Com a eleição de Joe Biden, apesar da contestada por Trump, o que importa para Jair Bolsonaro não é como ele vai se relacionar com o novo Presidente Norte-Americano, ou como vão ficar as relações comerciais entre os EUA e o Brasil.
O que lhe importa é como se sustentar no cargo, nos próximos dois anos e ser reeleito em 2022.
Apesar de ter indicado um novo Ministro para o STF, não formou maioria para se blindar e blindar os seus filhos. Teria 3 votos, com tendência a seu favor e mais um 4º, sempre imprevisível, mas ainda ficaria com 7 desfavoráveis. Não pode titubear e cometer qualquer deslize, que leve a uma decisão do plenário do Supremo.
No Congresso Nacional, a sua base firme é muito pequena e depende do Centrão para evitar o risco de impeachment ou mesmo de ações que poderão desgastar a sua imagem.
O Centrão é voraz na fome por cargos e fica na espreita de cargos cujo Ministro fica enfraquecido. Provavelmente já tem nomes para os Ministérios do Meio Ambiente e de Relações Exteriores.
Na política externa, Bolsonaro orientado ou influenciado por Olavo de Carvalho, tendo Eduardo Bolsonaro, como o mensageiro, optou por um total alinhamento a Donald Trump, posicionando-se contra a globalização, o multi-lateralismo internacional e confrontando a China.
Seguindo leamente seu "chefe" adotou um discurso negativista, mas não chegou a adotar nenhuma medida concreta, exceto na área ambiental.
Sem a reeleição de Donald Trump, Bolsonaro perdeu o norte e o apoio irrestrito dos sectários bolsonaristas, mantidos "trumpistas" pelo fogo cerrado, mantido pelas redes sociais.
Fora o nucleo duro dos olavistas, a microcultura "anti-China" vem perdendo adeptos, além da ala do agronegócio - que vem se beneficiando das compras dos seus produtos pela China - e dos agentes do setor de infraestrutura que contam com dinheiro dos chineses para retomar os investimentos. A mais recente perda foi com a posição do Presidente, contra a compra da vacina coronavac, por ser de origem chinesa, para demonstrar a sua lealdade a Donald Trump, no final da campanha eleitoral. Pela mesmo motivo Bolsonaro se recusa a reconhecer a vitória da Biden-Harris, enquanto o seu lider negacionista não a aceitá-la.
Grande parte da população quer ser vacinada tão logo uma vacina segura esteja disponível, não importa a origem nacional.
O negacionismo de Bolsonaro se reflete na perda de popularidade nas grandes cidades, como indicam as pesquisas eleitorais recentes, com efeito negativo do seu apoio aos candidatos bolsonaristas.
O ganho de popularidade, com o auxílio emergencial, teria sido anulado pela sua postura em relação à pandemia, voltando a um patamar de aceitação do seu governo da ordem de 30%.
A persistência do patamar seria suficiente para levá-lo a um segundo turno, em 2022, mas não lhe garantiria a vitória.
Sem a obrigação ou propensão de manter o alinhamento incondicional a Trump a alternativa de Bolsonaro para conter a sangria da perda de popularidade, será "sacudir a poeira" é aceitar a vacinação contra o coronavirus, com as vacinas que estiverem disponíveis, contrariando os radicais antivacina, raivosos, barulhentos, com amplo uso da rede social, mas minoria, dentro do eleitorado nacional. Ademais a tendência dos gestores das redes é de cercear noticias falsas em relação às vacinas.
Com uma personalidade bi-polar e radical, Bolsonaro poderá migrar de uma postura radicalmente contra a vacina para uma liderança nacional pela vacinação, para evitar que essa seja tomada pelos Governadores e Prefeitos, com ampla repercussão eleitoral.
Bolsonaro quer evitar que o Governador João Dória emerja como o campeão da superação da pandemia, mas a derrota de Trump, no apoio popular, lhe indica que o negacionismo não é uma boa estratégia eleitoral. Ele tem que tomar o lugar, seguindo o velho conselho de Dom João VI ao seu filho Pedro: "Põe a coroa sobre a tua cabeça, antes, que algum aventureiro, lance mão dela."
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