segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Cadê o eleitor?

Lendo as colunas ou assistindo debates sobre o quadro político brasileiro, fico abismado com a irrelevância com que os analistas ou especialistas desconsideram o principal protagonista do processo político eleitoral. 
Jair Bolsonaro está na Presidência da República porque quase 58 milhões de eleitores brasileiros votaram nele, em outubro de 2018, bem mais que os 47 milhões que votaram em Fernando Haddad, o candidato do PT. Cerca de 42 milhões de eleitores, no segundo turno, não votaram em nenhum dos dois ou nem foram às urnas.
Essa foi a última pesquisa universal. Todas as demais com vistas a 2022 são amostrais, com certo grau de erro. 
Como esses eleitores irão votar em 2022 e por que?
Antes disso, devem ser considerados os resultados do primeiro turno de 2018, quando Jair Bolsonaro emergiu "por fora", com apenas um concorrente do seu mesmo campo ideológico: Cabo Dacciolo, que teve 1,3 milhões de votos, mais que Henrique Meirelles e Alvaro Dias, que poderiam ser considerados "do mesmo lado", como centro direita. 
Jair Bolsonaro não quer mas quer, se candidatar a reeleição da Presidência, mas acha que tem um concorrente que disputaria o lugar dele no campo da direita. A hipótese deles disputarem o voto dos eleitores, num primeiro turno é remota. Dividindo os votos de um mesmo conjunto de eleitores, correriam o risco de ficarem ambos fora do segundo turno. 
Ou seja, numa suposta hipótese de ambos serem pré-candidatos pelo Aliança, apenas um sairia candidato, seja por prévia interna, como por decisão da direção (no caso, inteiramente controlado pelo clã Bolsonaro). Eles não somam ou se complementam: dividem o mesmo bolo, com diferenças na cobertura.
Já João Dória e Wilson Witzel poderão disputar em pleito direto, no primeiro turno, os votos dos eleitores da "direita" ou "centro-direita". 
Pelo perfil pessoal, Jair Bolsonaro está disposto a enfrentar, confrontar esses concorrentes, buscando afastar previamente as respectivas candidaturas. Uma condição essencial para sair para essa guerra é contar com Sérgio Moro ao seu lado, eventualmente, como candidato a Vice-Presidente ou fora da disputa estando no Supremo Tribunal Federal. 
Não é a dupla preferida de Bolsonaro. Mas seria a preferência de Sérgio Moro? O seu perfil pessoal indica que ele não aceitaria uma Vice-Presidência. Poderia ser o cabeça da chapa, o que é desejado por muitos (talvez a mioria) dos eleitores de Bolsonaro-Moro. Mas ai é Bolsonaro que não aceita e cria um problema jurídico. 
Para Bolsonaro é reeleição ou nada. Na visão militar dele é perder as patentes de general e voltar a ser coronel: Jamais. Prefere ir pescar nas águas de Angra dos Reis que ele tornará legais. 
O "imbloglio" jurídico é que um candidato só não precisa deixar o cargo se disputar a reeleição para o mesmo cargo. Vice-Presidência não é o mesmo cargo de Presidência. Bolsonaro terá que deixar o cargo em abril de 2022. Não faltarão juristas e argumentos de que a Vice-Presidência são um mesmo cargo, porque não são eleitos separadamente. Mas até a decisão do STF será um problema que pode enfraquecer a sua candidatura.


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