Um fato real ocorreu no dia 14 de março de 2018, comprovado por registros e
testemunhas oculares: por volta das 17 horas, Élcio Queiroz esteve no
Condomínio Vivendas da Barra, na Barra de Tijuca, Rio de Janeiro e dirigiu-se à casa nº 66, onde mora Ronaldo Lessa. O porteiro registrou a mão na
planilha de entrada de visitantes a casa 58 como o destino de Élcio. A casa 58
é da residência, no Rio de Janeiro, de Jair Bolsonaro.
Horas após Marielle Franco foi executada a tiros, outro fato
real.
Investigações indicaram que Élcio estaria dirigindo o carro
que levou os assassinos e Ronaldo teria sido o autor dos disparos.
A Polícia Civil esteve no condomínio, fez buscas na casa 66
e encontrou armas. Estranhamente não fez buscas na portaria, tampouco recolheu
as gravações que comprovam o acesso de Élcio à casa 66, autorizado pelo
morador, tampouco o registro manual da entrada de Élcio.
Em março de 2019, um ano após o crime, Élcio e Ronaldo são
presos como os principais suspeitos da execução de Marielle.
A Polícia Civil não fez investigações adicionais no
condomínio, nem ouviu as fitas do dia 14 de março de 2018, embora contivessem
pistas ou melhor registros da movimentação dos dois principais suspeitos. Nem
mesmo apreendeu as fitas para evitar eventuais adulterações. Pode ter feito e mantido o sigilo. Teriam levado à prisão de Élcio e Ronaldo.
As teorias comuns apontariam para incompetência. A teoria da
conspiração indicaria desvio deliberado de envolver o condomínio, uma vez que
lá tem residência o Presidente da República, Jair Bolsonaro.
Somente no início de outubro, a Polícia Civil do Estado do
Rio de Janeiro, tomou o depoimento do anônimo porteiro do condomínio à Polícia
Civil, e os termos de declaração incluídos nos autos, mas sem divulgação, uma
vez que o processo corre em segredo de justiça.
Contou ao Delegado que Élcio indicou como destino a casa 58
e que ligou para a casa sendo atendido pelo Sr Jair, que autorizou a entrada.
Verificando pelas câmaras que Élcio estava tomando outro destino, teria ligado
de novo e – segundo ele – o Sr Jair lhe disse que sabia para onde Élcio estava
indo.
O porteiro se enganou ou mentiu porque naquele momento o Sr
Jair Bolsonaro, no exercício do seu mandato de deputado federal, estrava dentro
do Congresso, em Brasília, com presença comprovada.
Com a citação do Presidente da República, no processo, o
Ministério Público Estadual, indagou o STF se deveria suspender as suas
investigações e remeter os autos àquele, uma vez que o Presidente goza de foro
privilegiado.
O depoimento “vazou”, a Rede Globo buscou o acesso (mesmo
que ilegalmente) ao depoimento, e o noticiou no Jornal Nacional, no dia 29 de outubro, por volta das
21 horas de Brasília e 3 horas da
madrugada do dia 30 de outubro em Riad,
Arábia Saudita, onde se encontrava o Presidente Bolsonaro.
O Presidente reagiu furiosamente, atacando a Rede Globo.
Faltam muitas respostas:
1.
Quando (e se foi) tomado o primeiro depoimento
do porteiro do condomínio à respeito da vista do Sr. Élcio, no dia 14 de março
de 2018;
2.
Porque a Polícia Civil não apreendeu as fitas
das gravações, assim como os registros digitais e manuais, como prova do
encontro prévio de Élcio e Ronaldo poucas horas antes do crime? Por que o
Ministério Público Estadual, deixou passar essa falha?
3.
Se a Polícia Civil e o MPE não ouviram o
porteiro, porque não fizeram, na época devida?
4.
A “troco do que” a Polícia Civil resolveu ouvir
o depoimento do porteiro, um ano e meio depois do crime e vários meses após a
prisão de Élcio e Ronaldo?
5.
Por que o porteiro citou uma pretensa visita de
Élcio à casa 58 e disse que o “Sr Jair” tinha autorizado?
6.
Ele tentou encobrir uma falha? Ter anotado
manualmente a casa 58, como destino de Élcio? Enganou-se? Foi induzido ou
pressionado? Ele tinha noção da possível repercussão da citação de Jair
Bolsonaro?
7.
Foi o delegado, com conivência do escrivão que
distorceu o depoimento e colocou em termos, assinado pelo porteiro sem lê-lo?
8.
Onde está o porteiro? Junto com Fabrício
Queiroz?
A teoria da conspiração tem algumas suposições lógicas.
Os amigos ou parentes de Ronaldo, moradores do condomínio,
teriam pressionado o porteiro a citar Jair Bolsonaro, contando que, com isso, o
processo subisse ao STF, onde contaria com o apoio do Presidente para “estancar
a sangria”, diferentemente do que ocorreria no Rio de Janeiro, com o
Governador, ávido em investigar.
Carlos Bolsonaro que mora no mesmo condomínio e conhece o
porteiro, o teria induzido a citar o Presidente. Em nada o incriminava, mas a
citação seria suficiente para transferir o processo para Brasília, onde –
provavelmente – ficaria parado. Carluxo estaria preocupado com a ação do
Governador Wilson Witzel.
Integrantes das milícias que atuam no Rio de Janeiro,
pressionaram o porteiro a citar Jair Bolsonaro, porque achavam que subindo o
processo para o Supremo, Toffolli não daria celeridade nas investigações ou até
bloquearia, em função de acordos com o Presidente.
Não foi essa a percepção de Jair Bolsonaro. Ele reagiu
furibundo acusando a Rede Globo e Wilson Witzel que querem destruir a sua
família.
Jair Bolsonaro interpretou que estão querendo relacioná-lo
com o assassinato de Marielle Franco para destruí-lo e reagiu com total
ferocidade e descontrole. Segundo as teorias psicologicas, porque tem alguma
relação que não quer ver explicitada e difundida.
A teoria da conspiração tem outras explicações.
Quando acusou o Governador Witzel de querer destruir a sua
família, a envolveu, sem que ela tivesse sido citada. Estaria defendendo
preventivamente o seu primogênito Flávio, que teria ligações com um dos líderes
da milícia da região da comunidade de Rio das Pedras, e que tem sendo apontado
como o mandante.
Ele, provavelmente,
não ter nenhuma relação direta com o crime, tampouco foi o mandante. Mas tem profundas
relações eleitorais com Chico Brazão, suspeito de ser o mandante.
O episódio terá desdobramentos, com o aprofundamento das
investigações. E o acirramento da relação “nós contra todos” ou “o leão contra
as hienas”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário