Jair Bolsonaro iniciou a sua carreira política baseada na corporação militar de base (soldados, cabos e sargentos) e de oficiais de menor patente (cadetes, tenentes, capitães e majores), que lhe assegurou uma eleição inicial e seis reeleições a deputado federal pelo Rio de Janeiro. Nas últimas eleições parlamentar agregou o apoio dos evangélicos o que o tornou o deputado federal mais votado, em 2014, naquele Estado, com mais de 400 mil votos.
Tradicional opositor das personagens da esquerda, sempre com discursos ofensivos pessoais, assumiu uma forte posição contra o políticamente correto, ao progressismo e ativistas de minorias. O levou à maior aproximação com os evangélicos, incorporando a sua pauta conservadora nos costumes e ao projeto de fortalecimento dos judeus na reconquista total de Jerusalém, condição essencial para o Apocalipse.
Este nunca esteve em primeiro plano,nos meios de comunicação dos evangélicos para o conjunto da sociedade, ficando restrito aos seus meios. Mas uma das contrapartidas exigidas por lideranças evangélicas, principalmente Silas Malafia, o controlador da maior das denominações evangélicas, para a adesão à candidatura presidencial, era o apoio do Governo Brasileiro à reivindicação de Israel em ter Jerusalém como sua capital, reconhecida mundialmente. Essa proposta ganhou corpo, quando Donald Trump fez esse reconhecimento e transferiu a sua embaixada em Israel para Jerusalém.
Essa "tomada" de Jerusalém seria a condição para a chegada da apocalipse.
Por outro lado, os colegas militares de Jair Bolsonaro, tendo-se mantido na carreira progrediram. Grande parte já tinham alcançado, em 2017/18 a patente de general, alguns já reformados, depois de uma intensa carreira em ações de campo e de inteligência. Na falta de guerras no país, foram comandar missões internacionais de paz, com ações bélicas no Haiti e Angola.
Escolheu como companheiro de chapa, o General Hamilton Mourão, seu ex-colega paraquedista, com um ideário conservador, mas sem o apoio irrestrito a Israel e às ideologias ultra-direitistas. A maior parte da comunidade judaica, não via com bons olhos a candidatura Bolsonaro, o que fazia com que a transferência da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, acompanhando os EUA, não fosse percebida, tampouco objeto de debates entre os candidatos.
O apoio da comunidade judaica, assim como de vários outros segmentos da sociedade, só passou a ocorrer, quando Jair Bolsonaro foi percebido como a melhora alternativa para impedir o retorno do PT ao poder, depois de ter sido apeado com o impeachment de Dilma Rousseff.
Por isso não foi item da pauta do grupo militar para dar suporte à candidatura do ex-capitão.
O tema, vindo à tona, após a eleição de Jair Bolsonaro, ainda na fase de transição, levantou oposição do agronegócio, em função dos eventuais prejuízos com a exportação de carnes aos árabes, o principal mercado externo do produto, assim como de meios diplomáticos e militares. O reflexo de eventuais perdas nas exportações coloca a área econômica também contra a medida.
O principal porta-voz da oposição à proposta de Bolsonaro em transferir a Embaixada Brasileira em Israel para Jerusalém, foi o Vice-Presidente General Mourão, contrariando as lideranças evangélicas, com as quais Bolsonaro teria se comprometido a adotar, tão logo assumisse o Governo.
Bolsonaro, seguindo orientação de Olavo de Carvalho, mediada pelo seu filho Eduardo, escolhe um Ministro de Relações Exteriores, favorável à medida. Mas não teve condições para implantar, pela reação da ala militar, da área econômica e do agronegócio.
Pouco antes da sua posse recebeu o Primeiro Ministro de Israel ao qual prometeu a mudança, mas não se comprometeu com a data.
A divergência de posições em relação ao tema, gerou o principal confronto programático dentro do Governo, trazendo um grande dilema ao Presidente Bolsonaro.
Ele precisa dos votos da bancada evangélica que somaria cerca de 100 deputados federais, para aprovar a Reforma da Previdência. Para isso precisaria efetivar a instalação da Embaixada Brasileira em Jerusalém.
Mas se tentar efetivar, perde o apoio da ala militar que pode pressioná-lo para renunciar: "pede para sair"!
No cenário "lua de mel prolongada" Jair Bolsonaro negocia com a ala militar, a transferência, mas só depois de 2020, de forma que o agronegócio tenha tempo para diversificar mercados, assim como estabelecer negociações comerciais, com países árabes, sem contaminação política e ideológica. A ala militar não gosta, mas se conforma e aceita as salvaguardas negociadas. Mantém o apoio popular da comunidade evangélica, considerado pelos políticos, como um importante ativo eleitoral.
No cenário "relacionamento instável", a ala militar fecha questão contra a transferência e obriga Jair Bolsonaro a uma intensa negociação com a bancada evangélica, para quebrar a hegemonia, dentro daquela, de condicionar o seu voto na Reforma Previdenciária, à transferência da Embaixada Brasileira para Jerusalém. Será uma negociação complexa e demorada, atrasando a aprovação da Reforma da Previdência, mas que acabaria ocorrendo ainda em 2019.
Jair Bolsonaro chega a marcar uma data para a transferência, mas depois volta atrás e adia "sine die".
No terceiro cenário, prevalece a opinião da ala militar, que "dá um prensa" na bancada evangélica, retirando a transferência da Embaixada da pauta política e de condicionante de qualquer negociação de votos na reforma da Previdência. Grande parte da bancada aceita, vota a favor da reforma, mesmo sem a contrapartida.
Porém os "apocalipticos" sentir-se-ão traídos e farão uso do púlpito para manifestar esse sentimento, afetando o apoio popular de Jair Bolsonaro, junto à comunidade evangélica. A principal oposição será da Assembléia de Deus Vitória em Cristo, liderada por Silas Malafaia, que tem como representante direto na bancada, o deputado federal e apóstolo Sóstenes Cavalcanti.
Terão o apoio do deputado federal e filho do Presidente, Eduardo Bolsonaro, assim como do seu "protegido" Ernesto Araujo, indicado por aquele para o Ministério das Relações Exteriores.
Juntar-se-ão com os "olavistas" radicais, na batalha contra quem consideram ser o seu maior inimigo: o General Mourão.
Essa disputa perturbará o Governo Bolsonaro ao longo de 2019, com uma ala barulhenta, através das redes sociais, voltada para a desconstrução da imagem dos oponentes. A outra silenciosa, em conversas sussurradas, mas eficaz nas suas estratégias para derrotar o oponente. Essa é de paciência esperando que o adversário cometa um erro, titubeie. Não é uma luta para ser ganha por pontos, depois de todos os rounds. É para ser por nocaute, mas não no primeiro assalto.
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