sexta-feira, 6 de março de 2015

A angústia da véspera

Amanhã ou depois de amanhã, sai oficialmente a lista do Janot. Vai sair, porque do contrário os vazamentos vão infernizar a vida de quem está e quem não está e causar uma confusão jurídica.

Todos os nomes que foram citados pelos delatores foram listados por Janot, dividindo-os entre os quais ele pede para aprofundar as investigações e aqueles para os quais ele já pede o arquivamento. Duas pessoas teriam sido incluídas com base no "ouvi dizer" por parte dos delatores, sem provas ou maiores informações. Seriam a Presidente Dilma e o Senador Aécio Neves. Estão na lista dos pedidos de arquivamentos.
Eduardo Cunha também está na lista, mas provavelmente no mesmo grupo. Apenas a indicação do "ouvi dizer". Mas o Procurador poderá ter passado para a outra lista, por conta de uma reiteração do "ouvi dizer". Ai seria por razões políticas e não técnicas.
Já Renan Calheiros está na lista das investigações e ele bem sabe disso, assim como as razões para tal. As suas dúvidas intimas seriam: onde foi que eu errei? Ou melhor, qual foi a ponta que deixei solta?
Como defesa prévia operou um conjunto de manobras, para a alegar que a inclusão do seu nome foi por razões políticas, influenciadas por interferências do  Planalto. Por essa razão não aceitará as acusações, não irá renunciar e se manterá no cargo de Presidente do Senado, até que as investigações cheguem a alguma prova contundente.

Para fazer valer a sua versão, adotou medidas que desagradaram o Planalto. Para caracterizar um processo de retaliação. E fez mais. Fez circular uma informação de que ele estaria na lista, vazada por algum aloprado do Planalto. Junta isso com a reunião secreta havida entre Janot e Eduardo Cardoso, para dar veracidade a sua versão. E maldosamente diz que Janot está em campanha. Ele precisa ser escolhido pelos seus pares, mas a escolha final cabe à Presidente, dentro de uma lista triplice. Se desagradar o Planalto poderia não ser o escolhido, mesmo sendo o mais votado. A sutileza de anta de Calheiros, tem endereço certo.  Não vai adiantar no processo, mas ele terá tempo para permanecer no cargo, sem se sentir obrigado a renunciar, apesar das pressões, por conta da versão da retaliação por parte do Planalto.

O que ele irá fazer, permanecendo no cargo?

O cargo lhe dá uma série de prerrogativas institucionais, mas o poder real dependerá do apoio dos senadores. A sua eleição demonstrou que apesar da bancada da oposição e de  dissidentes da base aliada ele ainda tinha a maioria. 

Essa maioria não é formada em bases ideológicas, partidárias ou programáticas, com uma visão comum de Brasil e de mundo, mas de interesses pessoais que dependem do Executivo. 

O líder no Senado é lider porque tem uma relação com o Executivo de divisão de cargos e poderes decorrentes, dentro da máquina estatal. Acorda com o Executivo os cargos e programas de apoio a governadores e prefeitos, em troca da aprovação das medidas legislativas que o Executivo quer. Em raros casos os Senadores se rebelam, por não concordarem com alguma dessas medidas. 

Renan Calheiros é um interlocutor privilegiado nessas relações com a Presidência da República, seguindo o estilo implantado e longevo de José Sarney. As relações são sempre de alta educação e com discursos bem articulados, que conseguem esconder as reais intenções e fatos.

Renan, aparentemente rompeu o modelo, respondendo com malcriação as do Palácio do Planalto. Recusou o convite para um jantar com a Presidente e devolveu uma Medida Provisória, crucial para o ajuste fiscal.

Com a mudança do tom, ele conseguirá restabelecer as suas pontes com o Planalto? A Presidente acederá com as reivindicações ou "chantagens" de Renan? Se depender da equipe do Planalto não.

A expectativa do Planalto era de que com a inclusão de Renan na lista negativa de Janot, ele ficaria enfraquecido, perderia a condição de liderança junto aos seus pares, sendo levado à renúncia, abrindo espaço para um predomínio petista no Senado.

A grande esperança (desejo ou vontade) do Planalto era aproveitar a oportunidade para fazer o PT assumir o controle institucional do Senado e o submeter aos seus desígnios, como sempre desejou. 

Com Sarney e Renan não precisava ter esse controle formal, porque ambos cumpriam esse papel de subordinação do Senado às vontades palacianas.

Renan mandou um "recado" de que a partir de agora "tudo será diferente". Mas, evidentemente, deixando espaço para que "tudo continue na mesma."

Supostamente o que ele quer é uma sobrevida, adiando a sua queda para 2017, admitindo que dificilmente será reeleito Presidente do Senado. Manteria o poder formal, ainda que enfraquecido. Seria um "pato manco" no Legislativo, negociando com uma "pata manca" na Presidência. O problema dele é que na Câmara o novo presidente ganha força a cada dia, passando a ser "o dono do Congresso".

Não está ainda claro como os senadores da dita base aliada, irão reagir diante da perda de espaço, prestígio e influência do Senado diante da Câmara dos Deputados? Na disputa por espaços na Administração o PMDB não é uno. O PMDB do Senado quer a sua cota, disputando com o  PMDB da Câmara. E agora tem o PMDB da Dilma. Nenhum das duas facções legislativas aceita Kátia Abreu como cota do partido.

Qual será o nível de poder que remanescerá com Renan, depois da Primeira Lista de Janot? 

(cont)



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