O centro de São Paulo, como de outras tantas cidades, foi o polo da riqueza, concentrando os moradores e as atividades econômicas de maior renda. A ocupação por eles elevava os valores imobiliários e "expulsava" os de menor renda para as periferias, dentro de um modelo de ocupação centro-radial. Com a expansão demográfica e econômica os de maior renda migraram para algumas periferias próximas. Num primeiro momento apenas da residência, como nos Jardins em São Paulo, mantendo os escritórios e os centros comerciais no centro. O grande símbolo desse centro era o Mappin. Que também foi se transformando e popularizando com a "invasão" da classe média, crescente e se tornando predominantemente no centro.
Os mais ricos mudaram também os seus escritórios para outras areas, as enobrecendo. A sua instalação em novas áreas promove a valorização imobiliária, atraindo novos investidores, dando sequencia a uma transformação urbana com a "expulsão" dos antigos moradores, de menor renda que não tem condições de pagar os novos aluguéis mais caros ou mesmo os impostos urbanos, nos casos dos proprietários. A isso os urbanistas chamam de "gentrificação" que poderia ser traduzido como enobrecimento. Que se contrapõe à degradação.
Com o esvaziamento do centro pela alta e média renda, aquele foi ocupado pela baixa renda, gerando uma degradação econômica, que se reflete, na sequência, na degradação física.
Algumas áreas do centro passaram a ser o polo dos sem teto, associado ao uso do crack. Concentrados inicialmente em torno da Estação da Luz, com as medidas públicas de "higienização" da área, resultaram no seu espraiamento para o entorno, avançando principalmente para o outro lado da Avenida principal (a Duque de Caxias) tomando uma das áreas originalmente um dos polos da riqueza cafeicultora paulista: o nobre bairro dos Campos Eliseos. As mansões e casas deixadas pela riqueza foram ocupados ou invadidos transformando-se em cortiços.
É hoje a principal área da cracolândia.
Depois de muitos anos de estagnação e degradação e tentativas frustradas de revitalização pelo Poder Público, o mercado imobiliário iniciou um processo de reocupação do centro, acreditando num novo mercado da riqueza (ou da classe média média e alta): jovens executivos com média e alta renda, filhos de famílias abastadas do interior que vem a São Paulo, para estudar, ou mesmo os que querem independência social, mas mantém a dependência econômica da família, casais sem filhos, descasados e outros, com algumas características comuns: aceitam morar em imóveis pequenos, mas bem servidos de facilidades, trabalham ou estudam perto ou acessíveis de metrô, dispensam o uso cotidiano do carro.
O sucesso inicial de alguns lançamentos de edifícios com apartamentos pequenos ou minúsculos, levou o mercado imobiliário a replicar em outros lançamentos, dentro do chamado "efeito manada". Multiplicaram-se os lançamentos, que a revista sãopaulo da Folha, mostra que estão em grande parte vazios.
O sucesso dos lançamentos foi motivado por uma sucessão de expectativas ou ilusão. A primeira a existência e crescimento crescente dessa demanda dos "descolados", dos "sem carro", repetindo fenômeno que ocorreu e ocorre em outros grandes centros mundiais. A segunda a transformação do centro de São Paulo numa Nova York.
Sucessão porque a demanda principal dos lançamentos é de investidores, uma grande de pequenos investidores, acreditando na locação posterior do imóvel àquela demanda, com alto rendimento, além da valorização do próprio imóvel. E o mercado imobiliário desenvolveu toda uma campanha publicitária e um marketing para seduzir esses investidores.
Compraram, na planta, e agora com os imóveis prontos, não encontram mais o mercado que - supostamente - estava aquecido.
A questão não está apenas na demanda, mas na aposta na gentrificação. O mercado imobiliário vendeu ou acreditou na perspectiva de que com os novos lançamentos de médio e alto padrão, promoveria a valorização imobiliária e a "expulsão" da pobreza e dos "sem teto". Esses migrariam para as periferias, como é o usual.
Mas em São Paulo, como em outras grandes cidades mundiais, a resilência dos "sem teto é alta e ainda contam com o apoio de organizações não governamentais e movimentos contra a "higienização" das áreas degradadas.
Há ainda os que são contra a gentrificação, defendendo a ocupação do centro por habitações populares.
Todos querem um centro melhor, mas nem todas as idéias são convergentes. Na realidade são conflitantes.
O seu futuro vai depender do jogo de forças. Quem vai ganhar? O mercado imobiliário, promovendo a gentrificação? Os defensores da ocupação pelas moradias populares - hoje com o apoio da Prefeitura? Os "sem teto"? Os moradores tradicionais?
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