domingo, 25 de dezembro de 2016

Ainda a mobilidade urbana

Resolver o nó da mobilidade urbana em cada uma das cidades é o grande desafio das autoridades municipais e metropolitanas (essas de âmbito estadual) com o apoio do Governo Federal.

A primeira condição para enfrentar o problema é escapar da armadilha estatística. Não há congestionamentos e o comprometimento da mobilidade urbana em todas as cidades brasileiras, tampouco dentro de toda a cidade.

O problema de congestionamento ocorre nas vias principais da cidade, nas vias estruturais, sejam as  radiais que fazem a ligação do centro com os bairros, assim como as perimetrais e arteriais. Nas vias locais a falta de mobilidade ocorre apenas nos horários de pico ou em situações excepcionais. 

Isso ocorre porque o sistema viário foi concebido tradicionalmente como "espinha de peixe" onde os trânsitos locais são canalizados para as vias estruturais. 

No caso de São Paulo, como em outras grandes cidades as principais estratégias já foram implantadas ou em processo de implantação, mas os resultados tem sido ineficazes, com a piora sucessiva da mobilidade urbana.

São Paulo é a cidade brasileira pioneira na implantação de sistemas metroviários e a rede mais ampla, mas pequena em amplitude regional, e muito abaixo dos padrões internacionais, em termos de quilometragem. 

A primeira linha metroviária implantada em São Paulo foi a Norte-Sul (atualmente linha azul), por baixo de um sistema viário que começa ao norte na Avenida Cruzeiro do Sul, segue pela Avenida Tiradentes, Av. Prestes Maia, cruza o centro na Praça da Sé, segue pela Avenida Liberdade, ruas Vergueiro e Domingos de Moraes, Avenida Jabaquara, Avenida Armando de Arruda Pereira até alcançar a Estação Jabaquara. Posteriormente foi ampliada na direção norte até chegar, atualmente, ao Tucuruvi.

Com um sistema de transporte coletivo de grande capacidade, seguro, rápido e com relativo conforto (os primeiros vagões não tinham ar condicionado) a expectativa era de desafogar o trânsito nessas avenidas, com a substituição do carro pelo metrô. E com isso melhorar a mobilidade urbana. 

Não foi o que ocorreu. O metrô passou a carregar um grande volume de pessoas. Mas vias superficiais continuaram com grande volume de trânsito, com grandes congestionamentos no horário de pico. 

O metrô promoveu um grande adensamento do entorno, com grande verticalização nos entornos das estações. 

E provocou um efeito perverso, ou seja, oposto do esperado. Nas regiões próximas às estações houve uma redução de oferta de trabalho. Apesar da construção de diversos prédios de escritórios. 

A verticalização e a valorização imobiliária promoveu a "expulsão" dos pequenos comerciantes e mesmo de pequenos escritórios. Os pequenos comerciantes do varejo ou de gastronomia (restaurantes, bares e lanchonetes) sem condições de pagar os novos alugueis e impostos, fecharam ou migraram para periferias mais distantes, para onde também migraram muitos dos moradores. Os pequenos escritórios, também diante da elevação dos custos, tiveram que migrar. Oficinas de consertos de material doméstico, tintureiros e outros diminuiram ou até desapareceram.
A geração de empregos pelos novos escritórios, lanchonetes e restaurantes modernos foram menores do que a perda de emprego e trabalho de atividades tradicionais.
         
O mesmo ocorreu com outras linhas metroviárias, sendo a mais emblemática a linha sob a Avenida Paulista. A linha verde nos horários de pico fica inteiramente lotada e parcialmente lotada. Mas a Avenida Paulista está congestionada todo o tempo. O mesmo ocorre com a linha amarela, essa com maior conforto, que mesmo correndo abaixo do corredor Rebouças, Consolação, não melhorou a mobilidade nesse, uma das vias permanentemente mais congestionadas da cidade de São Paulo. 

A dinâmica urbana muda as circunstâncias e o planejamento por mais amplo e integrado que seja não tem condições de prever todos os impactos reais das intervenções urbanas. 

A decisão do motorista leva em conta diversos fatores, entre eles a disponibilidade de estacionamento. Mas a falta de estacionamento não está entre os principais fatores que o levariam a deixar o carro em casa, ou mesmo não ter carro, para utilizar o transporte coletivo. O principal fator para manter o uso do carro é exatamente a necessidade de mobilidade para acesso a diversos locais da cidade, ainda mal servidos de transporte coletivo de qualidade. 

Metrô é solução, mas é ainda insuficiente. Enquanto a cidade não tiver uma ampla rede metroviária, precisará ter uma ampla rede de estacionamentos.   



 

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