Os meios de comunicação (a tal mídia) usa o termo "governo" como indicativo de um coletivo unitário, com autoridades que o representam. Tratam manifestações de partes, como se fosse o todo. O que leva os leitores e público, em geral, a equívocos de interpretação.
Num governo fragmentado, com diversas facções que estão em conflito em disputa por espaços de poder, não se pode usar o coletivo "governo", nem mesmo quando se trata de ações ou manifestações do Presidente da República.
Na prática, ele é lider de uma facção, que pode ser chamada de "bolsonarista" ou "olavista", que tem pretensões autoritárias para implantar a sua pauta específica, que choca - em muitos pontos - com a facção "morista" e com a facção "ala militar". E choca com o Poder Legislativo, que não aceita a usurpação de atribuições, ainda que possa concordar com o conteúdo.
Na pauta das relações externas, a facção bolsonarista, confronta com a facção "econômica" e com a facção do "agronegócio", tendo recuado nas suas pretensões reivindicadas pelas forças evangélicas que foram fundamentais para a sua eleição.
Reclama-se de uma ação mais efetiva do "Governo" na área econômica, o que é travada pelo fato de que a facção econômica que tem um projeto "amplamente liberal" enfrenta a resistência da facção bolsonarista que tem uma posição corporativista e contrária à reforma da previdência.
Concentrando a estratégia da recuperação econômica na reforma da previdência, para a qual Paulo Guedes teve ampla delegação e liberdade, mas - nem ele - contava com uma oposição: a do Presidente.
"Você tem toda delegação para a reforma, mas não conte comigo para apoiar. Eu, pessoalmente, sou contra. Não vou combater, como sempre fiz, mas também não vou apoiar. Vire-se".
Se o diálogo não foi exatamente esse, o sentido foi. Portanto não há como falar de uma Reforma da Previdência do Governo. A PEC em discussão é uma reforma Guedes.
Outro caso concreto da fragmentação e divergências internas foi o retorno do COAF à área econômica saindo da área jurídica, ou mais precisamente da área de Sérgio Moro. Não foi uma derrota do Governo, até porque teve o apoio velado do Presidente, que nenhum esforço fez para evitar. Ele está mais alinhado aos seus ex-colegas do Parlamento do que com a ação anticorrupção de Sérgio Moro. A derrota foi deste, não do Governo, e muito menos de Jair Bolsonaro.
(cont)
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