2016. De desconhecidos perdedores viraram grande vencedores, com promessas de defesa dos interesses comunitários ou corporativos.
Os eleitores recusaram os velhos despachantes, com comportamentos duvidosos, por novos despachantes, ainda não conhecidos.
(cont)
(*) os analistas usam muito a figura do eleitorado, o que não existe como entidade com capacidade decisória. Eleitorado é uma figura retórica construída estatisticamente, em que a maioria é tomada como um todo. A maioria dos eleitores votantes votou em Bolsonaro, elegendo o Presidente da República, de acordo com as regras eleitorais vigentes. Mas o total dos votos dados a ele não alcançou 50% do eleitorado. O total de votos por ele recebido (57.791.847) representa 39,23% do total do eleitorado apto a votar em 2018 (147.306.294) e 49,85 % do total de votos dos eleitores que compareceram à votação, deduzidas as abstenções (115.933.451 votantes). O termo "eleitorado" vale para configurar a maioria dos votos válidos.
A significativa eleição de "bolsonaristas", seja pelo seu partido - o PSL - como por outros partidos, refletiria uma quebra dessa visão restrita? Teria havido uma ampliação dessa visão, para uma votação a favor de programas, ideologias? Teria havido o que alguns consideram o "amadurecimento" do eleitorado brasileiro, ou em termos mais amplos do povo brasileiro?
Os dados gerais não indicam essa evolução, embora incorpore um elemento nacional: a ampla rejeição da maioria dos eleitores da política atual, dos políticos em exercício. Essa rejeição generalizada aos "amores antigos" fez com que o eleitor buscasse "novo amor" e, uma grande parte, foi seduzida por oportunistas, que se aproveitaram do sentimento de raiva contra o antigo parceiro, para tomar conta do coração ou mente do eleitor indignado.
O principal mote dos novos conquistadores do coração machucado do eleitor foi se apresentar como anticorrupção. Embora um sentimento nacional, a sua leitura foi particular, voltada aos seus problemas cotidianos. O principal foi de que a "roubalheira do PT" é a responsável pela falta de trabalho, que o deixa (o eleitor), pessoas da família ou conhecidos desempregados.
Outra questão, também nacional, foi a sensação de insegurança, com a percepção real ou imaginária do aumento da violência e dos riscos pessoais. O oportunista e a sua turma, que ofereceu ao eleitor, a alternativa de se armar para se defender pessoalmente, ganhou o seu coração e voto.
O eleitor continuou votando segundo a sua visão de mundo restrita, dentro da perspectiva de melhoria da sua vida cotidiana. Mas votando naquele que propôs essa melhoria a partir de uma atuação em Brasília.
Nesse sentido votou programaticamente em um ideário com proposições objetivas que afetam ou podem afetar a sua vida cotidiana.
Não foi uma opção de natureza ideológica, de contraposição de modelos econômicos: não foi uma opção entre privatização ou estatização, em relação ao futuro. A reação foi em relação ao passado: o modelo petista, na visão da maioria dos eleitores, é o responsável pela situação precária da sua vida.
Não é uma visão ampla de se é melhor ou pior para o Brasil. Para o eleitor o Brasil é o ambiente em que ele vive. Ele estende para o conjunto a sua visão de mundo, basada na sua vivência.
A sua visão ideológica não é consistente a partir de conceitos ou divisões teóricas, mas fragmentada com posições específicas que podem ser contraditórios. A maioria dos eleitores não são de direita ou de esquerda.
A sua eventual configuração ideológica é uma construção de cientistas políticos e de outros analistas, a partir das preferências em relação à temas específicos. A menos dos mais letrados o eleitor em geral, não se autocaracteriza como esquerda ou direita. Até mesmo as preferências ou idiossincrasias partidárias mudam, conforme as circunstâncias.
O resultado das eleições indica que em relação a determinados temas específicos houve uma manifestação clara da maioria do eleitorado(*):
- a favor de uma solução no combate à violência, com prioridade para a solução individual;
- contra a corrupção na política;
- contra a prevalência do "politicamente correto"; contra a discriminalização do aborto e da maconha;
- outros temas específicos em relação aos costumes.
Em relação a outros temas, principalmente as de natureza macroeconômica, não há maioria segura, como a reforma da previdência, a privatização, o teto de gastos e outros.
Isso significa que em relação aos temas sobre as quais os dados indicam uma posição majoritária do eleitorado, o Executivo não terá maiores dificuldades em aprovar as medidas necessárias no Congresso Nacional, sem necessidade de grandes negociações.
Já em relação aos demais temas será necessária ampla negociação, para a aprovação das propostas do Executivo, como encaminhadas, em geral, obra de tecnocratas.
Haverá sempre negociações para alterações tópicas, em função de interesses específicos, sejam territoriais como corporativos.
No curto prazo, não haverá condição de manter o presidencialismo de coalização, um enunciado "politicamente correto" para esconder o modelo real de "presidencialismo de cooptação".
Se o Executivo tentar negociar dentro desse modelo, ainda que seja o necessário para aprovação de medidas, tidas como de interesse nacional e de toda a sociedade, esta não aprovará os métodos. Vai contra um dos principais pilares da eleição de Bolsonaro.
Não esquecendo que eram os mesmos propósitos do PT, no início do século e que depois foram abandonados, primeiramente com o mensalão e depois com o petrolão. Resultando agora na sua fragorosa derrota.
A onda bolsonarista iniciada por um posicionamento contra a prevalência do "politicamente correto", que vinha tolhendo as manifestações da maioria silenciosa, foi ampliada pelo posicionamento anti-PT. Os seus adeptos iniciaram um processo através das redes sociais, mas o "anti-pt" e mais especificamente o "anti-lula" se espalhou porque encontrou um solo fértil, uma propensão de grande parte da classe média em aceitar a versão de que toda culpa das dificuldades econômicas e do desemprego no Brasil é do PT, causado principalmente pela desastrosa gestão de Dilma Rousseff e continuada pelo seu vice-presidente, Michel Temer. Para os anti-petistas não há diferença entre Dilma e Temer, porque ambos foram eleitos pela mesma chapa, em 2010 e 2014. Em função do presidencialismo de coalizão, o sentimento contra o PT se estendeu para todos os políticos, principalmente contra os caciques da base aliada.
Na onda bolsonarista, foram eleitos vários militares e policiais com visão corporativa de preservação ou até ampliação dos benefícios dos servidores públicos militares e assemelhados. Contrapõe se às medidas propostas pelo principal assessor econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes, um fiador da defesa de um Estado menor e menos gastador.
Além desses, embarcaram no PSL vários candidatos, sem espaço em outros partidos, a maioria carregando derrotas em outras disputas eleitorais menores, como das vereanças municipais, em 2016. De desconhecidos perdedores viraram grande vencedores, com promessas de defesa dos interesses comunitários ou corporativos.
Os eleitores recusaram os velhos despachantes, com comportamentos duvidosos, por novos despachantes, ainda não conhecidos.
(cont)
(*) os analistas usam muito a figura do eleitorado, o que não existe como entidade com capacidade decisória. Eleitorado é uma figura retórica construída estatisticamente, em que a maioria é tomada como um todo. A maioria dos eleitores votantes votou em Bolsonaro, elegendo o Presidente da República, de acordo com as regras eleitorais vigentes. Mas o total dos votos dados a ele não alcançou 50% do eleitorado. O total de votos por ele recebido (57.791.847) representa 39,23% do total do eleitorado apto a votar em 2018 (147.306.294) e 49,85 % do total de votos dos eleitores que compareceram à votação, deduzidas as abstenções (115.933.451 votantes). O termo "eleitorado" vale para configurar a maioria dos votos válidos.
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