Grande parte do empresariado brasileiro votou em Jair Bolsonaro, em 2018, motivado pela fobia pelo PT, segundo eles um governo "quase-socialista" com ampla intervenção do Estado nas atividades econômicas e praticando uma "enorme roubalheira" dos cofres públicos.
A sua preferência inicial era por Geraldo Alckmin, mas denúncias de participação em esquemas de corrupção no Governo de São Paulo o enfraqueceram, reforçando a visão de fraqueza pessoal para enfrentar a agressividade do PT.
Jair Bolsonaro reunia duas condições de agrado dos empresários: aderiu a uma pauta pró-empresa na economia com a redução da interferência estatal nas suas atividades e propugnou a eliminação completa da concussão, isto é, da extorsão praticada por agentes públicos.
O seu programa priorizava outras questões, como a armação da população, combate ao "politicamente correto" - defendida pela esquerda - principalmente no que ele entendia como ofensa aos valores tradicionais da família brasileira.
Para os empresários, representavam "danos colaterais" sem prejuizo dos objetivos principais: liberalismo econômico e combate à corrupção.
Depois de um primeiro ano de embate com os demais Poderes, tentando ganhar mais poder autoritário, conseguindo apenas a aprovação de meia reforma previdenciária, mas aceita pelos empresários, como melhor de nada e quando a macroeconomia dava sinais de retomada, após uma longa crise, o Brasil foi alcançando - em cheio - pela pandemia do novo coronavirus - o SARS - COV 2, causador da COVID 19, que já provocou a morte de mais de 200 mil brasileiros.
Bolsonaro sempre se posicionou a favor das reivindicações empresariais, colocando-se contra às restrições de funcionamento de atividades econômicas, tanto da indústria, como nos serviços. Não conseguiu levantar, através do Governo Federal as restrições estabelecidas pelos Governos Estaduais e Municipais, por decisões judiciais.
Mas manteve o apoio empresarial. Com este apoio, mais dos sectários do bolsonarismo, manteve um comportamento de contestação e rebeldia, promovendo aglomerações, sem uso de máscara, debochando ou minimizando a gravidade da doença, opondo-se à vacinação, opondo-se à compra das vacinas CORONAVC, caracterizando-as como a "vacina chinesa de Dória", declarando que não tomará nenhuma das vacina contra o coronavirus e propugnando o tratamento precoce com a cloroquina.
Teve um reforço no apoio popular pela aprovação de um auxílio-emergencial, no valor de R$ 600,00 mensais, mas a partir do final de 2020 passou a acumular fatores adversos que estão minando o apoio empresarial.
A flexibilização das restrições à movimentação das pessoas e ao funcionamento das atividades econômicas, por parte dos Governos Estaduais e Municipais, para atender às reivindicações e pressões empresariais no período de festas e de maiores compras pelos consumidores levou a um novo surto de contaminações e de óbitos,
As tentativas dos Governos de restabelecer as restrições, alguns mais radicais, provocou a reação contrária, contestações e movimentos de rua dos comerciantes e demais empresários. opondo-se às medidas, pressionando os governantes a voltar atrás, mantendo as flexibilizações.
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Em Manaus, diante da pressão empresarial, o Prefeito recuou e deu margem a um surto, criando a maior crise sanitária brasileira da era COVID-19.
Ainda em dezembro de 2020, as primeiras vacinas ficaram prontas, para uso experimental, começando a ser aplicada em diversos países, enquanto no Brasil o estoque de vacinas COVID 19 já em território nacional dependia de aprovação da ANVISA.
A disputa política de Bolsonaro e Dória, atrasou o inicio da vacinação, mas afinal foi iniciada nesta semana começando a contagem dos prazos a partir do quais o Brasil poderá considerar controlados os efeitos do coronavirus e voltar à normalidade, ainda que um "novo normal".
A esperança dos empresários é que a economia volte a funcionar normalmente e eles possam voltar a produzir mais, investir mais, empregar mais e lucrar mais.
Com a retomada da economia, como os empresários vão se posicionar em relação a Jair Bolsonaro? Podemos desenhar 3 cenários básicos:
- manutenção do apoio;
- "em cima do muro";
- passar a apoiar a sua saída.
No primeiro cenário, apesar de considerar as resistências, desencontros e atrasos, aceitam que ele teve coragem de mudar, assumiu o comando da vacinação nacional e livrou o Brasil da sua mais grave ameaça, sem qualquer denúncia ou indício de corrupção, de desvios de recursos públicos, que teriam ocorrido em governos estaduais e municipais. Vão manter a avaliação de que o Governo é ótimo ou bom, nas pesquisas, reforçando a imagem de apoio popular. A racionalização pessoal é de que se fosse um governo petista, todo o processo teria sido acompanhado, por um grande desvio dos recursos públicos. Todo os recursos federais destinados à vacinação e geridos diretamente pelo Governo Federal chegaram aos destinatários, não podendo o Presidente ser responsabilizado por desvios praticados por outros entes federativos.
No segundo cenário, os empresários aceitam a versão de que Bolsonaro teve coragem de mudar e, como Presidente da República, assumiu o comando nacional da vacinação, sem abrir mão das suas convicções pessoais, promovendo a normalização do funcionamento da economia, ainda que de forma lenta e com baixo rendimento. Aceitam a mudança de comportamento como um sinal positivo, mas não suficiente para avaliar o seu governo como ótimo ou bom. A esperança e confiança na reabertura total da economia, não os leva a negativar a avaliação como ruim ou péssima. Ficam no regular, deixando a variação das avaliações por conta dos outros. Os empresários ficam "em cima do muro".
O terceiro cenário é caracterizado pela insatisfação dos empresários com a situação da economia brasileira, estagnada e sem segurança de retomada, no curto prazo. Com a vacinação iniciada, se não ocorrerem novos percalços, a "imunidade de rebanho" só seria alcançada em meados de 2022. Só então o consumo das famílias, principal motor da economia, voltaria a se dinamizar, pela retomada de confiança dos consumidores. As flexibilizações nas restrições, com a reabertura de mais atividades econômicas, promovidas pelos Governos Estaduais e Municipais, teriam indicadas uma baixa recuperação, na economia, mas um alto impacto negativo nas condições sanitárias.
Os empresários passam a aceitar e assumir a narrativa de que Bolsonaro, com a sua posição negativista, de cura com remédios familiares, atrasando o planejamento e as providências preliminares para efetivar a vacinação em massa, o quanto antes, atrasou o processo de vacinação, comprometendo a retomada da economia.
Mesmo iniciado o processo, a sua continuidade está sob risco, pela dificuldade ou obstáculos colocados pela China ou Índia, os principais supridores de insumos para as vacinas, em decorrência de erros na visão estratégica, em relação a esses países.
Perceberam que o escudo da suposta proibição do STF de tomar as providências cabíveis era falsa. Bolsonaro percebeu - tardiamente - que o comando supremo da vacinação nacional é do Governo Federal. Retardou a vacinação e a retomada da macroeconomia, mesmo com os alertas de Paulo Guedes de que a vacinação era o único meio para assegurar a recuperação da economia.
Isso os levará a - predominantemente - reprovar a atuação do Governo, votando no péssimo ou ruim, nas pesquisas. Ajudaria a ampliar a imagem de desaprovação popular do Presidente.
Diante desse quadro, alguns dos empresários bolsonaristas, mudariam de posição, passando apoiar a sua saída precoce. Entendem que a sua permanência compromete a velocidade na retomada da economia.