Por que manter um morto-vivo?
Donadon é um deputado morto-vivo ou vivo-morto. Ainda é deputado e o será até o início de 2015, quando encerra o seu mandato. Mas não poderá exercer as suas atividades de deputado, se presenciais, e não poderá votar, pois já perdeu os seus direitos políticos. Votou, seguramente contra a sua cassação e como não podia, o processo pode ser anulado: por vício processual.Preso em regime fechado, está morto como deputado em exercício. O Presidente da Câmara já decretou a vacância e convocou o suplente para assumir o cargo.
Não receberá os proventos. A sua família terá que deixar o aparamento funcional.
Então porque o teatro de votar a sua cassação, se qualquer fosse o resultado ele estaria "morto" como deputado?
A principal razão alegada era que o Congresso teria que confirmar o seu poder, supostamente constitucional, de dar a última palavra no processo de cassação dos seus pares, não aceitando esse papel do Judiciário. Tinha que dizer "sim senhora". Mas disse "não", mas vai ter que fazer o que ela mandou.
Donadon não foi cassado formalmente, mas efetivamente está cassado.
Outra interpretação, essa da teoria da conspiração, seria para um aviso para salvar, ainda que parcialmente os deputados, condenados à prisão em regime semi-aberto, no processo do mensalão.
João Paulo Cunha, José Genoíno e outros então não seriam cassados, poderiam exercer as suas atribuições durante o dia e se recolher ao presídio à noite. Manteriam os seus proventos e outras regalias, entre elas o emprego de todo o seu gabinete.
Não seriam mortos-vivos, mas semi-vivos ou semi-mortos, tornando a Câmara um cenário para o "walking dead", uma série americana de grande sucesso com os mortos-vivos caminhando pelas ruas. Quem eles vão assombrar? Os eleitores ou os próprios deputados.
Estamos a pouco mais de um ano das eleições gerais e a quase totalidade dos deputados é candidata à reeleição. Dada a reação popular, com os movimentos de rua, por todo o Brasil, amplamente difundidas pela mídia, em todo o território nacional, eles estariam colocando em risco a sua reeleição.
Teria sido um suicídio coletivo? É dificil acreditar que tão espertos que são, se arriscassem tanto, apesar do desprezo que eles tem pela opinião publicada.
A mídia reflete a opinião publicada, que tem um grande poder qualitativo, porém é uma minoria quantitativa. No voto ela perde fragorosamente para a opinião não publicada. Aquela, a publicada, acha que é formadora de opinião e influencia "corações e mentes" daqueles que não leem jornais, revistas semanais e pouco acompanham o noticiário da televisão. Não mais.
Os deputados se assustaram com os movimentos de rua, com a quase invasão do Congresso, mas ao voltarem para as suas bases, teriam constatado que o estrago não foi tão grande. Mantinham o apoio dos seus eleitores, mais preocupados com as pequenas benesses do que com as questões éticas.
A reação foi garantir a eficácia das emendas parlamentares e votaram o orçamento impositivo. O Governo vai emprenhar, mas vai dificultar a liquidação e os pagamentos ficarão para as calendas. E tudo será jogado nas costas da burocracia. A única que entende o que foi escrito acima. O jogo continuará o mesmo.
O mais provável é que tenha ocorrido um acidente. Mesmo os contrários à cassação tinham certeza que que Donadon seria cassado. Então o seu voto não teria importância, seria apenas um entre 500. O problema é sempre o comportamento da massa, em que uma pessoa só não tem importância, mas quando muitos adotam o mesmo comportamento, tomam a mesma decisão, a situação muda.
Os que se ausentaram acharam que o seu voto não teria importância e poderiam ainda dar a interpretação que lhe conviesse.
Mas ao contrário dos que votaram, resguardados pelo sigilo, os ausentes votaram de forma aberta. A interpretação que prevaleceu foi que votaram contra. Foram eles que absolveram Donadon. Só lhes resta justificarem e de qualquer forma perderão votos. A ausência foi pior que o voto secreto.
A estratégia deu errada. Era para Donadon ser cassado, como o carneiro do sacrifício e se salvarem todos. os demais. Para o bem do Brasil, o carneiro escapou e a maldição irá cair na cabeça de todos.
A Câmara transferiu o processo de cassação, agora coletiva, aos eleitores.
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