segunda-feira, 4 de março de 2019

Avaliação dos cenários, após dois meses

O segundo mês do Governo Bolsonaro foi marcado por diversos diversos eventos definidores das trajetórias futuras.
Os mais marcantes foram o que envolveram a interferência do filho Carlos Bolsonaro, nas decisões do  pais, com uma repercussão negativa, interna e externamente.
Uma mensagem de Carlos Bolsonaro chamando Gustavo Bebianno de mentiroso, desencadeou uma crise, com vários resultados relevantes:

  • a demissão de Bebianno, quebrando um importante elo do Palácio do Planalto com o Congresso;
  • a exteriorização de uma postura íntima belicosa de Jair Bolsonaro, com a grande mídia tradicional, caracterizando a Rede Globo, como inimiga;
  • a repercussão pública negativa, inclusive dos bolsonaristas, da percepção da interferência dos filhos;
  • o reforço da tutela do grupo militar instalado no Palácio do Planalto, sobre o comportamento do Presidente;
A crise quebrou o natural ambiente de "lua de mel" da população com o Presidente, com repercussão no seu poder de negociação com o Congresso. 
Depois de mais de 10 dias da crise gerada pela ação destemperada de Carlos Bolsonaro e avalizada pelo pai, Jair Bolsonaro promoveu uma reunião com jornalistas, para apagar dois dos incêndios e desmentir o terceiro:
  • declarou que nenhum filho manda no Governo e que estabelecerá "filtro" sobre as manifestações de Carlos;
  • reclamou do tratamento da imprensa, mas reconheceu como normal, amenizando o confronto;
  • afirmou que não existe mal estar com a ala militar.
Como a interferência dos filhos estava colocando em risco o crédito da população ao Governo, ações efetivas de controle sobre os filhos, restabeleceria a confiança e do próprio ambiente de lua de mel, dependendo de outras ações positivas. Como o encaminhamentos das propostas de Reforma da Previdência e do "pacote anti-crime" de Sérgio Moro.

A crise com Bebianno tem consequências mais amplas que a sua saída do Governo. Para superar o ambiente desfavorável, Bolsonaro teve que precipitar o encaminhamento da proposta de Paulo Guedes, sem uma negociação ampla, dentro do próprio Executivo e com as lideranças do Congresso. O resultado foi uma reação positiva, mas cheio de ressalvas por parte dos políticos.
Embora haja uma reação generalizada de que a proposta está repleta de um rebanho de bodes mal cheirosos, criou-se um ambiente de necessidade de muita negociação. Não apenas dos temas específicos, mas do tradicional "troca-troca". A reação política é de que sem essa negociação a Reforma da Previdência não será aprovada, nem mesmo na sua "espinha dorsal".
O mercado reagiu de forma mais pragmática, entendendo-se que a reforma não será a encaminhada, mas a resultante das negociações com e no Congresso. E essa será satisfatória, ainda que não alcance os inviáveis números estimados pela equipe econômica.
A população também, de forma majoritária, é favorável à reforma, mas espera pela que sairá do Congresso. 
Todo confronto será entre a equipe econômica e as corporações, com ampla representação dentro do Congresso, além das tentativas de extorsão. 
Tanto o mercado como a população, em geral, tendem a aceitar a Reforma, como for definida pelo Congresso, aceitando-a como a possível. A oposição política não terá capacidade de evitá-la, tampouco contestá-la. O que tentará, com sucessos pontuais, é o retardamento da tramitação. 
Mas uma reforma da previdência será aprovada.

A reação à interferência dos filhos, não alcançará apenas Carlos Bolsonaro, mas os dois outros. Flávio ficará menos protegido, ampliando a pressão para a sua submersão e até mesmo para a sua renúncia. 

Eduardo também ficará enfraquecido, sem condições de sustentar as posições a favor de Donald Trump, contra a Venezuela de Maduro, levando o Brasil a um envolvimento militar, contrário às suas tradições.

A ala militar do Governo já se manifestou expressamente contra qualquer envolvimento militar do Brasil, nas questões internas da Venezuela, focando nas pressões diplomáticas. É uma evidente inibição às visões dos Bolsonaros de eliminar, pela força, os regimes - suposta ou assumidamente - socialistas, na América Latina.

Dentro desse mesmo contexto, Jair Bolsonaro fez valer a sua autoridade presidencial, desautorizando e até repreendendo a ação do Ministro da Educação, indicado e protegido de Eduardo Bolsonaro. 
Ele, pela afinidade ideológica e pela condição de filho, assumiu um grande protagonismo na formação do Governo, capturando, com respaldo do pai, duas importantes áreas: o Itamaraty e a Educação. 
Ernesto Araujo já foi "controlado" pela área militar, na posição do Brasil na questão "Venezuela" e, aparentemente, no comando da política externa do Brasil. 
As ocorrências indicam que Jair Bolsonaro, com respaldo militar, está assumindo essas áreas, reduzindo o espaço de liberdade que os Ministros de Eduardo Bolsonaro estavam usufruindo. 


O resultado a curto prazo dessas áreas será o imobilismo.

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