Lua de mel terminando precocemente

Os cenários Bolsonaro aqui desenhados tem como foco a relação do Presidente com a população, partindo uma reação natural dessa. Logo após uma eleição presidencial, a tendência é que a expectativa positiva seja maior que a os votos obtidos. Muitos dos que não votaram nele, sem radicalismos ideológicos ou pessoais, passam a esperar que, uma vez eleito, assuma e concretize as suas propostas de fazer um Brasil melhor. 
Essa condição é retratada, com as devidas ressalvas, na pesquisa de opinião feita pelo IBOPE, em Dezembro de 2018, na qual 64% da população achava que Bolsonaro faria um governo ótimo ou bom. 
As pesquisas com o novo governo instalado, passam a incluir a reação a situações ou fatos concretos e não apenas expectativas. Essas ainda são maiores no início, onde o Governo e o Presidente ainda tem pouco a mostrar. À medida do tempo, a percepção sobre os elementos factuais superam as expectativas futuras.
As pesquisas do IBOPE não desagregam, nos dados divulgados, os que votaram em Bolsonaro e os que não votaram nele.
Uma parte dos entrevistados estará sempre opinando, a partir da sua posição ideológica: os adeptos radicais do Governo opinarão sempre positivamente, não importam os fatos. Do outro lado, os oponentes radicais, opinarão sempre negativamente. Nunca haverá unanimidade. 
O índice mais relevante é o compensado, que subtrai das opinião ótimo/bom as opiniões péssimo e ruim. 
Comparando esse índice, pelas pesquisas IBOPE, dos 4 últimos presidentes, na sua primeira eleição, na avaliação do terceiro mês de governo, Dilma Rousseff ganha de longe, com um placar de 58 x 5, 53 pontos favoráveis, em 2011, quando a economia ainda estava numa condição bem favorável. Lula, mesmo com as desconfianças de parte do mercado chegou a 51 x 7, um saldo positivo de 44 pontos, bem superior ao de FHC, com o placar de 41 x 12, vantagem de 29 pontos. Menos de ótimo/bom, mais de ruim ou péssimo. 
O Governo Bolsonaro chega no terceiro mês com apenas 34 pontos (em um total de 100) de ótimo e bom - o mais baixo de todos - e 24 de péssimo e ruim - o mais alto de todos - com um saldo positivo de apenas 10 pontos.
As pesquisas, após iniciado o Governo, avaliam as ações da gestão e, principalmente, as entregas efetivas. Essas ainda são poucas, com parcas mudanças na vida dos brasileiros. Na vida econômica, a carestia continua controlada, mas o mercado de trabalho continua ruim, com grandes dificuldades dos trabalhadores desempregados conseguirem um novo emprego. A indústria continua desempregando e o serviços não absorvem suficientemente. A produção segue crescendo, mas lentamente. O sucesso no leilão dos aeroportos, anima o mercado, mas a difusão do fato é lenta, no conjunto da população.
Nos costumes a população percebe muitas discussões, mas mudanças apenas nas redes sociais. Na vida cotidiana, tudo continua como antes. Em relação à segurança, uma pequena parte da população é afetada diretamente, pela violência. A maior parte é afetada pela sensação de segurança ou de insegurança, em função de ocorrências fartamente difundidas pelo noticiário policial. 
Logo no início do ano, houve uma forte retaliação das facções criminosas a medidas que o Governo do Ceará iria implantar. A transferência dos principais líderes das facções criminosas, de São Paulo para presídios federais distantes do Estado, sem a retaliação dessas com atentados urbanos, melhorou a sensação de segurança.

Mas ataque desmedido a uma escola em São Paulo, por dois jovens tresloucados, ampliou - de novo - a sensação de insegurança e de que o Governo é incapaz de evitar as ocorrências. Para os oponentes estaria até promovendo, com a liberação da posse de armas.
As tragédias naturais, gerando desastres humanos, não foram debitadas ao atual Governo Federal. Não houve, nesses três meses, nenhuma grave crise de serviços públicos. As epidemias continuam, mas sem gerar grande alardes.

Os resultados da pesquisa IBOPE refletem uma avaliação do desempenho efetivo do Governo, nestes três primeiros meses. As expectativas são prejudicadas pelas percepções dos fatos.
Para aquelas, os indicadores mais importantes são da avaliação pessoal do Presidente, contida em duas perguntas: aprovação ou desaprovação de como o Presidente está governando e a confiança ou desconfiança no Presidente.
No primeiro mês, afetado, principalmente, pelos seus discursos de posse, refletindo uma disposição de se manter no palanque e a organização ministerial, cumprindo a promessa de não apelar para o "troca-troca", gerou um placar altamente positivo: 67x 21, 46 pontos de diferença a favor da aprovação. 
As mini-crises, a demissão de Bebianno, para preservar o filho, devem ter pesado na desaprovação, que subiu dez pontos (para 31), enquanto a aprovação caiu igualmente 10 pontos, reduzindo a diferença para 26 pontos. 
Apesar da apresentação da Reforma da Previdência, o pouco empenho inicial do Presidente para promover a sua aprovação no Congresso, pode ter influído numa redução ainda maior da diferença, que caiu para 13 pontos, com uma queda de 6 pontos na aprovação e aumento de 7 pontos na desaprovação.
Bolsonaro ainda tem 20 dias para reverter as curvas, melhorando o indicador para os 100 dias. 
Apesar das contestações, a viagem aos EUA deverá melhorar o índice de aprovação. E esse dependerá do ambiente em relação à Reforma da Previdência.

Para efeito dos cenários futuros, o indicador mais relevante é o da confiança da população no Presidente. Reflete o seu capital político, para conseguir governar, assim como, conseguir a aprovação das suas propostas no Congresso Nacional.
Iniciando o primeiro mês com um saldo de confiança de 32 pontos, com 62 de confiança e 30 de falta de confiança, teve uma substancial queda no segundo mês, com o saldo caindo para 17 pontos, mas com a maioria ainda confiando (55%), chegando em março com apenas 4 pontos de saldo. Os que confiam já não são maioria (49%), com um grande aumento dos que não confiam (44%).
Jair Bolsonaro, diante desses números, precisa reagir rápida e intensamente para recuperar o capital político, para não chegar nos 100 dias, com saldo negativo, entrando no "cheque especial". 
Essa reação está relacionado a duas questões principais: o posicionamento firme a favor da Reforma da Previdência e a sensação de que está assumindo - efetivamente - o Governo. 
É mais uma questão de imagem, onde a presença dos filhos prejudica aquela.

(cont)




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