Presidencialismo de confronto

Embora eleitos pelos mesmos eleitores, as eleições parlamentares, segundo uma base estadual, sistema proporcional e as eleições presidenciais, segundo uma base nacional e sistema majoritário, tem uma conformação política muito diferente. 
Ao longo de todos os anos do regime democrático, nenhum Presidente da República foi eleito junto com uma base aliada majoritária e estável.
Isso fez e faz com que o Presidente da República tenha que articular com as lideranças partidárias, ou diretamente com os parlamentares a formação de uma base aliada, para a aprovação das suas propostas. Também manter-se no poder, porque embora o sistema seja formalmente presidencialista, o parlamento tem força para afastar o Presidente, como o fez por duas vezes, desde a redemocratização.
Tancredo Neves "inventou" o presidencialismo de coalizão, loteando a Máquina Federal, com os partidos, para formar a base aliada no Congresso. Morreu antes de assumir e o modelo foi implantado por José Sarney, com uma alta dose de "fisiologismo".
Contra esse modelo Fernando Collor foi eleito e não aceitou fazer acordos com o Congresso, que considerava espúrio. Estabeleceu o presidencialismo de confronto, o que acabou resultado na sua derrota e sua saída da Presidência.
Fernando Henrique Cardoso retomou o presidencialismo de coalizão, contando com um aliado desde as eleições (o então PFL) e compondo com a bancada majoritária (PMDB), sempre disposto a ser o partido do Governo. Romero Jucá teria sido o principal símbolo desse presidencialismo de coalizão.
Com a eleição de Lula, o PT (sob comando de José Dirceu) não quis fazer o loteamento ministerial, ou um "loteamento porteira fechada" e estabeleceu o presidencialismo de cooptação, com a "compra" dos apoios. Denunciado pelos aliados, o modelo caracterizado como "mensalão" foi torpedeado pelo STF. Embora tenha sacrificado o alto escalão do petismo, Lula se manteve e recompôs o partido e a base no Congresso, com um misto de presidencialismo de coalizão com o de cooptação. A principal moeda de troca foram os cargos e o orçamento da Petrobras. Esse modelo também foi desmontado, com as investigações e condenações da Operação Lava Jato. 
Dilma Rousseff que iniciou o seu primeiro mandato dentro desse modelo híbrido, à medida que esse foi sendo enfraquecido, pelo avanço das investigações, voltou ao Presidencialismo de confronto. 
Reeleita, diante das derrotas no confronto com o Congresso, então liderado pelo seu principal oponente, Eduardo Cunha, tentou voltar ao presidencialismo de coalização, mas já era tarde. A mobilização popular dificultou a formação de novos acordos e ela acabou sendo destituida. 
Michel Temer restabeleceu plenamente o Presidencialismo de coalizão, formando uma base aliada que lhe permitiu alguns avanços na política econômica, mas depois teve que usar todo seu armamento e munições para sobrevir na Presidência.
Jair Bolsonaro, um obscuro deputado, integrante do baixo clero e sempre rejeitado pelas cúpulas partidária nos acordo de coalizão, seja por ressentimento pessoal, como pela percepção da aceitação pelo eleitorado, investiu contra aquele modelo prometendo não adotá-lo e trabalhar para a sua extinção.
Eleito, não fez a "troca-troca" com os partidos para a organização da sua equipe de governo, e foi progressivamente criando e ampliando o confronto com o Congresso, acusando-o de querer restabelecer a "velha política". 
No momento, final de maio de 2019, apoiou manifestação contra o Congresso e tenta uma mobilização popular contra aquele, acusando-o de impedir a governança do país. 
Nos dois casos anteriores, o confronto, com a mobilização popular resultarem em efeito contrários ao desejado. O povo foi às ruas para pedir "Fora Collor", "Fora Dilma".
O resultado para Jair Bolsonaro poderá ser o mesmo.

(cont)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...