Os futuros da esquerda

A análise aqui empreendida é uma tentativa de entender o eleitorado de esquerda, ou mais especificamente o eleitor que vota num partido ou candidato de esquerda.
A partir da análise dos resultados da eleição de deputados federais de esquerda, no Rio de Janeiro, nas duas últimas eleições parlamentares (2010 e 2014), podemos encontrar alguns "achados" para formular cenários do futuro da esquerda no Brasil.
Essa análise envolve uma distinção de quatro dimensões da esquerda:

  • o pensamento de esquerda, que está nos livros, nos artigos, nas discussões acadêmicas entre intelectuais de esquerda, assim como dos artigos em jornais ou debates pela televisão, caracterizando o que chamariamos de opinião publicada de esquerda;
  • por outro lado teriamos a opinião não publicada, que tem menos informação, são menos influenciada pelos meios de comunicação, a menos durante as campanhas eleitorais e que por visões pessoais, votam nos candidatos de esquerda. Seja porque foram ou vêem a perspectiva de serem beneficiados pelas políticas e ações dos políticos de esquerda ou porque o discurso dos intelectuais de esquerda coincidem com a sua visão de mundo. São os principais eleitores dos candidatos de esquerda.
  • a terceira e fundamental dimensão da esquerda está no seu quadro de militantes ou ativistas, que embora não sejam os formuladores da ideologia ou do pensamento de esquerda, são que acreditam nela e passam a ser os seus principais difusores.
  • a quarta é dos partidos políticos de esquerda e de seus líderes que recebem os votos dos eleitores adeptos ou simpatizantes.


O pensamento de esquerda é sempre objeto de acaloradas discussões entre as diversas interpretações, mas atualmente com um ponto comum: o combate à desigualdade social e econômica, em todo o mundo. As divergências internas estão no grau de responsabilidade entre os diversos agentes e nas formas de reduzir a desigualdade. Mas outro ponto comum é a responsabilização do sistema capitalista e dos grandes capitalistas pela desigualdade. E a percepção de que esse sistema gera conceitos e instrumentos para manutenção ou até agravamento da desigualdade, para manter os seus ganhos e acumulação. Há uma percepção entre os pensadores de esquerda, que seus discursos tem eco cada vez menor junto à sociedade, junto à população, perdendo espaço para os pensamentos de "direita". 
O pensamento de esquerda se considera progressista e critica os oponentes, como conservadores ou defensores do atraso. Porém esse discurso não é claro para a população em geral.
A sociedade percebe as contradições quando a esquerda se  diz progressista e modernizante e se opõe à globalização, que é a grande transformação moderna da economia mundial. Defende o nacionalismo e o protecionismo, para o qual tem as suas lógicas e razões. Mas não pode caracterizar essa posição como progressista. 
Outra contradição está na defesa da democracia, como posição progressista, e aceitar regimes ditatoriais porque são de esquerda, como Cuba, Venezuela e agora a Nicarágua. 
O pensamento estrutural da esquerda não conseguiu superar alguma das suas contradições básicas. E com isso estaria perdendo adeptos.

O pensamento de esquerda é traduzido pelos partidos e políticos de esquerda, em posições específicas, diante das circunstâncias. De forma mais aguda nesta fase de campanhas eleitorais.
A visão política da esquerda, nas circunstâncias atuais se atém a 3 pontos cruciais: a oposição ao Governo Temer, a condenação da conspiração judicial para impedir Lula de concorrer à Presidência da República e a reconquista do poder.

(cont)




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