A formação da base aliada (3)

O ideário de Bolsonaro conta com 5 pilares: dois pessoais, ambos de negação (antiprogressismo e anti-pt), um familiar, aqui caracterizado como "trumpismo", dois por incorporação (liberalismo econômico e anti crime organizado). 
Os dois últimos tem maiores condições de obtenção de apoio das forças políticas, com o que o Governo poderá aprovar as medidas propostas por Paulo Guedes e Sérgio Moro no Congresso. 
O combate à corrupção é um pilar original de Bolsonaro, mas que nunca passou de um apoio às Operações Lava-Jato. Mas ao incorporar Sérgio Moro ao seu governo, "concretou" o pilar, com propostas de estratégias e ações específicas. 


Os de caráter pessoal tem o apoio de bancadas específicas, mas essas poderão ser insuficientes para a aprovação das propostas, requerendo a adesão de outra forças. Também não está clara como será feita essa articulação.
O pilar familiar que assume claramente a ideologia de direita, com suporte no pensamento de Olavo de Carvalho, não tem consenso nem mesmo dentro do PSL, partido pelo qual Jair Bolsonaro foi eleito. Esse pensamento também é contestado pela equipe econômica e pela bancada ruralista. A equipe econômica é visceralmente contra o protecionismo e quer abrir mais a economia. Ao contrário da posição trumpista de Edubol de fechamento para a proteção da produção e do emprego no país: "O mercado brasileiro para os brasileiros".
A bancada ruralista não quer a briga com a China, a principal parceira do agronegócio brasileiro. 
As posições defendidas por Edubol terão efeitos desastrosos para a economia brasileira, a curto prazo, ainda que possam definir novos rumos para o Brasil no cenário mundial. O quanto Jair Bolsonaro estará disposto a investir nessa visão "ultradireitista" diante de eventuais perdas de apoio de aliados?
Racionalmente não faria. Mas poderá ser levado pelo voluntarismo familiar e adotar medidas irreversíveis. As perdas poderão levar a um imobilismo governamental. 
Já em relação às medidas econômicas e "moristas" poderá obter o apoio da maioria do Congresso, com a oposição dos diretamente afetados negativamente pelas propostas econômicas ou pelo combate à lavagem de dinheiro. O alvo real de Sérgio Moro, a partir do qual irá combater o crime organizado, entre esses o da corrupção política.
Em síntese, Jair Bolsonaro poderá formar uma base aliada, sob égide programática, em torno de dois dos seus principais pilares (ainda que não originais do bolsonarismo). Terá uma base insuficiente para aprovação das medidas específicas do anti-progressismo, requerendo negociação entre bancadas temáticas. Provavelmente terá que incluir na negociação, cargos de terceiro e quarto escalão. 
Já em relação à ideologia "trumpista", haverá resistência ideológica maior, não podendo contar com o apoio da bancada ruralista e tendo a bancada de "mercado" dividida. Para a aprovação das medidas legislativas necessárias terá que apelar para o "medo do retorno do PT" e para as negociações fisiológicas.  
(cont)




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