quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

A quarta revolução industrial é uma falácia

A dita 4ª Revolução Industrial, amplamente alardeada em todo o mundo, não é industrial, tampouco a quarta. 

Na evolução da indústria (no sentido estrito) mundial, um marco importante foi a associação fordista-taylorista, com a produção em massa e o estabelecimento da linha de produção, incorporada ao imaginário popular por Charles Chaplin. Para alguns determina a 2ª Revolução Industrial. E se sustenta ainda hoje. Incorporando todos os avanços da tecnologia da informação ao conceito básico.

Um elemento negligenciado dessa revolução é uma famosa frase de Henry Ford: "você pode comprar qualquer carro desde que seja um T29, preto". Ou seja, você compra o que eu produzo, não o que você quer. Ou mais, o que você quer não existe: porque eu não o produzo.

Embora esse conceito ainda remanesça entre muitos industriais, a revolução ocorreu nos fins dos anos setenta e emergiu nos anos oitenta com o "toyotismo". Foram várias alterações substanciais, iniciadas em diversos países, mas consolidado pela Toyota que emergiu como uma das maiores montadoras de automóvel, com o seu carro vencedor: o Corolla.

Duas alterações conjugadas foram as mais importantes: o conceito do "on demand", ou seja, sob demanda, a pedido e a redução do tempo entre a concepção e a colocação do carro no mercado. 

O automóvel tinha que ser produzido em massa, com economia dos custos fixos, de forma padronizada. A produção "sob medida" (ou taylor made) era improdutiva e cara. Tinham que ser produtos artesanais.

A Toyota buscou soluções para a compatibilização entre a produção em massa e a personalização. Foi apenas o início, desenvolvido - posteriormente - pela demais montadoras, com a automação industrial, gerando a possibilidade de lançamento de inúmeros tipos e marcas de carros, produzidos em massa, mas com diferenciações. O carro personalizado, desejado pelo comprador, sai direto da linha de produção.

Só foi possível graças à automação industrial, o uso intenso de tecnologia e máquinas. Promoveu uma ampla substituição do trabalho humano pela máquina. Mas a expansão da atividade gerou mais empregos do que as perdas. Com novas qualificações, com novas funções, mas com amplo uso do trabalho humano.

A grande transformação não foi a substituição total do trabalho humano, mas a conjugação homem-máquina. Dai a necessidade de qualificação. O que é diferente de "reciclagem" que é a capacitação do trabalhador para outras funções muito diferentes daquelas do trabalho extinto.


A atividade industrial pode ser desdobada em três grandes categorias: a da transformação, a da "montagem" e a da manufatura.

A primeira envolve - principalmente - a transformação de um bem natural (uma matéria prima) num insumo da cadeia produtiva industrial. Pode ocorrer por processos químicos que transformam a estrutura molecular e geram novos produtos, como por processos físicos que transformam a sua forma.

Os mais conhecidos são a transformação alimentar, como o da cana de açúcar transformada em açúcar ou etanol, o da siderurgia que associa ferro e carvão, para transformação em aço, ou do refino de petróleo, gerando gasolina, óleo diesel e outros. Inclusiva a nafta que vai servir para novas transformações na petroquímica.

Essa indústria envolve inovações tecnológicas constantes, para melhor ou maior utilização das matérias primas (como o caso do etanol de 2ª geração, com a transformação do bagaço da cana) e a automação industrial para automatizar mecânicamente os processos de transformação. Com redução e até extinção - em alguns casos - do trabalho humano. 

A segunda categoria é da produção industrial por sucessivas agregações de elementos ou partes, para montar um produto final, previamente projetado. O mais notório é o automóvel, mas envolve produtos com pequenos volumes de partes, como a fabricação de moveis, ao avião. Este envolve milhares de partes.

Dentro dessa categoria emergiram os aparelhos com elevado conteúdo de tecnologia da informação. Embora sejam um produto de montagem, o mais importante é o chip que recebe, processa e transmite informações. São o caso dos computadores - sejam os pessoais ou de grande porte - como os smartphones e demais equipamentos de telefonia. 

Nessa categoria a automação industrial  domina grande parte do processo produtivo, mas não dispensa o trabalho humano em diversas das suas fases, mas principalmente nas finais.

Uma terceira categoria de produção industrial é da transformação do insumo industrial (ou da própria matéria prima) em formato desejado pelo consumidor. Baseado no formato desenhado ou "mentalizado". É o caso típico da atividade de vestuário que envolve desde grandes produções industriais em massa, como a manufatura artesanal. É ainda a atividade industrial que mais emprega o trabalho humano.

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