domingo, 14 de junho de 2020

Reforma Politica (3)

Mudança de comportamento dos eleitores

A pandemia do coronavirus está acelerando as mudanças sócio-culturais da população brasileira, seguindo os movimentos mundiais, decorrentes dos avanços tecnológicos e universalização da "cultura digital".

Essas mudanças irão mudar o comportamento dos eleitores, em relação à política e, em particular, em relação aos partidos políticos?

Os indícios não são a favor das mudanças culturais dos eleitores, pouco indicando uma mudança do sistema partidário, "de baixo para cima".

Existiria um "caldo de cultura" fermentando entre os eleitores, mas esse só deverá transbordar e provocar mudanças reais, a partir da mudanças nos "modelos de negócios dos partidos". 

Aquele que perceber antes o potencial, ganhará espaço, em detrimento dos mais resistentes em manter as velhas práticas.

Dois exemplos, relativamente recentes, mostram transformações que mudaram o quadro politico partidário, ambos de "baixo para cima".

O mais antigo é dos operários metalúrgicos de São Paulo, que emergiram como uma força política, a partir de propostas "consumistas" (atenção tem um ns em vez de m: não são comunistas, mas consumistas) e resistência à ditadura militar.
Sob a liderança de Lula se organizou como partido, tornando-se um dos maiores do país: Lula foi eleito por duas vezes, depois de três derrotas, conseguiu eleger a sua sucessora que chegou a ser reeleita, mas não completou o mandato. Tem ainda a maior bancada partidária na Câmara dos Deputados, participação relevante dentro do Senado e mantém ainda vários Governos de Estado, concentrados na Região Nordeste. 
O PT, com as suas propostas inovadoras, tomou o espaço dos velhos partidos de esquerda, como os comunistas, socialistas e trabalhistas, todos conservadores nos seus princípios e práticas.
Atualmente o PT pouco guarda os elementos da sua origem, mas tem demostrado alguma  resiliência, apesar da resistência conservadora de Lula, ainda o principal líder partidário, hoje mais próximo de uma seita.

O PT se tornou um grande partido, por ter conquistado "corações e mentes" de segmentos importantes da sociedade, desejosos de mudanças. Posteriormente perdeu vários deles. 
Hoje não é mais um partido político moderno e renovador, mas antiquado ou defasado e tradicional.

O caso mais recente é do bolsonarismo, tendo o ex-capitão do Exército, Jair Bolsonaro, como o principal ícone e transformado em mito. Sem base partidária, foi obrigado a alugar um partido, mas acabou rompendo com o senhorio, buscando só agora organizar o seu partido: o Aliança pelo Brasil. 

Antes mesmo da sua constituição já perdeu vários segmentos de apoio, conseguindo, no entanto, manter um segmento firme da ordem de 30% do eleitorado, que o segue em qualquer  circunstância e percalços. 

Significa que uma parte relevante dos eleitores que estavam recolhidos resolveram "sair do armário" e assumir as suas posições políticas, caracterizadas como de direita. 

Aparentemente os eleitores de direita são os mais coesos nas suas posições partidárias, ainda que baseadas em pessoa e não em princípios partidários. 
Bolsonaro propõe ou espera que os seus princípios, a sua pauta prioritária - aqui analisada em capítulo próprio - seja também as do seu partido, consolidando-as institucional e popularmente. 

Uma pergunta importante a se responder é: a emergência da direita política no Brasil tem alguma coisa a ver com as novas tecnologias digitais?

Os partidários de Bolsonaro são mais digitais do que os concorrentes?

Os elementos disponíveis indicam que sim. 

Ganharam espaço porque saíram na frente nas inovações e no uso das tecnologias digitais na campanha eleitoral. Mas os eventuais exageros tem levado a fortes reações institucionais.

Por outro lado, os concorrentes estão - ainda que lentamente - se tornarem mais digitais, acompanhando a evolução dos eleitores. 


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