O eleitorado brasileiro não se divide nos usuais blocos considerados pelos analistas, como esquerda, direita e centro.
A divisão real, neste ano de 2018, a dois meses de eleições gerais, é entre os eleitores da lula-esquerda, dos despachantes, dos evangélicos, dos insatisfeitos e dos indiferentes.
Lula é ainda o grande símbolo da esquerda, mas os seus eleitores irão se dividir entre o "fantasma Lula", que poderá estar com a foto na urna, mas não será o candidato de fato, o seu substituto, Fernando Haddad, o pretendente a sucessor, Ciro Gomes. Ainda que com uma pequena participação, o radical Guilherme Boulos irá tirar preciosos votos dos candidatos melhor posicionados do campo da esquerda, que poderá levar todos eles a ficarem fora do segundo turno.
A grande disputa pelo eleitorado lula-esquerda se dará no Nordeste, com o PT insistindo que o candidato é Lula, mas se não conseguir colocar a foto dele na urna, tentará convencer esse eleitorado que Haddad é Lula. A principal concorrência será de Ciro Gomes, tentando mostrar que o representante do lulismo é ele e não Haddad.
Ainda no Nordeste há a força do eleitorado dos despachantes dos interesses coletivos das comunidades locais. São candidatos a deputados estaduais e federais, com o apoio das forças eleitorais locais. Terão grande influência nas eleições para Governador, Senador e Presidente, através da "colinha" para o eleitor.
Esse eleitorado não se limita ao Nordeste. Em todo o Brasil, a maioria dos deputados, assim como grande parte dos Senadores são eleitos segundo essa perspectiva de intermediários da ação do Estado nos seus territórios.
Não são ideológicos, nem programáticos. São pragmáticos e, conjunto, formam o "Centrão", que se torna o "Blocão", com a participação do pragmático MDB. Esse tem uma vantagem na "colinha" que será distribuida pelas lideranças locais: será 15 de ponta a ponta. Será menos confuso para o eleitor "de poucas letras".
As lideranças dos despachantes foram cooptados por Geraldo Alckmin, o que acresceu o seu tempo de rádio e televisão, pode contar com parte da mobilização das lideranças locais - mas não todas. Em contrapartida perde parte do eleitorado que não aceita os políticos pragmáticos, com atuação "fisiológica".
Bolsonaro, tenta atrair esse eleitorado contra os políticos atuais. Embora ele não seja novo, vende a idéia e a imagem de que não faz parte da corja. É um político "outsider". Para o povão, e também para parte da elite, mostra-se como um político diferente que irá acabar com os "fisiológicos". Pode não ser suficiente para chegar ao segundo turno, precisando somar esse eleitorado à sua principal base que o apoia pelas propostas de solução dos problemas pela força e pela oposição ao "politicamente correto".
O problema de Bolsonaro são os seus concorrentes que atuam no mesmo campo: os evangélicos que se dividem e agora contam com um candidato mais representativo: Cabo Daciolo. Este não terá votos suficientes para chegar ao segundo turno, mas pode tirar preciosos votos de Bolsonaro. Outro grande concorrente é o voto nulo ou branco. Os insatisfeitos com os políticos atuais, podem votar em Bolsonaro, percebido como a única alterativa viável, fora dos políticos tradicionais, em Daciolo, o Enéas da vez ou invalidar o seu voto (branco ou nulo).
A maior parte do eleitorado ainda é formada pelos indecisos e pelos indiferentes. Os indiferentes tendem a nem ir votar. Os indecisos serão o grande alvos de todos os candidatos. A tendência dos indecisos é votar no "cavalo vencedor". Irão votar naquele que acham que tem maior chance de vencer.
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