A aproximação casa-trabalho e vice-versa é única saída para a crise de mobilidade nas cidades, revertendo a principal motivação que levou o ser humano a deixar a vida rural para preferir a vida urbana.
Diante dessa percepção, as autoridades públicas buscam incentivar essa aproximação mediante medidas de estímulo ou de punição.
Tanto uma quanto outra tem por objetivo mudar o comportamento do cidadão urbano.
Uma das questões que tem afetado a efetividade dessas medidas tem sido o tratamento generalizado, assumindo-se que todos reagirão de igual forma àquelas.
Em relação à movimentação dentro das cidades os cidadãos podem ser divididos em dois grupos básicos: os que tem opção de escolher local de moradia, maiores oportunidades de trabalho e, principalmente, opção pelo modo de transporte.
De outro lado estão os que só tem condições de morar em periferias, longe do centros onde se concentram os trabalhos, ou em ocupações irregulares. Por morarem distante do trabalho a opção a pé ou de bicicleta não atendem às suas necessidades de locomoção, só restando a alternativa do transporte coletivo. Quando esse é considerado de má qualidade pelo usuário, o grande sonho dele é passar para o transporte individual motorizado, seja a motocicleta como o automóvel.
Para atender às reivindicações dessa população dos sem opção, governo populistas adotaram a tarifa única, independentemente das distâncias percorridas, o que acabou por incentivar a moradia mais distante dos pobres. Eles não tem um custo adicional por morar mais longe, onde o custo de moradia é menor. Não há custo monetário, mas custo humano, pelo maior tempo de locomoção, considerando todos os trajetos e todos os meios de condução. Há estudos que procuram monetizar esse tempo gasto com a locomoção, mas a pessoa não tem condições ou disposição de monetizar esse tempo. Como morar mais perto e conseguir outra fonte de renda.
Mecanismos de incentivo não são necessários para assegurar o uso do transporte coletivo. O que poderá ser buscado são mecanismos para evitar que ele migre para o transporte individual, com alguma melhoria de renda.
Ele poderá migrar para o transporte individual caso ache que o transporte coletivo não atende às suas expectativas. Essas são, principalmente, tarifa baixa, linhas ponto a ponto (e não obrigando transferências em terminais), intervalos menores de passagem do ônibus, regularidade e não ter superlotação.
As suas expectativas envolvem contradições, uma vez que a racionalidade dos sistemas de transporte coletivo está nas integrações em terminais. O que se contrapõe às linhas sinuosas com muitos sobe/ desce e longos percursos.
Os incentivos para melhorar a mobilidade não estão nela, mas na regulamentação do uso do solo, com preferência ao uso misto. O objetivo é aproximar a moradia do trabalho.
Eventual medida de penalização para desestimular a moradia distante é a tarifa diferenciada por distância, ou por secções. É medida política inviável. Nem como hipótese de discussão.
Já para os com opção, a penalização do uso do carro, pela elevação do seu custo, tem impacto sobre o comportamento das pessoas.
Dois elementos são mais impactantes, pela sua percepção imediata: o custo do combustível e do estacionamento.
Para efeito do cidadão que tem a opção da movimentação motorizada, o custo do estacionamento tem efeito similar ao pedágio urbano.
Medida de incentivo eficaz para o cidadão deixar o carro e passar a usar o transporte coletivo, só existe uma. Ampliar os serviços de transporte coletivo. No caso de São Paulo, só existe a alternativa de ampliar a rede metroviária.
A imagem negativa acumulada pela má qualidade dos serviços de ônibus, compromete a possibilidade de ser uma opção de qualidade.
As autoridades paulistanas, ao contrário das do Rio de Janeiro não ousaram a desenvolver a alternativa BRT. O Governo do Estado optou pela "aventura" do monotrilho.
Sem alternativas efetivas de transporte coletivo de qualidade os eventuais incentivos serão paliativos e pouco eficazes. O paulistano que tem condições de opção pelo carro continuarão usando-o, ainda por muito tempo.
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