segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Conspirações e teorias

Quando não há teorias razoáveis para explicar fatos, as da conspiração podem explicar.

Um fato real ocorreu no dia 14  de março de 2018, comprovado por registros e testemunhas oculares: por volta das 17 horas, Élcio Queiroz esteve no Condomínio Vivendas da Barra, na Barra de Tijuca, Rio de Janeiro  e dirigiu-se à casa nº 66, onde mora  Ronaldo Lessa. O porteiro registrou a mão na planilha de entrada de visitantes a casa 58 como o destino de Élcio. A casa 58 é da residência, no Rio de Janeiro, de Jair Bolsonaro.
Horas após Marielle Franco foi executada a tiros, outro fato real.
Investigações indicaram que Élcio estaria dirigindo o carro que levou os assassinos e Ronaldo teria sido o autor dos disparos.
A Polícia Civil esteve no condomínio, fez buscas na casa 66 e encontrou armas. Estranhamente não fez buscas na portaria, tampouco recolheu as gravações que comprovam o acesso de Élcio à casa 66, autorizado pelo morador, tampouco o registro manual da entrada de Élcio.
Em março de 2019, um ano após o crime, Élcio e Ronaldo são presos como os principais suspeitos da execução de Marielle.
A Polícia Civil não fez investigações adicionais no condomínio, nem ouviu as fitas do dia 14 de março de 2018, embora contivessem pistas ou melhor registros da movimentação dos dois principais suspeitos. Nem mesmo apreendeu as fitas para evitar eventuais adulterações. Pode ter feito e mantido o sigilo. Teriam levado à prisão de Élcio e Ronaldo.
As teorias comuns apontariam para incompetência. A teoria da conspiração indicaria desvio deliberado de envolver o condomínio, uma vez que lá tem residência o Presidente da República, Jair Bolsonaro.
Somente no início de outubro, a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, tomou o depoimento do anônimo porteiro do condomínio à Polícia Civil, e os termos de declaração incluídos nos autos, mas sem divulgação, uma vez que o processo corre em segredo de justiça.

Contou ao Delegado que Élcio indicou como destino a casa 58 e que ligou para a casa sendo atendido pelo Sr Jair, que autorizou a entrada. Verificando pelas câmaras que Élcio estava tomando outro destino, teria ligado de novo e – segundo ele – o Sr Jair lhe disse que sabia para onde Élcio estava indo.
O porteiro se enganou ou mentiu porque naquele momento o Sr Jair Bolsonaro, no exercício do seu mandato de deputado federal, estrava dentro do Congresso, em Brasília, com presença comprovada. 
Com a citação do Presidente da República, no processo, o Ministério Público Estadual, indagou o STF se deveria suspender as suas investigações e remeter os autos àquele, uma vez que o Presidente goza de foro privilegiado.
O depoimento “vazou”, a Rede Globo buscou o acesso (mesmo que ilegalmente) ao depoimento, e o noticiou no Jornal  Nacional, no dia 29 de outubro, por volta das 21 horas  de Brasília e 3 horas da madrugada  do dia 30 de outubro em Riad, Arábia Saudita, onde se encontrava o Presidente Bolsonaro.
O Presidente reagiu furiosamente, atacando a Rede Globo.
Faltam muitas respostas:
1.       Quando (e se foi) tomado o primeiro depoimento do porteiro do condomínio à respeito da vista do Sr. Élcio, no dia 14 de março de 2018;
2.       Porque a Polícia Civil não apreendeu as fitas das gravações, assim como os registros digitais e manuais, como prova do encontro prévio de Élcio e Ronaldo poucas horas antes do crime? Por que o Ministério Público Estadual, deixou passar essa falha?
3.       Se a Polícia Civil e o MPE não ouviram o porteiro, porque não fizeram, na época devida?
4.       A “troco do que” a Polícia Civil resolveu ouvir o depoimento do porteiro, um ano e meio depois do crime e vários meses após a prisão de Élcio e Ronaldo?
5.       Por que o porteiro citou uma pretensa visita de Élcio à casa 58 e disse que o “Sr Jair” tinha autorizado?
6.       Ele tentou encobrir uma falha? Ter anotado manualmente a casa 58, como destino de Élcio? Enganou-se? Foi induzido ou pressionado? Ele tinha noção da possível repercussão da citação de Jair Bolsonaro?
7.       Foi o delegado, com conivência do escrivão que distorceu o depoimento e colocou em termos, assinado pelo porteiro sem lê-lo?
8.       Onde está o porteiro? Junto com Fabrício Queiroz?
A teoria da conspiração tem algumas suposições lógicas.
Os amigos ou parentes de Ronaldo, moradores do condomínio, teriam pressionado o porteiro a citar Jair Bolsonaro, contando que, com isso, o processo subisse ao STF, onde contaria com o apoio do Presidente para “estancar a sangria”, diferentemente do que ocorreria no Rio de Janeiro, com o Governador, ávido em investigar.
Carlos Bolsonaro que mora no mesmo condomínio e conhece o porteiro, o teria induzido a citar o Presidente. Em nada o incriminava, mas a citação seria suficiente para transferir o processo para Brasília, onde – provavelmente – ficaria parado. Carluxo estaria preocupado com a ação do Governador Wilson Witzel.
Integrantes das milícias que atuam no Rio de Janeiro, pressionaram o porteiro a citar Jair Bolsonaro, porque achavam que subindo o processo para o Supremo, Toffolli não daria celeridade nas investigações ou até bloquearia, em função de acordos com o Presidente.
Não foi essa a percepção de Jair Bolsonaro. Ele reagiu furibundo acusando a Rede Globo e Wilson Witzel que querem destruir a sua família.
Jair Bolsonaro interpretou que estão querendo relacioná-lo com o assassinato de Marielle Franco para destruí-lo e reagiu com total ferocidade e descontrole. Segundo as teorias psicologicas, porque tem alguma relação que não quer ver explicitada e difundida.
A teoria da conspiração tem outras explicações.
Quando acusou o Governador Witzel de querer destruir a sua família, a envolveu, sem que ela tivesse sido citada. Estaria defendendo preventivamente o seu primogênito Flávio, que teria ligações com um dos líderes da milícia da região da comunidade de Rio das Pedras, e que tem sendo apontado como o mandante.

 Ele, provavelmente, não ter nenhuma relação direta com o crime, tampouco foi o mandante. Mas tem profundas relações eleitorais com Chico Brazão, suspeito de ser o mandante.

O episódio terá desdobramentos, com o aprofundamento das investigações. E o acirramento da relação “nós contra todos” ou “o leão contra as hienas”.

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