terça-feira, 10 de março de 2015

Formação e expansão da quadrilha

A divulgação dos nomes iniciais do núcleo político que estariam envolvidos com o  "petrolão" deu indicios de como o processo se iniciou, o mentor do esquema e como se desenvolveu a partir do núcleo inicial. Posteriormente esse núcleo teria se expandido, mas não está mostrado como isso se organizou, a menos das linhas gerais.

A origem e o principal mentor já eram conhecidos. O "petrolão" foi uma migração do esquema do "mensalão" quando as investigações a respeito desse, provocada pelas denúncias de Roberto Jefferson, interrompeu o processo.

José Janene, o coordenador do PP no mensalão, levou o esquema para dentro da Petrobras, usando um importante parceiro: Paulo Roberto Costa. Mas ele  sozinho, dentro da Diretoria de Abastecimento não podia viabilizar o esquema que precisava de um outro ponto de apoio e uma anuência: da Diretoria de Engenharia que promovia os contratos e da Presidência.

Para a Diretoria de Engenharia o esquema contava com outro importante parceiro: Pedro Barusco, com um grande antecedente de operações não contabilizadas dentro da empresa.
Mas talvez porque ele já fosse visado, a solução acordada foi designar para a Diretoria, Renato Duque, então acima de qualquer suspeita e competente técnico, para dar cobertura às operações que seriam inteiramente conduzidas por Barusco, designado como o seu principal auxiliar.

Dentro do acordo com Janene, o PP ficaria com a Diretoria de Abastecimento, operando a partir dela, mas repassando parte para o PT. Esse, por sua vez, ficaria com a Diretoria de Engenharia e Serviços, sem dividir com ninguém, os contratos das demais áreas.

Sabe-se que o interlocutor do PP para a montagem do "petrolão" era Janene. Não se apurou ainda quem seria o interlocutor do PT. Há apenas suposições.

Janene simplesmente transferiu a fonte, mantendo o esquema do mensalão. Recebia os recursos e promovia uma distribuição mensal aos seus colegas, supostamente segundo a "força política" de cada um dos beneficiarios. Fazia com "sabedoria" mantendo a fidelidade que repassava ao Governo, na forma de apoio à aprovação de medidas do interesse desse. E tinha ainda a contrapartida do controle parcial do Ministério da Cidade. Ganhava o Ministério e uma ou duas Secretarias, mas as principais continuavam com o PT.

Com a sua morte, a coordenação do esquema rachou. O primeiro grupo sucessor que teria Mário Negromonte, como líder e, como tal foi guindado, com a posse de Dilma Rousseff, no seu primeiro mandato, em 2011. Foi derrubado pelo seu próprio partido, sob a liderança de Cyro Nogueira, que colocou Aguinaldo Ribeiro no lugar de Negromonte. E esse novo grupo continuou operando o esquema do petrolão, aparentemente até a prisão de Youssef e de Paulo Roberto Costa. 

Essa interrupção teria causado grande baixa nas eleições de 2014, com redução do poder do PP.


Aparentemente o esquema dos demais partidos não replicou o modelo inicial que era de "mensalão" de Janene, isto é, do PP.

As informações até aqui divulgadas, com base em delações premiadas, dizem que para a manutenção do lote do PP (a Diretoria de Abastecimento) foi necessário incluir o PMDB e o PT. Esses teriam os seus lotes, mas queriam mais. 

As investigações posteriores terão que apurar quem eram os coordenadores do esquema por parte do PMDB e do PT. O que está identificado até agora é quem são os operadores, mas não quem eram os chefes deles. E como eram distribuídos os recursos.

No caso do PT supõe-se que haja unidade, mas não no caso do PMDB. Esse sempre se dividiu, nas questões fisiológicas, entre o PMDB do Senado e o PMDB da Câmara. O PMDB do Senado é dominado há muito tempo por um quarteto: José Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá e Waldir Raupp. Sarney se aposentou e, aparentemente não operava diretamente, deixando a missão a cargo de Edison Lobão. Renan controlava a Transpetro, mas não fica claro se era ele o chefe de Fernando Baiano. 

Na Camâra o principal líder era Henrique Alves, com a dissidência de Eduardo Cunha. Com o afastamento de Alves, que se candidatou à Governança do Rio Grande do Norte e perdeu, Eduardo Cunha assumiu a liderança. Mas no período do "petrolão" o comando era de Henrique Alves, que nesta fase, conseguiu se safar. O seu processo foi arquivado.

Na coordenação geral do partido, sempre esteve Michel Temer. O que não quer dizer que fosse o "chefe da quadrilha". Da mesma forma que Janene não era o presidente do PP. 

Mas enquanto esse repetiu o esquema do mensalão, o PT não o repetiu. Aparentemente, o modelo do PT foi a transformação das propinas em doações legais para as campanhas eleitorais. Um mecanismo inusitado de lavar o dinheiro sujo. Que não constava dos manuais estudados pelo Juiz Sérgio Moro. 

De toda forma, falta identificar os chefes. Parece que essa é a principal obsessão do Juiz Sérgio Moro. Agora a Polícia Federal e a Procuradoria Federal podem aprofundar as investigações. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...