Fez o leilão da renovação da concessão da ponte Rio-Niteroi, Essa tinha sido a primeira concessão rodoviária federal, realizada em 1995, com prazo de 30 anos, vencendo agora.
O Governo teria a alternativa de negociar a prorrogação do contrato, diante das muitas crises e das suspeições sobre as principais construtoras nacionais, entre elas a Camargo Correa, a principal acionista da CCR, a atual concessionária.
Havia ainda uma outra suspeição. A preparação da licitação foi feita no formato de MIP (manifestação de interesse privado) com a autorização para que um interessado preparasse os estudos preliminares, indicando as obras necessárias, avaliando a viabilidade econômica-financeira, propondo o preço básico, e preparando o edital de demais documentações necessárias à licitação. Tudo por sua conta e risco, só sendo remunerada, caso a licitação fosse efetivada, pela vencedora. Que poderia ser ela mesma. Nas concessões (comuns ou por ppp) o projetista pode participar da licitação da obra.
A suspeição era de que a empresa que elabora os estudos preliminares, teria informações privilegiadas e estaria em condições favorecidas em relação aos demais concorrentes, contrariando o conceito da igualdade de condições.
De outra parte, com os riscos de declaração de inidoneidade de várias das principais construtoras brasileiras, apontadas como participantes de um cartel de fornecedoras da Petrobras havia o risco do certame não ter interessados.
Com a instabilidade do ambiente econômico, incluindo a insegurança em relação ao financiamento pelo BNDES, embora previsto, havia o risco de falta de competição. Mesmo havendo interessados, uma expectativa era de que as propostas teriam baixo deságio, ficando todas próximas ao valor básico.
Os fatos contrariaram as expectativas e as perspectivas pessimistas.
Seis grupos apresentaram propostas:
- a própria CCR, atual concessionária e responsável pelos estudos prévios;
- dois grupos já tradicionais, com importante carteira de concessões: a Eco Rodovias, do Grupo C.R.Almeida e a Construtora Triunfo. Esses dois grupos apesar de grande experiência no setor de construção de obras de infraestrutura foram alijados do cartel da Petrobras ou, prudentemente, preferiram não entrar. Não correm o risco, a curto prazo, de serem declaradas inidôneas e estão entre as mais preparadas para tomar o lugar das grandes, se essas forem declaradas inidôneas.
- dois recém chegados ("newcommers") buscando um espaço dentro das concessionárias rodoviárias: o grupo Bertin, e a construtora capixaba A.Madeira que está em disputa com a Eco Rodovias na concessão do trecho da BR 101, que cruza o Estado do Espirito Santo e se associou ao grupo Coimex, a principal trading brasileira e também de origem capixaba.
- e, finalmente, o grupo especializado em logística, sendo uma das maiores do setor, a Julio Simões Logística, testando a sua participação em concessões rodoviárias.
A CCR caiu numa armadilha e acabou ficando praticamente sem margem de manobra. Ao elaborar os estudos prévios, apontando o preço básico, ficou sem poder baixar muito os valores. A sua única margem está na estimativa dos lucros. Foi obrigada, por questão de coerência, confirmar o preço do seu estudo, com pequena variação. Acabou ficando com o preço mais alto entre todos os concorrentes. O que seria uma vantagem indevida, por dispor de informações privilegiadas, acabou virando uma desvantagem. E uma vitória para o Governo.
A experiência da MIP da ponte Rio-Niteroi indicou que não convém a um interessado na concessão assumir os estudos prévios. O que parece ser uma vantagem vira uma desvantagem porque o seu preço se torna conhecido previamente e os concorrentes apresentarão os preços tendo aquele como referência.
Se definir um preço nos estudos e propuser outro na licitação será questionado administrativa ou judicialmente, por ter omitido informações que lhe deram condições de propor um valor diferente.
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A CR Almeida, uma das poucas das grandes empreiteiras não envolvidas no petrolão, muito interessada na concessão, teve que dar uma proposta agressiva, pressionada pelo seu grande desafeto a A.Madeira, com a qual disputou judicialmente a concessão da BR 101 e venceu. Apresentou um deságio de 36,67% enquanto o Consorcio Nova Guanabara, liderada pela empreiteira capixaba, chegou a 35,23%.
Com o resultado do leilão, o Governo conseguiu importantes vitórias, embora não possam ser caracterizadas como uma grande virada, num jogo que está perdendo de goleada:
- viabilizou a retomada do programa de concessões, pois teve a confirmação da manutenção de interessados, entre os que não foram envolvidos pela Operação Lava-Jato, entre elas empresas de grande porte;
- demonstrou a legitimidade dos processo de MIP ou PMI, para preparar os estudos prévios, mas com uma limitação factual e não legal: não convém a interessados na concessão em assumir da MIP, porque a sua proposta se torna aberta e de conhecimento dos concorrentes;
- conseguiu baixar o valor das tarifas, o que a Presidente vai usar como "munição" contra o seu principal adversário: "a tarifa do FHC é de R$ 5,18. A minha é de R$ 3,28". Mesmo deixando de lado as picuinhas a redução vai vai ajudar a conter - ainda que pouco - a inflação.
Como sempre o tempo dirá que está com a razão.
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