O primeiro mês de Governo é ainda pouco para caracterizar as suas trajetórias, tendo como balizamento os cenários previamente desenhados.
O cenário lua de mel prolongado parece estar comprometido pelas circunstâncias e pelas estratégias definidas para enfrentá-las.
Ainda na cerimônia de posse, o Presidente foi favorecido por um ato da sua esposa, fazendo um simpático discurso em Libras, ampliando o apoio popular. Ele manteve, nos dois discursos, uma postura de candidato, com discursos de palanque voltado para os seus eleitores e adeptos. As pesquisas de opinião apontaram expectativas e apoios elevados.
Não houve, ao longo dos primeiros 25 dias, significativas medidas governamentais, seja por ação efetiva, ou por edição de decretos ou medidas provisórias. Como o Congresso ainda está em recesso e não houve convocação extraordinária, não há ainda reformas constitucionais ou novas leis.
Dois atos importantes foram editados: o decreto de flexibilização da posse de armas e a Medida Provisória para maior rigor na fiscalização e combate a fraudes na Previdências Social, ambas prometidas na campanha.
O decreto de posse das armas, "deu empate": os apoiadores não ficaram satisfeitos, por acharem brando demais. Os opositores reclamaram, como reclamariam, qualquer que fosse a amplitude. O único dado importante é caracterizar um Governo que cumpre as promessas, ainda que parcialmente.
O outro decreto é preparativo para a Reforma Previdenciária. Estabelece medidas mais duras contra os sonegadores, fraudadores e inadimplentes para se antecipar aos opositores da reformas de que não existiria déficit na Previdência, se essa fosse mais eficiente nas cobranças. Teve, pouco impacto popular.
Complementarmente, dois decretos tem relevância externa ao Governo: a regulamentação dos benefícios fiscais para o Norte e Nordeste e as mudanças na lei de acesso à informação. O primeiro, uma herança do Governo Temer, teve mais repercussão pela trapalhada do Presidente que anunciou uma medida, desmentida pelos sua equipe econômica. O segundo faz parte do confronto do Governo com a mídia tradicional. Os demais regularam as mudanças na organização governamental.
No campo das nomeações, dois dados foram significativos, indicando uma tendência: a ampliação da participação de militares, dentro do Governo e um primeiro choque entre os grupos internos de influência. Embora tenha sido um choque dentro da mesma ala, caracterizaria uma dissenção que pode se ampliar no futuro.
Essa ala é clã Bolsonaro, formado pelo patriarca, o atual Presidente e três filhos políticos. Eles se assumiram como detentores do poder, embasados nos seus milhões de votos, tanto os do pai, como deles mesmos, com manifestações polêmicas e públicas, supostamente, em nome do pai, vetando indicações e designando outros para Ministérios.
O caso aqui já citado da indicação do Presidente da APEX, por Eduardo Bolsonaro, antecedido pela permanência da entidade no âmbito do Ministério das Relações Exteriores, e demitido pelo Ministro, também designado por influência de Eduardo Bolsonaro, pode ter sido um episódio avulso, ou a indicação de um procedimento típico do "padrão Bolsonaro".
Ernesto Araujo teria demitido Alex Carreiro, o apadrinhado de Eduardo Bolsonaro, contrariando o seu também padrinho. Alex tentou resistir, mas não teve o apoio do seu padrinho e "acabou na chuva". Pode ter sido resolvido com sacrifício de Alex, para não ampliar uma eventual crise interna. Mas pode ser também um procedimento padrão, que tem um antecedente na marginalização do ainda Senador, até o final do mês, Magno Malta.
Convidado, inicialmente, para ser o vice-presidente da campanha, e principal "papagaio de pirata" do candidato Bolsonaro, não ganhou nenhum Ministério ou cargo relevante. Supostamente por ter cometido um deslize, ou segundo o palavreado politicamente incorreto da nova turma por ter "mijado fora o penico".
Se foi um acidente pontual, vai ser esquecido, mas se foi um procedimento padrão, terá reflexo importante no caso de Flávio Bolsonaro, o primogênito do Presidente. Para efeito dos cenários futuros, o caso Bolsonaro/Queiroz é o mais relevante.
(cont)
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