Avenida
Paulista: está fechada ou aberta aos domingos?
Depende do ponto de vista e
do usuário: para os motoristas fechada. Para os moradores que querem
sair de carro, fechada. Para os ciclistas, aberta. Para os que querem
passear na avenida, aberta.
Para os estacionamentos com entrada ou acesso pela Avenida Paulista, fechada.
Os que acham que ela está fechada não gostam e muitos são contra. Os que acham que ela deve ficar aberta aos pedestres e ciclistas são a favor.
A
regulamentação da abertura/fechamento da Avenida Paulista nos domingos,
por decreto do Prefeito Haddad, mais que um evento urbanístico é uma
jogada de marketing político.
Uma
das críticas feitas por alguns urbanistas é a escolha da Avenida
Paulista, uma via com grande tráfego de veículos, para o programa de
ruas abertas em vez de fazê-lo em outra via, mais ao centro. Na verdade
já existe: o Minhocão é fechado para os carros nos domingos. Mas tem um
movimento bem menor do que o da Avenida Paulista. E muito menos
polêmica. Há uma aceitação quase total dos usuários, moradores e
população em geral.
Por que não abrir mais vias para o lazer, no centro da cidade, até como mecanismo de revitalização?
Por
uma razão simples: não há mídia. Não dá visibilidade para a opinião
publicada. E o Prefeito, como todo político está menos preocupado em
atender melhor a população, do que ter a repercussão de seus atos na
mídia. Na suposição de que essa exposição lhe dará mais votos.
Certamente
o Prefeito Haddad com a Avenida Paulista aberta aos domingos para o
lazer ganhou alguns votos da opinião publicada, principalmente da
classe média. Mas peredeu muitos votos da classe pobre que
reivindica melhorias práticas no bairro onde mora.
O
discurso populista não se aplica apenas sobre as classes de renda mais
baixa, de pouca escolaridade e que não lê jornais ou revistas. O
conhecimento desses sobre a cidade pode se dar pela televisão, onde os
noticiários são 90% de violência, acidentes e outras tragédias onde
corre sangue. A sua preocupação é com as condições do mundo em que vive,
o seu bairro, o trajeto ao local de trabalho, o bairro onde trabalha.
Este só serve para uma comparação negativa de onde mora.
O
cidadão e eleitor que mora distante da Avenida Paulista espera que o
Prefeito o visite, conheça pessoalmente as condições de vida do seu
entorno (o "habitat", no jargão dos urbanistas) e tome providências para
melhorar. Pode até ficar na promessa, mas o eleitor fica mais
confiante. E pode até votar nele.
Abrir
ou fechar a Avenida Paulista não foi importante para a decisão da
eleição, embora vá ser uma dos principais itens da pauta da midia com os
candidatos. Por uma razão simples, tantos os jornalistas como os
editores são predominantemente da classe média que é afetada
emocionalmente pela questão. Aos domingos eles poderão se sentir "dono
da Avenida". Agora a mais famosa da cidade, desbancando as tradicionais
avenidas São João e Ipiranga, cada vez mais restrita aos sambas
paulistas.
O
que significa que o novo Prefeito, eleito predominantemente pelos votos
da opinião não publicada, poderá manter a medida de abertura/fechamento
da Avenida Paulista, não sendo um decreto, e até mesmo uma lei que vá
garantir a sua permanência, nas próximas gestões.
É um ato de vontade política, com o apoio maciço dos usuários, mas não de todos que votam.
E
o resultado poderá ser semelhante ao que acabou de ocorrer no Reino
Unido. A opinião publicada estava maciçamente a favor de permanência,
principalmente os jovens e os favoráveis à modernidade. Mas a opinião
não publicada preferiu a tradição e aos sonhos de restabelecer o império
britânico: "onde o sol nunca se punha".
Diferentemente
do Brasil em que a opinião não publicada é da população de renda mais
baixa, esse segmento, embora educada e com renda, foi desprezada pela
grande mídia.
Essa volubilidade ou volatilidade da política gera insegurança aos negócios. E o resultado poderá ser a decadência econômica da Avenida Paulista, repetindo o que já ocorreu com o centro.
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