terça-feira, 2 de junho de 2020

Caldo de Cultura

Bolsonaro que vive do confronto, deveria esperar uma reação do outro lado, a reação dos inimigos à sua mobilização popular contra o STF, Congresso, Governadores e outros.
A reação veio de um segmento inteiramente inesperado, tão ou mais violento e truculento que as hostes bolsonaristas: as torcidas organizadas.
Se alguém dissesse que os Gaviões da Fiel estavam se mobilizando contra Bolsonaro, para mim fazia sentido a contestação ao palmeirense  Jair, que anda cotidianamente com a camisa do Palmeiras. Entrariam em choque com os seus tradicionais adversários ou inimigos: a Mancha Verde.
Mas quando essa se junta aos Gaviões, contra Bolsonaro, dizendo ser em nome da defesa da democracia, confesso a dificuldade de entender o que está acontecendo. Mesmo considerando as teorias da conspiração, de estarem sendo financiados por terceiros, essa junção é esquisita, estranha. 
Custa-me aceitar que estão sendo unindo em defesa da democracia e "acenderam o fosforo da reação", já que os tradicionais sampaulinos continuavam em casa, redigindo e difundindo maravilhosos manifestos. Mas quando a Torcida Independente, a torcida organizada do São Paulo se une às duas mais tradicionais torcidas organizadas, "tem caroço nesse angú". 
Fanáticas e violentas torcidas organizadas de times de futebol, se juntando para enfrentar os bolsonaristas, nas ruas vai levar a uma escalada de violência.
Será o que Bolsonaro quer, para justificar a intervenção militar? Seria, então, ele que está promovendo ou estimulando esse movimento e o seu pessoal financiando? Pode ser, mas é pouco provável. 
O mais provável é o caldo de cultura que foi se desenvolvendo dentro dos 70% que não expressam apoio a Bolsonaro. Com pequenas variações Bolsonaro mantém o apoio de cerca de 30% do eleitorado. Esse, em 2018, era de quase 150 milhões de eleitores aptos a votar, segundo o TSE, mais precisamente 146.743.774. Considerando o número arredondado, os 30% corresponderiam a 50 milhões, um pouco menos dos votos que Bolsonaro teve no segundo turno, em 2018. 
Esse nível de 30% de aprovação tem sido mantido ao longo de todo este ano, em que pesem as diversas crises, pelo qual tem passado o Governo: a emergência do coronavirus, ainda em fevereiro, os conflitos externos, com os Governadores e Prefeitos e internos, com o Ministro da Saúde em relação à condução das ações governamentais, resultando na saída sucessiva de dois Ministros, a saída do Ministro Sérgio Moro - o principal símbolo do combate da corrupção - entre as mais importantes. Os seus apoiadores não arredam do seu apoio irrestrito, manifestando-se publicamente, nas redes sociais ou nas ruas e praças públicas. 
Com esse apoio recorrente do "seu povo" Bolsonaro assumiu a hegemonia política. Isto é: ele, com o apoio do seu terço de seguidores domina o resto, que se submete ao poder hegemônico. Fica na defensiva, tentando resistir aos seus avanços. 
Essa submissão da maioria foi ampliando um "caldo de cultura" de reação passando da resistência para a contestação ativa. 
Uma grande parte estava "em cima do muro" avaliando o Governo, como regular, ficando entre ótimo/bom e o ruim/péssimo até dezembro de 2020, segundo o DataFolha.
Em abril, muitas pessoas passaram a assumir uma posição, saindo "de cima do muro", ampliando a avaliação negativa, sem detrimento do ótimo/bom que se manteve em torno de 33%.
No final de maio, houve um descolamento do ruim/péssimo que saltou de 38% para 43% , enquanto a aprovação se manteve nos 33%. A queda ocorreu no regular, caindo para 22%. 
Os tais 70% começaram a reagir, mas formal e educadamente com Manifestos.
Mas o "caldo de cultura" entornou. Grupos radicais percebendo as circunstâncias, a partir dos resultados das pesquisas e achando que a reação estava muito frouxa, tomaram a iniciativa e saíram às ruas, dispostas à briga, como é o seu usual, elevando a temperatura e nível do confronto. 


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