Jair Bolsonaro é o patriarca do clã, com prioridade pessoal absoluta na sua defesa. Os filhos são as pessoas em quem mais confia, mais ouve e mais defende.
Quando se dispôs a se candidatar a Presidente numa aventura sem crédito de terceiros, só contava com o apoio da família. Com a divulgação da candidatura, pela rede social, foi ganhando adeptos e colaboradores voluntários, que comungavam das mesmas idéias, assim como daqueles que conseguiram a adesão de Jair Bolsonaro às suas idéias, por estarem dentro da mesma visão de mundo. A principal dessas novas amizades foi Paulo Guedes. Mas no campo da campanha a principal adesão foi de Gustavo Bebianno, com a sua capacidade de organização partidária, para dar suporte legal à campanha.
Tendo conquistado a confiança de Jair Bolsonaro, Bebianno tornou-se a figura chave na negociação com os partidos que poderiam dar a legenda para a candidatura Bolsonaro. Não era uma escolha programática, ainda que dentro de um leque de pequenos partidos não comprometidos ideologicamente com a esquerda. Eram "partidos de aluguel". Mas a exigência de Bolsonaro foi o arrendamento total ("porteira fechada") do partido durante a campanha, com devolução do controle aos proprietários (oops, dirigentes) originais. A pessoa que Bolsonaro tinha para as negociações e reorganização do partido era Gustavo Bebianno. Dois ou mais "donos de partidos" recusaram a condição, antes de Bolsonaro/Bebianno chegarem ao PSL. Luciano Bivar, fundador do PSL (Partido Social Liberal), o único deputado federal do partido na Câmara dos Deputados, graças a uma suplência dentro de uma ampla coligação em 2014, aceitou. Deu a legenda a Jair Bolsonaro, entregou todo o partido àquele, afastou-se da Presidência do partido, assumida, temporariamente, por Gustavo Bebianno.
Este fez um bom trabalho de organização partidária, criando ou reforçando os diretórios, atraindo candidatos que se dispusessem a entrar no "barquinho" de Jair Bolsonaro. Alguns eram novatos, dos movimentos "contra tudo que está ai", mas a maioria era de "rejeitados" pelos partidos e pelas urnas. Candidatos a cargos anteriores, tiveram parcos votos e não conseguiram, ainda em 2017, uma legenda que os aceitasse. O PSL apareceu como o "ultimo barco". O PSL, também se tornou a principal embarcação para os candidatos de origem militar ou policial, animados com a candidatura do ex-capitão Jair Bolsonaro.
A conjugação de fatores favoráveis, sustentadas pelo trabalho de organização partidária, comandada centralizadamente por Gustavo Bebianno, não só deu suporte à eleição presidencial de Jair Bolsonaro, como o "17" levou à eleição de 52 deputados federais, de diversos Estados, 4 senadores, 3 governadores de Estado e uma dezena de deputados federais.
Com a onda Bolsonaro e a organização partidária de Bebianno, o PSL passou de um nanico para se tornar um dos maiores partidos dentro do Congresso, superando o PSDB.
Depois das eleições, Bolsonaro e Bebianno devolveram o partido a Luciano Bivar, que havia conseguido ser reeleito, em Pernambuco, com Bebianno buscando-se manter junto a Jair Bolsonaro, então Presidente eleito, no Palácio do Planalto.
Luciano Bivar é formalmente o Presidente do PSL, mas não tem poder efetivo sobre as bancadas, eleitas majoritariamente no sul-sudeste, centro-oeste e norte. Na prática, o partido enfrenta uma ampla disputa pela liderança e controle da direção.
O desgaste pessoal de Bebianno junto a Jair Bolsonaro, envenenado pelo filho Carlos, decorreu da reação intempestiva (típico de Jair Bolsonaro) às declarações de Bebianno de que havia conversado com o Presidente, desmentido por Carlos, que o chamou pelo twitter de mentiroso. Na era da rede social, Bebianno mandou 3 mensagens a Bolsonaro e as considerou como "conversa com o Presidente". Sem medir as consequências, mandou recado público a Bebianno para que se demitisse. Ele recusou pelas mesmas razões do Presidente, mas com versões opostas.
O problema dos "laranjas" poderia respingar em Bolsonaro. Ele achou que Bebianno se demitindo, afastaria o problema dele e seria "esquecido" pela mídia. Bebianno, ao contrário, achava que a sua saída, tiraria um anteparo e os problemas da campanha, mais do que respingar, encharcariam o Presidente eleito. Além disso, não quer sair como vilão da história, visando uma solução honrosa.
Há uma solução honrosa, não consensual, tampouco sem sequelas: Bebianno, sai do Governo e reassume a Presidência do PSL, com a sua confirmação definitiva.
O formato seria um apelo da maioria da bancada do PSL pela solução, e Bebianno passaria a liderar efetivamente a bancada para a aprovação da Reforma da Previdência, em acordo com Paulo Guedes e Rodrigo Maia.
Seria uma bela acomodação política, "livrando a cara" tanto de Bolsonaro, como de Bebianno.
O problema está na filhocracia.
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