João Dória Jr representa a emergência de uma nova centro-direita, que tem como base eleitoral uma classe média jovem moderna. Ela sai às ruas e tem como principal bandeira a contestação aos políticos tradicionais - todos caracterizados como "ladrões" - e tem a adesão da classe pobre "imobilizada". Isto é da classe pobre que não sai às ruas por política, a não ser no dia a eleição.
Dória Jr foi o precursor dos grandes movimentos de rua da classe média, ao liderar, cerca de 10 anos atrás o movimento "Cansei". Não teve grande êxito, a sociedade estava encantada com a nova liderança, vinda da classe operária, com ações inovadoras. Ainda era cedo.
Em 2013 os "novos cansados" foram às ruas.
Não foram eles que começaram. O começo foi por um pequeno grupo de jovens de esquerda, contra o aumento da tarifa dos transportes coletivos públicos. O início confundiu a percepção dos fundamentos do movimento. No seu subsolo, alimentando as raízes estava a contestação ao quadro político percebido como tomados pela corrupção.
A coligação que liderou os movimentos anti-ditadura que promoveram a redemocratização se cindiu - após a vitória - gerando uma tricotomia que está chegando ao fim. A era do grande embate entre o PT e o PSDB, a cisão da esquerda do movimento e do PMDB controlando o legislativo. Este chegando ao poder, sempre de forma indireta.
Em 2014 a jovem classe média paulistana, por iniciativas dispersas, não partidárias, voltou às ruas, com uma bandeira específica - o "impeachment" de Dilma - e uma bandeira mais ampla "Fora Todos". Não precisou voltar com a mesma força para que o impeachment afinal se efetivasse. E, coerentemente, com a sua bandeira geral, é favorável hoje ao "Fora Temer", embora pouco se manifeste publicamente.
A sua manifestação de massa está na eleição de João Dória Jr, um esperto, competente e oportunista "néo político" que "montou no cavalo certo, no momento aparentemente certo". Com o apadrinhamento do Governador Alckmin, o mentor desse nova plumagem ou bico tucano.
O PSDB tem origem na centro-esquerda, unindo a democracia-cristã de Franco Montoro com a social - democracia de Mário Covas. Com o suporte intelectual e político de Fernando Henrique Cardoso. Reunindo diversos militantes de esquerda, como José Serra, Aluysio Nunes Ferreira, José Aníbal, entre os mais evidentes. Dissentindo dos companheiros José Dirceu e outros que embarcaram e assumiram o barco petista, com Lula, na proa. Um histórica dissensão dentro da esquerda entre a social democracia e o socialismo. Inteiramente reconfigurado dentro da cultura brasileira. Mas que dominou amplamente a política brasileira nos últimos 30 anos. É uma era que está chegando ao fim. 2016 marca o grande domínio do PT. Mas o seu adversário também não é o mesmo.
O PSDB que emerge como suposto vitorioso é apenas o vencedor de um confronto decisivo, mas não de todo o campeonato.
O PSDB que se sairá melhor que o PT em 2016, não é a efetiva social democracia das suas origens. Alckmin não é um autêntico social-democrata. Como também João Dória Jr e João Leite não o são.
Mas poderiam representar uma nova social democracia, cujos contornos ainda não estão claros. Mas percebe-se que agrada ao eleitorado. Da mesma forma que a bandeira lulo-petista - com grande suporte financeiro - seduziu, no início do século, o eleitorado.
Enganam-se os que analisam 2016 como um tradicional embate entre os antigos PSDB e PT. Este último continua o mesmo. O PSDB não.
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