Com o fim da ditadura militar, os partidos políticos foram divididos (ou se dividiram) entre os herdeiros do poder militar (ARENA) e os opositores (MDB). Esses caminharam para um modelo social-democrata. Com os desvios éticos da cúpula do PMDB, surgiu - por cisão - o PSDB, sob a liderança de Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso e outros. Paralelamente emergiu o Partido do Trabalhadores - PT liderado por Lula.
Por idiossincrasias mais pessoais do que ideológicas, na disputa pelo poder, criou-se uma dissenção que dura 24 anos. Desde 1994 todas as disputas presidenciais foram entre o PT e o PMDB. Com forças alternativas tentando ser uma terceira via. Já em 2014, essa alternativa foi fortalecida, abatida por um desastre aéreo.
O quadro de 2018 aponta para uma quebra dessa reiterada disputa, mas os dois principais protagonistas mantém estratégias contando que ao final a disputa será a mesma.
Enquanto eles esperam pela fase final, outros vem tomando espaços na fase preliminar e levam à possibilidade que a final não seja a tradicional: os dois mesmos protagonistas de sempre estarão fora da final, ou seja, do segundo turno.
O PT estava contando com a possibilidade da candidatura Lula, que mantém grande aceitação eleitoral e, na impossibilidade dessa candidatura, uma forte transferência de votos ao indicado.
Geraldo Alckmin, comandando o PSDB, vem reservando "munição" para enfrentar o PT na fase final. Mas pode não chegar lá.
O PT, com estratégias agressivas, não só venceu as 4 últimas eleições, como se estabeleceu como o eixo principal da política brasileira, dividida entre pró-PT e anti-PT. O anti-PT, ao longo desses 16 anos, foi assumido pelo PSDB.
Bolsonaro, com base num eleitorado contrário ao "politicamente correto", pelos problemas reais - ainda que pontuais - gerados dentro da sociedade brasileira, assumiu o anti-petismo e tomou junto ao eleitorado dessa facção, as preferências que eram do PSDB. Os anti-petistas estão vendo em Bolsonaro e não mais em Alckmin e PSDB, como quem pode vencer o PT.
As perspectivas tradicionais estão voltadas agora para a segunda vaga. Com o risco de que poderá não haver a final, com a vitória de Bolsonaro no primeiro turno. O que poderá ocorrer com a avalanche de votos nulos e brancos, uma grande parte dos eleitores de Lula.
Sem Lula e enfraquecimento do candidato do PT, Bolsonaro também poderá perder força. Mas o Alckmin poderá não ser o favorecido.
Bolsonaro, buscará o novo inimigo e esse está configurado na forma de Marina Silva. Com a qual ele tem um trunfo, mas de outro lado, uma grande fraqueza. O trunfo seria a tentativa de configuração de Marina, como PT. Para o qual tem história, mas não tem tempo de TV no primeiro turno. Terá num eventual segundo turno. A fraqueza é o seu machismo, que procura esconder, mas não consegue.
Alckmin tem vários dilemas: se mantiver a expectativa de uma disputa final com o PT, o que não só ele, como a maioria dos tucanos ainda conta, não chegará à final. Será atropelado, nas quartas de final, ou mesmo na semi-final.
Enfrentar Bolsonaro na final, é uma condição mais favorável para a vitória, mas se não o enfraquecer agora, corre o risco de perder votos a favor daquele e permitir que vença no primeiro turno.
Bolsonaro é o inimigo. Marina Silva a adversária. Se não levar em conta, tais circunstâncias, perderá para ela: na semi-final ou mesmo na final.
Lula e Bolsonaro, além de serem ambos populistas, são estratégicos - sem depender de consultoria especializada. Alckmin não é.
(cont)
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