O fracasso do projeto Brasil, um país de classe média

O Brasil teve um grande crescimento da sua classe média, com a ascensão de grande contingente de pessoas de renda baixa a patamares superiores. Ou em termos de estratos sociais, da classe D para a C. Em menor escala da classe E para a C, da C para a B e rarissimamente - em termos estatísticos - para a A. Quase que exclusivamente como rentistas bem sucedidos. 
Essa ascensão foi promovida por subsídios públicos federais e facilidades de financiamento aos bens de consumo duráveis, principalmente automóveis. 
Foi a base do projeto consumista de Lula, com grande sucesso temporário, o que propiciou a sua reeleição e à eleição de Dilma, como seu "poste". 
A não sustentação desse projeto decorreu de três fatores principais: a) o esgotamento dos recursos públicos para manter ou ampliar os subsídios sociais e aos serviços públicos; b) as limitações de crédito, a juros mais baixos que a média do mercado, associadas ao aumento da inadimplência; c) a maior dependência da produção para o mercado interno.
O maior problema foi esse último. A expansão da classe média não decorreu do crescimento de trabalho mais qualificado, associado à melhoria da produtividade e da competitividade, principalmente industrial. Foi uma expansão quantitativa, não qualitativa. Não decorreu de uma expansão da produção industrial voltada para o mercado mundial, como ocorreu com a China. Essa começou com trabalhadores de menor custo e menor qualificação. Mas na sequência, para manter ou ampliar o seu mercado, diante da concorrência, teve que melhorar o perfil dos seus trabalhadores: mais qualificados, com maior remuneração e maior capacidade de consumo. 
A isso se somam erros do Governo Dilma, com medidas artificiais que resultaram no oposto do desejado, como a tentativa frustrada de reduzir "a força" a taxa de juros, o que resultou num grande aumento das taxas, a tentativa igualmente frustrada de reduzir as tarifas da luz elétrica, a desoneração das folhas de pagamentos privados e, principalmente, a manutenção de gastos elevados da administração pública, gerando sucessivos aumentos da dívida pública. 
A perda da capacidade de aumentar gastos correntes e de ampliar os investimentos públicos, trouxe o colapso do modelo, aparentemente no primeiro semestre de 2014. Em função das eleições de outubro de 2014, o Governo Dilma, fez malabarismos, ou "pedaladas fiscais", para manter os gastos públicos e manter a sensação da continuidade do crescimento. No que foi ajudado pelo clima de entusiasmo popular com a realização da Copa do Mundo, no Brasil. Mesmo com a derrota de 7 x 1 para a Alemanha, o Governo conseguiu esticar um ambiente positivo, até outubro, conquistando a reeleição de Dilma. Logo após a reeleição, com a emergência da realidade econômica, Dilma foi obrigada, ao contrário do prometido na campanha, a iniciar medidas de ajuste fiscal, que foram aprofundadas ao longo de 2015, provocando a maior e mais duradoura crise econômica do Brasil. 
Com a crise, milhões de trabalhadores perderam seu emprego, os que foram mantidos, perderam substância real, nos seus salários, afetando o nível de consumo. Com aumento da inadimplência, decorrente dessa perda de renda dos trabalhadores, os mecanismos de financiamento ao consumidor perderam a capacidade de fomentar o consumo e revitalizar a economia. 

(cont)





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