Reindustrialização

A reindustrialização brasileira não pode ser vista como mera revitalização da estrutura industrial vigente, tampouco como recuperação da participação da indústria de transformação dentro do PIB. 
A estrutura industrial vigente foi montada para atender ao mercado interno brasileiro, um dos maiores mercados domésticos mundial. 
Mas o que era uma grande escala quando implantada, tornou-se pequena diante da globalização, em que as empresas e os paises trabalham com o mercado mundial. 
Voltado para dentro, o Brasil desprezou o resto do mercado mundial e não consegue reanimar a sua indústria e movimentar o círculo virtuoso interno que promoveu o crescimento da economia brasileira nos últimos 50 anos.
Por outro lado, submetido à ampla concorrência as indústrias inseridas na globalização buscaram na inovação e nos ganhos de produtividade, as condições competitivas para sobreviverem ou crescerem. 
As indústrias brasileiras, protegidas pelas barreiras tarifárias e não tarifárias, se retardaram na busca da competitividade e muitas não "aguentaram" a concorrência externa com a semi-abertura promovida pelo Estado Brasileiro.
Como não há mais condições de retomar o protecionismo, sem afetar gravemente as condições de consumo da população brasileira, que ficaria impedida de acompanhar a evolução tecnológica dos produtos, só há uma saída: ampliação do mercado, buscando o mercado mundial. É uma situação muito diferente dos EUA, em que as inovações ocorrem naquele país mas a fabricação migrou para outros países. O objetivo da política norte-americana é internalizar as suas inovações, produzindo os bens dentro do seu território, ainda que mais caro. O Brasil não dispõe das mesmas condições.
A indústria brasileira tem que buscar o mercado externo. Para isso a condição fundamental é ter competitividade mundial de seus produtos. Quem não tiver tais condições estará fadada a fechar as portas, sair do mercado ou se limitar a um mercado local, protegido por barreiras logísticas ou culturais.
Não caracterizará uma reindustrialização, mas apenas uma sobrevivência.
Para uma efetiva reindustrialização é preciso selecionar as empresas com maior capacidade ou potencial de competitividade mundial e apoiá-las.
O conceito pode ser claro, mas a sua implantação envolve diversos e complexas decisões e ações não muito consensuadas.
Até o acordo com a Boeing a EMBRAER era consenso nacional como o modelo de empresa brasileira competitiva mundialmente. Mas poucos se deram conta de que a sua competitividade era garantida pela compra e uso de partes em todo o mundo. A prioridade da EMBRAER não era o conteúdo nacional, mas a competitividade. Os poucos fornecedores nacionais que perderam encomendas ou não chegaram a ganhar encomendas da EMBRAER reclamaram mas pouco foram ouvidos. 
As indústrias instaladas no Brasil, para serem mundialmente competitivas precisarão ter liberdade de comprar o que for mais econômico (o que não quer dizer, necessariamente, de menor preço) em qualquer lugar do mundo. 
Significa que não haverá uma reindustrialização generalizada, mas muitas empresas e setores de atividades fenecerão. E para que tenha uma indústria competitiva o Brasil terá que descartar essas empresas não competitivas. Como se joga fora uma fruta podre para não contaminar as demais dentro da cesta. Um conceito pouco aceito, buscando-se preservar os ativos e os empregos. 
A história empresarial mostra o insucesso de muitas empresas que "ficaram com dó da parte fraca" e acabaram sucumbindo inteiramente.
Essa cultura de leniência é um dos primeiros obstáculos para um novo quadro de concorrência entre as empresas.
Essa leniência dá suporte a comportamentos acomodados de empresários que não se dispõe a enfrentar o mercado externo e reclamam pelo apoio governamental, para esse enfrentamento. Apresentam milhares de razões para não sairem do mercado interno. Vão acabar quebrando, mas retardam a reindustrialização, enquanto permanecem em sobre-vida.
Um governo leniente não conseguirá promover a reindustrialização.

Um problema maior está em como e quem irá selecionar as empresas com maior potencial de competitividade mundial e com que instrumentos apoiar.

Uma política que deu certo em outros países, caracterizada como dos "campeões nacionais" no Brasil foi infectada pelo vírus da corrupção e acabou sendo desmontada e demonizada. Não há condições de recuperar esse instrumento.

Uma alternativa é a disponibilidade de crédito, mas sem subsídios, principalmente para investimentos em ativos e em inovação. Não será um crédito direcionado, mas disponibilizado. As empresas que vislumbrarem oportunidades no mercado mundial e se dispuserem a aproveitá-las poderão ter acesso aos créditos, mas sem preferências individuais ou setoriais.

As condições macroeconômicas deverão se centrar em taxa de juros baixos, inferiores aos rendimentos usuais dos investimentos em ativos industriais e taxa de câmbio flutuante, mas livres de interferências não econômicas ou de notórias especulações, contra a moeda nacional.

(cont)










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