Políticas industriais (2) - carnes e milho

Um segundo caso a ser considerado é dos grãos, principalmente a soja e o milho. 
O milho é o principal insumo para a produção de rações destinadas à alimentação animal. É o principal elemento determinador da competitividade mundial da produção de aves e suinos. Tem também importância, embora menor, na produção da carne bovina. 
A sua destinação para consumo humano é pequena e, no Brasil, ainda é pouco usado para geração de etanol, o que ocorre, em larga escala, nos EUA. 
O elevado nível de produção, associado à produtividade faz com que o milho seja um importante fator de competitividade das carnes brasileiras de aves e suinos. Melhorias genéticas associadas aos sistemas de produção, com rotação com o cultivo da soja, utilizando o plantio direto reduziram substancialmente o custo de produção dentro das fazendas. 
O custo colocado nas unidades produtoras de farelo, é acrescido dos custos logísticos, o que pode anular a vantagem competitiva gerada no campo. 
A produção de animais para abate, segue um processo industrial, com elevado controle sobre o balanço alimentar: cada kg de ração deve corresponder a igual ganho de carnes do animal. 
A produção de carnes de aves e suinos, contando com a vantagem de matéria prima barata, para a produção de rações, tem competitividade para enfrentar os concorrentes no mercado mundial, agregando valor àquela matéria prima. 
O fluxo produtivo agrega valor, mas também custos, sendo o principal o logístico.
O custo logístico pesa relativamente mais sobre o transporte de produtos de baixo valor específico, do que sobre produtos de maior valor. Isso porque os fretes são calculados por peso e distância. 
Isso significaria que um quilo de carne de frango, produzido no Brasil, próximo à matéria prima, e entregue num receptor no Exterior, provavelmente é mais barato que de um produtor local, no exterior, próximo ao receptor para comercialização interna, importando o milho em grão do Brasil. 

Portanto não se trata de definir politicas segmentadas, uma para o milho, outra para as rações e uma terceira para a produção de carnes de aves e suinos. 

O objetivo deve ser o de exportar as carnes e não as rações ou o milho em grão. Mas para isso é preciso de políticas públicas integradas para as três fases, para garantir a manutenção da competitividade gerada na produção agrícola. 

O conceito de agronegócio já incorpora essa visão de cadeia produtiva. 

O papel do Estado para fomentar essa cadeia produtiva pode ser reduzido a três: prover - direta ou indiretamente - a infraestrutura; assumir - efetivamente - o comando das ações diplomáticas para o estabelecimento de acordos comerciais e garantir a sanidade dos alimentos ao longo de toda cadeia produtiva.
O Estado Brasileiro já teve importância essencial em dois outros pontos, atualmente já assumidos pelo setor privado: o crédito rural barato e a pesquisa.
Com a redução geral dos juros diminuiu a necessidade de grandes subsidios governamentais e a maior parte das necessidades de crédito pode ser suprido pelos bancos e outras instituições privadas. As inovações, com a Embrapa e outros órgãos governamentais de pesquisa também vem sendo assumidas pelas start-ups e pela unidades de pesquisa e desenvolvimento das empresas privadas. 

O novo Governo terá, de um lado, a missão de desenvolver o que está insuficiente que é a sua ação diplomática para os acordos comerciais, reformular e reforçar as ações de garantia da sanidade dos produtos, atualmente contaminada pelo aparelhamento político e pela corrupção. Terá que ampliar os recursos orçamentários para as devidas áreas e os esforços do corpo público. 
De outro lado terá que diminuir e selecionar a sua atuação no crédito rural e na pesquisa agropecuária, confrontando os lobbies dos ruralistas e dos servidores públicos. 

(cont)


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