Confesso que não atentei devidamente para o movimento social que veio se formando desde maio de 2013 e culmina (por enquanto) nas eleições parlamentares de 2018. A presidencial ainda tem o segundo turno que pode ampliar ou já refluir.
Sempre discordei da interpretação generalizada de que a mobilização das avenidas foi de esquerda e contra o aumento das passagens do transporte coletivo.
A reação ao aumento, promovido por um pequeno grupo de jovens, foi apenas o estopim de uma reação mais ampla - principalmente da classe média - contra o conjunto dos políticos quase que inteiramente envolvido com a corrupção.
Esse conjunto reagiu às manifestações, com medidas paliativas, e conseguiu abafar o alastramento, naquele momento. Conteve incubado dentro da "sociedade organizada" o vírus da antipolítica.
As manifestações voltaram com o apoio ao impeachment de Dilma, enfrentando manifestações contrárias, igualmente da classe média.
O impeachment de Dilma, novamente arrefeceu a mobilização, transferindo as ações efetivas para a eleição geral de 2018. A expectativa gerada foi de promover uma ampla renovação política, através do voto.
Foram formadas várias campanhas e organizações pro renovação, segundo visões "centristas", com as tentativas de lançamento de candidatos presidenciais novatos, não comprometidos com os grupos políticos dominantes. Buscou-se também a preparação de candidatos novatos aos parlamento, dentro da perspectiva de que os eleitores queriam "novas caras" que prometessem a renovação, independentemente dos programas.
Embora se percebesse uma movimentação do "espectro politico da direita", não se deu a devida atenção, desprezando o seu potencial.
A candidatura "Bolsonaro" era vista como uma "piada" que iria "derreter", quando se iniciasse formalmente a campanha eleitoral.
O que não se percebeu foi a evolução de um movimento bolsonarista, salvacionista, de caráter popular, contrapondo-se ao sistema político vigente.
Cheguei a perceber e coloquei algumas das observações neste blog, mas não dei a devida atenção, achando que a eleição presidencial não iria afetar ou contaminar as eleições parlamentares. Isso porque enquanto as eleições presidenciais são nacionais, as parlamentares são estaduais.
Com base em números das eleições passadas, a visão era de que, qualquer que fosse eleito Presidente da República, seria refém do Congresso: de um colegiado fisiológico em que tudo é negociado, sem bases programáticas ou ideológicas.
Ledo engano. O movimento iniciado pelo ex-capitão foi tomando corpo dentro do "imaginário da classe média", alimentado pelas redes sociais, e tornou-se uma grande onda "popular".
O grande mote foi o "antipetismo", mas deu margem a uma reação de outro segmento da esquerda, que ampliou a sua base parlamentar, formando a principal base de um grupo anti-bolsonaro. É liderado por mulheres ligados ao PSOL, das quais apenas uma é veterana: Luiza Erundina. Quem desponta nesse movimento é Sâmia Bonfim.
Há uma renovação política nas duas pontas: a da direita com o "bolsonarismo" e a da esquerda com o #Ele não.
Quem não conseguiu renovar foi o centro.
(cont)
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