O Brasil é um país desigual social e regionalmente, com elevado grau de analfabetismo (completo e funcional).
O Congresso Nacional representa razoavelmente esse Brasil o que não é aceito pela opinião publicada, principalmente pela elite (em todas as dimensões) e pelos cientistas políticos.
Estes querem que o Congresso Nacional represente um modelo ideal, tirado dos livros acadêmicos ou supostamente vigente em países desenvolvidos, defendendo reformas políticas que, na prática, só irão consolidar o sistema atual.
Aproveitei o recesso de final de ano para concluir a leitura do interessante livro "Dinheiro, Eleições e Poder, do cientista politico e colunista do Jornal Valor Econômico, Bruno Carazza - que recomendo - no qual ele mostra e analisa as relações espúrias de um importante segmento econômico com as decisões do Congresso Nacional, a partir dos depoimentos nas delações premiadas, assim como das sentenças judiciais.
É uma visão parcial, mas altamente ilustrativa de como funcionou o Sistema Político Brasileiro, até o final de 2018. Esse Sistema foi amplamente rompido com a eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência e da "expulsão", seja por prisões, como pelo eleitorado dos principais personagens políticos daquela engrenagem.
Como não é um trabalho investigativo, analisando apenas o que já veio a público, não trata do lobby do sistema financeiro, assim como de outros setores da economia.
Não percebeu (por ter sido escrito antes das eleições de 2018) que empresários privados que vinham se omitindo da vida política resolveram "entrar em campo", para sustentar a implantação de uma economia liberal.
O poder econômico resolveu se manifestar como poder político amplo, de natureza ideológica e não de alguns segmentos para ampliar os ganhos particulares.
Ao propor as medidas para a mudança, cai nos mesmos equívocos do pensamento acadêmico dominante.
Como achei (no sentido de encontrar), com base nos dados das eleições de 2014, confirmadas em 2018, que os deputados federais são eleitos predominantemente como despachantes de interesses comunitários, o modelo distrital só irá reforçar esse tipo de representação: que nada tem de ideológico ou programático.
A visão romântica de que com o voto distrital o candidato ficará mais próximo do seu eleitor, representando o seu pensamento é ilusório.
Ele vai, sim, representar o eleitor, mas não do seu pensamento. Vai representar o interesse local dos eleitores.
Será uma disputa entre "despachantes". A escolha poderá ser pelo despachante mais efetivo no atendimento das necessidades mais imediatas dos eleitores. Com total marginalização das questões nacionais, programáticas ou ideológicas.
As manifestações dos eleitores ingleses a favor do Brexit, ou dos separatistas catalães são exemplos da visão local das questões nacionais: "A EU nunca fez nada por nós"; "Nos sustentamos a Espanha, que nada nos dá em troca".
Ou seja, o eleitor local ou distrital avalia as questões nacionais (ou até internacionais) em função do impacto suposto ou real sobre a sua vida local.
A sua vida local é algo de concreto. A vida nacional é uma abstração.
O achado está na segunda edição do livro "Até onde a vista alcança", pronta como "protótipo", devendo entrar em "linha de produção e comercialização" em 2020.
Tenho dúvidas também sobre a suposição de que com o voto distrital as campanhas vão ficar mais baratas.
Num país desigual, poderiam ficar mais baratas em Minas Gerais, Bahia, Pará, Amazonas e outros Estados de grande dimensão e eleitorado disperso pelo Estado, mas seguramente ficarão mais caras no
Espirito Santo, Sergipe e outros Estados de pequena dimensão territorial, com disputas mais acirradas nos principais distritos.
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