A par do movimento sócio-politico-cultural, antiprogressista, a descoberta de um imenso esquema de corrupção, coordenada pela direção superior do PT, gerou uma ampla animosidade, em todos os segmentos da população, contra os governantes petistas. Em 2016, com amplo apoio popular, o Congresso concluiu a aprovação do impeachment de Dilma Rousseff, encerrando o período de 13 anos de governo petista, na área federal. O nordeste se manteve mais fiel ao petismo, contra as elites do "sul maravilha". Estas desenvolveram o estigma e receio do retorno do PT ao Governo, após a transição de Temer.
Este segmento da população entendeu que Jair Bolsonaro era quem tinha melhores condições de manter o combate à corrupção. Mesmo sendo um renitente membro da Câmara dos Deputados, seu nome nunca apareceu nas listas malditas: sejam das empreiteiras, notadamente a do Construtora Odebrecht, como a do Janot. Era visto como honesto e ele usou muito desse elemento no imaginário popular.
Eleito, convidou o Juiz Sérgio Moro, para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública, para que ele institucionalizasse os instrumentos de combate à corrupção.
Os combatentes da corrupção, incluindo muitos "politicamente corretos" formaram a segunda camada do bolsonarismo.
Os informes sobre as supostas ligações da família Bolsonaro com as milicias, assim como o não empenho de Jair Bolsonaro na aprovação no Legislativo do pacote anti-crime proposto pelo Ministro Sérgio Moro, enfraqueceram o apoio desses anti-corrupção, mas mantendo o apoio ao Governo e ao Presidente, em função da presença de Sérgio Moro, cuja aceitação popular supera a de Bolsonaro.
Há uma crescente frustração dos anticorrupção que não integram a primeira camada com Jair Bolsonaro, mas que mantém o apoio ao Governo.
No segundo semestre de 2020, Jair Bolsonaro terá que indicar dois nomes para o STF. Embora Sérgio Moro seja o favorito disparado, Jair Bolsonaro poderá não indicar Moro para a primeira vaga, indicando um "terrivelmente evangélico", para atender a primeira camada dos seus apoiadores e para testar a reação popular. Prometerá a Sérgio Moro a segunda vaga, mas poderá cumprir ou não. Sem a indicação para o STF, Moro dificilmente ficará no Governo.
A não indicação de Moro poderá decorrer da insatisfação de Bolsonaro pela recusa do seu Ministro e responsável pela Policia Federal, em interferir nos processos que envolvem as ligações com as milícias.
Em qualquer das hipóteses, ao iniciar 2021, Jair Bolsonaro estaria popularmente mais fraco, com muitas defecções na sua segunda camada de apoiadores de 2018.
O desgaste de Bolsonaro nessa camada será sucessivo e constante. Os fatos futuros indicam um agravamento. A única ocorrência positiva será a indicação de Sérgio Moro para o STF, o que será visto pela camada "anti-corrupção", como o merecido reconhecimento da atuação do ex-juiz da "Lava-Jato" e a esperança de uma atuação mais rigorosa da corte, no julgamento dos corruptos.
Por outro lado, o Governo ficará desfalcado da presença de um paladino anti-corrupção, no Ministério da Justiça. Sem Moro, será inevitável o desdobramento do Ministério da Justiça e Segurança Pública, para Bolsonaro agraciar o seu velho amigo Alberto Fraga, com um Ministério.
A eventual indicação de Sérgio Moro para o STF daria um alento temporário a Jair Bolsonaro, voltando depois à trajetória de desgaste, ao longo de 2021, junto à camada anti-corrupção.
Com o afastamento de Sérgio Moro de um potencial candidato à Presidência da República, em 2022, Bolsonaro deixará a paranoia de ver o Ministro como um adversário, mas perderá a condição de politico honesto e totalmente isento de corrupção.
Essa segunda camada irá se desfazer, mas não significa que todos abandonarão o bolsonarismo. Bolsonaro perderá o apoio dos anticorrupção não bolsonaristas.
E o Brasil, com Moro fora do Governo?
Voltará a ser um país dominado pela corrupção?
Os políticos corruptos continuarão ou voltarão a ser predominantes?
Como ficará a corrupção petista?
A mudança principal será o arrefecimento das ações para alterações nas legislações contra o crime organizado, entre essas as do colarinho branco.
Seria então mantido o entendimento atual da prisão somente após a última instância. Não voltaria o critério do após a condenação em segunda instância.
Os corruptos ricos continuarão contratando advogados caros para postergar os julgamentos, mesmo sabendo da menor probabilidade de sucesso no STF, com a nova composição do colegiado, incluindo a troca do Presidente. Contarão com as prescrições dos crimes ou o envelhecimento do réu.
É um tema que trataremos em outro momento.
Com a saída de Moro, o cenário mais provável é de aumento da sensação de impunidade, o que poderá aumentar as ocorrências de corrupção de altos valores. A corrupção "miuda" não parou, mesmo com a Lava Jato, e tende a permanecer.
(cont)
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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020
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