Comecei a minha carreira profissional em janeiro de 1960,
como analista orçamentário no Governo do Estado de São Paulo.
O então Governador Carvalho Pinto, um especialista em
finanças públicas, com apoio de uma equipe econômica de alto nível, estabeleceu
o que seria um orçamento plurianual de investimentos. Uma total inovação, na
época. O prof Carvalho Pinto não poderia cuidar da gestão técnica-operacional
desse orçamento, apenas uma parte do seu governo. Não tinha um discípulo para
exercer esse papel e nesse vácuo fui contratado pela Secretaria do Grupo de
Planejamento. Por que – na época – como formado em Administração Pública, pela
EBAP da FGV, era um dos poucos técnicos com formação em orçamentos públicos.
Ao longo desses quase 60 anos assisti sucessivamente ao
processo de engessamento dos orçamentos públicos em nome de garantir recursos,
inicialmente para educação e saúde, depois para diversos outros setores e
programas. Foram estabelecidas, sucessivamente, aos longo desse período, em
todos os Governos e legislativas vinculações orçamentárias, aprovadas pelo
Legislativo. Parte foi consolidada nas reformas constitucionais, principalmente
a de 88.
Porém o engessamento mais grave ocorre pela obrigatoriedade
de consignar nas propostas orçamentárias os gastos com pessoal, incluindo todos
os benefícios e aumentos. Em função das regras de estabilidade e dos conceitos
de direitos adquiridos ou direitos individuais, as folhas de pagamento foram
sendo sucessivamente inchadas.
Diante das restrições estabelecidas pela Lei de
Responsabilidade Fiscal muitos governantes adotaram a estratégia de fatiar
aumentos ao longo de vários anos, assim como a vigência de benefícios. Como
resultado, o Governante conseguia manter o equilíbrio fiscal no seu governo,
mas transferia os encargos para os governos subsequentes.
Tal mecânica levou não só ao crescimento obrigatório das
despesas com pessoal, como levou os funcionários a cuidar mais da garantia de
benefícios, via legislação ou até via constitucional, deixando de lado as suas
atividades precípuas de atender ao público. Deixaram de ser servidores públicos
para se tornarem servidores da sua classe.
Ao longo de muitos anos como consultor de gestão pública de
recursos humanos, desenvolvi, propus e ajudei Governos na implantação de medidas
para “valorização do servidor público”, até perceber que essa “valorização” não
se refletia em benefícios para a população. Mas as elevações de gastos
obrigatórios com pessoal permaneceram. Com apoio político e judicial.
Por alguns anos fui responsável pela elaboração e gestão do
orçamento estadual de São Paulo, onde introduzi, pelo menos três inovações que
me lembro: o orçamento programa, uma redução da base para a elaboração
orçamentária, partindo de 70% do orçamento anterior (não de 100%), definido por
um decreto de diretrizes orçamentarias. O que antecede a Lei de Diretrizes
Orçamentárias, instituída pela Constituição de 88. Não consegui instituir os programas como ponto
de partida, começando do zero. A modalidade que veio a ser conhecida como
orçamento base zero.
Esse processo de engessamento do orçamento de custeio foi se
consolidado à sombra do déficit primário. Dentro da gestão orçamentária o que
passou a ser importante era gerar superávit financeiros para pagar os juros,
deixando de lado o conceito tradicional de superávit primário, isto é geração
de sobras para investimentos.
O resultado está visto agora: as despesas com pessoal
cresceram descontroladamente, obrigaram a drásticas reduções de despesas de
custeio discricionárias e mesmo assim, não sobra recursos para investimentos
públicos.
Paulo Guedes percebeu que não conseguiria estabelecer o
equilíbrio fiscal sem atacar o principal gerador do déficit público: as
despesas com os servidores públicos. Com
apoio do Presidente Bolsonaro, propôs um pacote para conter essas despesas. Já
começou fazendo concessões antes do encaminhamento ao Congresso, por
ingenuidade inaceitável, cometendo o mesmo erro da reforma da previdência. Ele
acha que com as concessões prévias conseguirá aprovar o restante. Não foi o que
aconteceu com a previdência e não vai acontecer com o seu pacote, chame de
pacto federativo, Mais Brasil ou qualquer outro nome.
Os parlamentares sempre querem negociar e Paulo Guedes
precisa ter paciência e disposição para negociar o que não da sua natureza. Precisa
que Rogério Marinho faço esse trabalho.
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