Esgotamento do modelo do consumo interno

O desenvolvimento da economia brasileira nos últimos anos foi movido pelo crescimento do mercado interno, principalmente do consumo das famílias.
Esse, por sua vez, foi baseado no crescimento da massa salarial, com o constante crescimento do mercado de trabalho e dos salários. Também por subsídios governamentais.
E incentivado ou acelerado pelo crédito.
As políticas econômicas, implantadas pelo PT, promoveram a melhoria dos salários, a partir da valorização do salário mínimo; um amplo programa de subsídios diretos às pessoas, através do bolsa família, o que impactou o desenvolvimento do comércio popular, com ganhos para os comerciantes e para os fabricantes de produtos populares, resultando numa ampliação sucessiva do mercado de trabalho, com movimentação da renda. O processo foi ainda impulsionado pelas facilidades de crédito, sejam os financiamentos de caráter pessoal, como os para a compra de bens duráveis, principalmente, automóveis, com prazos longos.
A ampliação do crédito imobiliario, associada ao subsídio aos compradores dos imóveis, promoveu o desenvolvimento da construção civil, colaborando adicionalmente para a criação de empregos e movimentação da renda.
Um amplo programa de investimentos públicos, financiado por recursos orçamentários foi implantado, mais uma vez promovendo empregos e renda.
Esse processo foi se esgotando ao longo do primeiro mandato de Dilma, mas sustentado mediante crescente déficit público, acima dos limites estabelecidos pela Responsabilidade Fiscal. Mas "driblados" mediante "pedaladas fiscais". 
Ainda em 2014, após a reeleição de Dilma Rousseff, verificada por ela mesmo a impossibilidade de continuidade da irresponsabilidade fiscal, foi dado início a um conjunto de medidas de ajuste, que desencadearam a mais prolongada recessão da economia brasileira. 
Foram mantidos o bolsa-familia e a valorização do salário-mínimo, mas com efeitos de sustentação e não mais como fator de impulsionamento do crescimento econômico. 
Já os investimentos públicos tiveram que ser restringidos, assim como os subsídios à moradia popular.
Com o abuso na tomada de crédito, pelas facilidades oferecidas, aumentou a inadimplência e o sistema bancário, contraiu a concessão de empréstimos. 
As condições básicas da dinâmica econômica se enfraqueceram e os mecanismos de ajuste, agravaram a recessão.
Com a mudança de Governo, foi tentada a redinamização da economia, mais uma vez através do consumo, com a liberação de recursos do FGTS, o que apenas frenou a continuidade da queda, mas não promoveu a inflexão na curva de crescimento.
O que, efetivamente, promoveu um ligeiro crescimento, foi a agropecuária voltada para a exportação, com substancial aumento da produção, mas com baixos efeitos secundários, por ser um baixo empregador, assim como por não ter efeitos na comercialização de varejo, um dos principais atividades empregadoras.
Com o elevado nível de endividamento das familias, muitas das quais inadimplentes em relação ao pagamento dos juros e principal, agravadas pelos elevados juros, o crédito não tem mais o papel alavancador da retomada do crescimento, seja por receio do sistema bancário, como dos tomadores. Esses não querem se endividar mais, sem a segurança de que terão emprego e renda futura.

Todos os candidatos à Presidência prometem ampliar os empregos e promover a retomada do crescimento, mas nenhum deles tem apresentado proposta objetiva e factivel para essa retomada.
A tônica tem sido a retomada da confiança dos agentes econômicos, vinculada à aprovação da reforma da previdência. 
Mesmo que aprovada, os seus efeitos efetivos nas contas públicas não serão imediatas. A melhoria decorreria da eventual retomada das atividades e investimentos pelo setor privado. 
Mas será que os empresários vão antecipar os investimentos e produção, na expectativa de que com isso aumente o consumo?
A tendência mais provável é que os agentes privados esperem que o consumo dê sinais sustentáveis de crescimento. O que não está ocorrendo e só há promessas para 2019.
Esse quadro pessimista foi agravado pela greve do transporte rodoviário, iniciado pelos caminhoneiros, incorporada pelos empresários do setor e amplamente disseminada pelo apoio da população, com a ilusão de que "parando o Brasil", promover-se-ia uma ampla mudança, a começar pelo Governo. Na prática o Governo não só permaneceu, como adotou medidas desastrosas que agravaram os problemas. E a "greve dos caminhoneiros" serve de desculpa para qualquer problema na economia brasileira". O seu efeito é mais psicológico do que real.
A estagnação da economia brasileira decorre do esmorecimento do consumo das famílias. 
Sem a sua revitalização não haverá retomada do crescimento da economia, como um todo. Essa revitalização poderá ocorrer pela dinâmica própria do mercado ou por intervenção estatal para estimulá-la. 
Entre os candidatos à Presidência, ou entre os seus assessores econômicos faltam medidas objetivas, concretas e factíveis para revitalizar esse consumo.

(cont)









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