A formação da base aliada (2)

O núcleo principal do pensamento pessoal de Jair Bolsonaro é o conservadorismo nos costumes, o anti-petismo e o saudosismo com o regime militar de 64/85. Esse pensamento está registrado nas suas manifestações pessoais, ao longo dos seus 27 anos de deputado federal, integrante do baixo clero da Câmara Federal.
Assumindo a candidatura à Presidência da República incorporou o pensamento econômico liberal, como agregado terceirizado de campanha. Ainda não houve uma adesão pessoal do pensamento, até por dificuldades de compreensão, mas a incorporação programática institucional. 
Por oportunismo eleitoral, catalizou a insatisfação popular com os políticos tradicionais, caracterizados como corruptos e voltados apenas para os seus interesses pessoais. Apesar de ser um político tradicional, com sete mandatos sucessivos na Câmara dos Deputados, por nunca ter aparecido nas denúncias de corrupção, assim como por não ter sido partícipe visível de negociações por cargos e verbas públicas assumiu ser um novo, diverso e oposto da política tradicional. O que configura dois pensamentos: o da anticorrupção e  de uma articulação política sem o "troca-troca". 
A sua ascensão político-eleitoral abriu espaço para a emergência de uma liderança do pensamento de direita, formulada por Olavo de Carvalho, assumida por Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito Jair Bolsonaro. Esse pensamento tem duas vertentes principais: a formação educacional-cultural e a posição do Brasil no contexto mundial.
Na primeira, a visão é de substituição da doutrinação da esquerda, tomada como progressista, pelo retorno à educação tradicional, conservadora. A chamada "escola sem partido" é a reversão às visões conservadoras e uma formação educacional sem ativismo político declarado.
Na segunda vertente, há dois pensamentos básicos que se conjugam: uma é o anti-esquerdismo na América Latina e outra o "trumpismo".
O esquerdismo era caracterizado como "bolivarismo" ao qual Eduardo Bolsonaro ("Edubol") tem a pretensão de substituir pelo "bolsoanarismo", na América Latina. A sua luta, obsessiva, é contra um fantasma chamado "Foro Sao Paolo", cuja força real é nula, mas transformado em grande ameaça, para dar margem à mobilização dos oponentes. E gerar o Foro Foz do Iguasu.
O trupismo é um alinhamento incondicional ao pensamento antiglobalista e a favor das soberanias nacionais.
Do ponto de vista objetivo isso significa: a) ser contra a interferência de organismos internacionais na soberania nacional, sejam as de natureza econômica, como FMI, Banco Mundial, OMC, etc como as ambientais e de defesa dos direitos humanos, encastelados em unidades da ONU; b) ser a favor da autonomia das decisões nacionais, como a de Israel em instalar a sua capital nacional em Jerusalém; c) ser protecionista em defesa dos recursos naturais e mercado nacionais; d) ficar a favor de Trump na guerra contra os seus "inimigos", principalmente a China, Irã e Coreia do Norte. 

Para a formação de uma base aliada ideológica Bolsonaro precisa da adesão ou a negociação do seu ideário com outras forças políticas.
Para manter o apoio às suas propostas no Congresso Jair Bolsonaro está apelando para o "seu eu não der certo o PT volta". 
Esse apelo não parece ser suficiente para formar uma base aliada sólida. As demais forças favoráveis a ele mantem-se numa posição de neutralidade geral. Os apoios seriam eventuais e pontuais. 
Bolsonaro precisa conseguir transformar do "se eu não der certo", para "se nós não dermos certo". 
Onix Lorenzoni não parece ser a pessoa certa para essa articulação ideológica-programática. O General Santa Cruz é ainda uma incógnita. 
Sem a formação de uma base aliada ideológica-programática, para a aprovação das suas propostas, principalmente as de natureza econômica, terá que apelar para o  "troca-troca", ainda que sob nova roupagem.
Se percebido pelos seus eleitores, será considerada uma grave traição.

(cont)

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