São Paulo já foi uma cidade polinucleada, de caráter colonial.
Além do centro principal formaram-se bairros, com um núcleo central, em geral, em torno da feira-livre de rua, que depois foi levada para um mercado municipal.
Em torno de uma praça ou largo se instalaram o comércio, bares e prestadores de serviços pessoais, notadamente barbeiros e cabeleireiras.
A cronologia histórica, assim como o que veio antes e o que veio depois, perdi na memória, requerendo pesquisas.
Alguns se formaram junto às estações do trem. Outros eram pontos de parada dos tropeiros. Ou esses vieram depois.
Os centros da Lapa, do Brás eram nítidos. Santo Amaro. com o Largo Treze, era uma jurisdição própria e se desenvolveu como município a parte, depois incorporada definitivamente como um bairro paulistano. Osasco, ao contrário, se emancipou deixando a Capital maneta: não possui um braço leste.
Mas o caso que mais me lembro e conheço é Pinheiros, tendo o Largo da Batata, como o seu centro, com uma área de influência, além rio. Não houve um núcleo central no Butantã, apesar da ocupação comercial no corredor da Av. Vital Brasil. A Vila Madalena era (ou ainda é) parte de Pinheiros, assim como parte dos Jardins.
Dessa forma, quando os planejadores urbanos propõe estruturar São Paulo como uma cidade polinucleada, já estariam "chovendo no molhado": a cidade sempre foi polinucleada, embora o tamanho e a importância de cada núcleo fossem diferentes.
Uma questão inicial é se, para o futuro, a proposta ou tendência é de reforçar esses polos tradicionais ou desenvolver novos?
A metropolização, a modernidade e o mercado imobiliário transformaram essa estrutura polinuclear colonial. Os núcleos centrais dos bairros tradicionais foram transformados em polos dos negócios populares, suportados por terminais de ônibus, tornando-se "hub" de redistribuição descentralizada da população de menor renda, os "cativos" do transporte coletivo.
Isso representou um desafogo do papel do centro tradicional de hub, mas esse continua sendo o principal hub municipal e metropolitano.
O mercado imobiliário voltado para a população de média e alta renda, repeliu os centros tradicionais e foi se desenvolver, mediante verticalização residencial, no seu entorno, a uma distância de 3 a 4 quadras. Passou ainda a criar novos polos de negócios, primeiramente ao longo da Av. Paulista, que era uma grande via tomada por mansões, sem ter sido ocupada pelo comércio popular, que se instalou, de forma tímida, nas duas vertentes da Rua Augusta.
Passou-se para a Rua Iguatemi, tendo o primeiro shopping center como âncora, numa área ainda periférica, pouco densa, ladeada por um extenso clube, por casas e mansões unifamiliares. A via foi ampliada, tornando se a Av. Faria Lima e hoje está saturada, com o Shopping Iguatemi tendo se tornado um grande polo gerador de tráfego e um exemplo de localização inadequada de um grande centro comercial. Só que os críticos esquecem que ele chegou antes e os planejadores e autoridades não souberam planejar o sistema viário e de transportes levando em conta o futuro - então distante.
Pode-se dizer hoje que a cidade perdeu oportunidade de estruturar melhor a ocupação da área, com uma via "tacanha", com apenas 6 pistas (ou até 8 com boa vontade) e sem um sistema de transporte coletivo.
Posteriormente o mercado imobiliário deu um salto e foi promover o desenvolvimento de uma área de negócios ou corporativo em torno do dreno do Brooklin, hoje Av. Luis Carlos Berrini.
Mas já nessa época, cerca de 50 anos atrás, Jorge Wilheim e Jaime Lerner já haviam trazido ao Brasil o conceito da cidade compacta linear, com uma ocupação adensada, verticalizada e ordenada em torno de um corredor de transporte coletivo de média ou alta capacidade.
Essa concepção foi implantada com sucesso em Curitiba, embora não tenha eliminado os congestionamentos na área central, e sem sucesso em Goiania.
Em São Paulo, nem foi tentado, ou não saíram das intenções. A verticalização e adensamento ocorrido linearmente nessas novas avenidas não foi resultado do planejamento público, mas das preferências do mercado imobiliário privado.
Tornaram-se vias especializadas de conexões mais amplas do que as locais ou mesmo metropolitanas. Tornaram-se centros mundiais, com uma enorme atração de carros, resultando em grandes congestionamentos.
Mas retornando à questão inicial, o mercado imobiliário não focou o centro tradicional, no caso, o Largo da Batata que, agora está sendo objeto de uma reurbanização, sendo um dos objetivos a atração do mercado imobiliário para o desenvolvimento de um núcleo da cidade compacta, tendo agora uma estação metroviária e, na proximidade, uma estação do trem metropolitano.
Será o processo da centralidade de Pinheiros, o paradigma para o futuro da cidade?
Dado o tamanho populacional da cidade de São Paulo, não se pode raciocinar, comparativamente, com as demais como única. O próprio Municipio de São Paulo já é uma região metropolitana e deve ser vista, percebida e considerada como uma conurbação urbana de pelo menos 5 cidades, ou até mais.
Elas seriam consideradas, não pelo seu território, mas pela polarização de um núcleo central ou corredor.
Na zona sudoeste o novo centro é um corredor, e o próprio Largo da Batata, se tornará apenas um ponto - ainda que relevante - do corredor e não o núcleo central.
Na zona leste, o mercado já escolheu Tatuapé, como o seu novo centro e Itaquera poderá ser um novo subcentro, mas vinculado ao Tatuapé.
O "extremo leste" tenderá a ser polarizado pelos centros dos municípios vizinhos e não pelos polos de São Paulo.
Na zona oeste, o Município não tem um braço longo, perdido para Osasco, ficando a Lapa, como o polo comercial, concorrendo com a Vila Leopoldina o desenvolvimento imobiliário. Essa seria a extensão oeste do corredor Faria Lima/ Berrini, que precisa ser batizando com um nome significativo. Tem, do outro lado, a concorrência da Água Branca.
Na zona norte, o centro tradicional é Santana, mas sob risco, em função da extensão do metrô até Tucuruvi.
A zona sul pode ser dividida em duas: o sul próximo polarizado por Conceição / Jabaquara e o "extremo sul" polarizado pelo Largo Treze.
E o centro tradicional? Sobreviverá como polo, dentro dessa nova cidade polinucleada?
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