sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Opinião Públicada virtual

Não sei se há algum medidor para avaliar o tamanho da opinião publicada virtual. É formada pelas pessoas que vêem jornais e revistas apenas na forma visual e não na forma impressa, vêem os vídeos, lêem o que interessa, com notícias sumarizadas e com pouca visualização dos artigos ou comentários. A sua opinião é formada pelas pílulas do noticiário.
A opinião publicada virtual é manifesta, pelos comentários colocados em relação às matérias. 
Diversamente dos jornais impressos que só podem dedicar um espaço pequeno para a opinião dos leitores, com um grande peneira por parte dos editores. A restrição de espaço e a necessidade de seleção acaba se transformando numa forma de censura da opinião não publicada.
Já na internet cada comentário, cada artigo num blog, ou notícia  pode receber dezenas de comentários, às vezes centenas, sem limitações. Isso faz com que haja muito lixo, ofensas, termos inadequados, mas reflete uma parte da opinião publicada. 
tirinha andré dahmerPara conhecer melhor a opinião publicada virtual é preciso ter tempo e paciência para ler os comentários, "sem se jogar pela janela". 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Por que queimar os ônibus?

Um ônibus queimado por dia. É o que está ocorrendo em janeiro deste 2014, na Região Metropolitana de São Paulo. Segundo as interpretações divulgadas pela mídia, oferecidas pela autoridades seriam retaliações a prisão, morte de criminosos, ações violentas da Policia Militar ou ainda atropelamentos de moradores.
São tratadas como ações isolados de vandalismo, por pequenos grupos de vândalos, muitos deles menores.
No entanto, a reiteração e o volume das ocorrências requerem avaliações melhor das suas razões, principalmente tendo em vista as repercussões.
Ocorrem em periferias e os primeiros a serem prejudicados são os moradores que tem uma piora do serviços, com a redução de ônibus em circulação, ainda que tenham sido das reservas técnicas. Agora piora com a não circulação dos ônibus em horários mais avançados. Os moradores vão ficar ainda mais isolados e alguns com problemas de emprego e trabalho.
A destruição dos ônibus prejudica os planos do Prefeito, que tem na melhoria dos serviços por ônibus a sua principal prioridade de implantação, com o estabelecimento das faixas de ônibus e a perspectiva de construção dos corredores e operação dos BRTs.

As maiores ocorrências são na periferia da Zona Sul do Município de São Paulo, o principal reduto eleitoral do PT e, mais precisamente, dos Tatos, sendo um dos irmãos, Jilmar, o Secretário Municipal de Transporte;

Será apenas uma reação da população ou há "algo mais no ar além dos aviões?"

O que querem os vândalos? Como a população local vai reagir?

A opinião publicada fica chocada, mas não passa disso. A mídia só dá cobertura no dia sobre a ocorrência e agora vai ficar na demonstração dos números. Só dará maior importância se resultar em mortes, mais ainda se for de crianças. Afinal não a afeta diretamente. Os incêndios de ônibus não ocorrem nos bairros de classe média. E a opinião publicada anda de carro. 

Supostamente as ações são praticada por grupos e motivações distintas. Haveria a retaliação de grupos criminosos contra as autoridades pela prisão ou morte de companheiros. Outra parte seria de moradores em reação à atropelamentos, enchentes ou mesmo mortes, percebidas como injustificáveis de jovens locais.

O que eles pretendem? Por que se voltar contra os ônibus?
Porque seriam símbolos da autoridade? do Poder Público? 

Os objetivos das facções criminosas é de confronto.  A retaliação é um processo sucessivo: "olho por olho, dente por dente". É a barbárie, mas ainda presente. Isso choca a opinião publicada. Essa quer uma ação pública para estabelecer o processo civilizatório.

Mas, quais seriam os objetivos dos próprios moradores, que praticam essas ações?
Seria para chamar maior atenção das autoridades para as suas comunidades? Na prática o que conseguem é maior presença policial. O que não quer dizer - necessariamente - maior segurança. Os serviços públicos não melhoram. O de ônibus pioram. 

Mas porque queimar os ônibus se os primeiros a serem prejudicados são os moradores  locais? Será que eles acham que queimando os ônibus as autoridades irão tomar providências para melhorá-lo? Será que querem maior segurança, mas a presença policial poderia só aumentar os casos geradores das revoltas.

Por que os próprios moradores não controlam os seu jovens? Seriam eles os nem-nem-nem? Nem estudam, nem trabalham, nem estão ai. 

Assim como ocorreu com o episódio dos rolezinhos, a opinião publicada, as autoridades não conseguem entender a cultura e as motivações das comunidades periféricas.

Eu confesso a minha incompetência.










quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Padrão FIFA x padrão cubano

Diante das manifestações de rua reclamando por padrão FIFA para a saúde pública, o Governo respondeu com o programa "Mais médicos". 
Esse programa já está melhorando o atendimento de parte da população, mas nada tem a ver com o "padrão FIFA".  O programa introduz o "padrão cubano".
O "padrão FIFA", na saúde requer investimentos e tecnologia. O "padrão cubano" compreendo o atendimento com médicos, com poucos recursos tecnológicos, baseados mais na sensibilidade e experiência pessoal. Satisfaz quem não tem nenhum atendimento médico, por falta de profissionais, mas não atende a quem está em situação de urgência ou emergência. Não atende a quem precisa de atendimentos de segundo nível ou ainda mais complexos.
A população dos "grotões" e das periferias mais carentes estão e ficarão satisfeitos com o "Mais médicos".
Mas não foram eles que estiveram na Av. Paulista em junho do ano passado, com cartazes pedindo "padrão FIFA para a saúde pública". A imagem que os manifestantes, a  maioria integrantes da opinião publicada, sobre os problemas da saúde pública são as reclamações sobre as demoras no agendamento de especialidades e nos pacientes em maca ou em condições precárias de atendimento.
A resposta do Governo ao "padrão FIFA" na saúde pública é de escapismo, com a proposta do "padrão cubano", como alternativa. 
O povo irá aceitar?

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Estratégias perigosas

Não creio que haja um pensamento estratégico das autoridades para enfrentar as prováveis manifestações contra os gastos da Copa, quando da sua realização em junho e julho deste ano.
Mas se há, a estratégia foi efetivada, apesar de alguns exageros.
O objetivo principal é esvaziar as manifestações, limitando-as à participação de ativistas e dos black blocs. Não se tem mais como objetivo impedir as manifestações, porque o Governo admite que elas serão inevitáveis. 
Para isso há duas frentes: uma primeira é sua caracterização. A outra é de intimidação das massas de manobra.

A Rede Globo insiste que as manifestações são contra a Copa. Uma parte é, mas outra - provavelmente a principal - é contra os gastos com a Copa: não contra ela. A maioria é favorável à realização da Copa no Brasil. Mas se opõe à sua preparação e aos gastos, uma parte principal com recursos públicos. 
A reiteração de que as manifestações são contra a Copa, as autoridades, a FIFA e seus patrocinadores, com o apoio da mídia querem que a sociedade não apoie as manifestações. Se retirar essa adesão, as manifestações terão pequenos grupos, sem maior expressão.

A segunda é caracterizar a violência dos grupos, indicando que elas sempre terminam com vandalismos, depredações, queima de ônibus e outros atos predatórios. É só dar espaço aos black blocs e aos radicais que isso irá acontecer. E a polícia poderá ter pessoas infiltradas para dar partida. 

Nas manifestações do sábado em São Paulo o volume total era relativamente pequeno. Havia mais contingente de policiais mobilizados do que manifestantes. Mesmo depois de terminada a caminhada principal, com a dispersão e a formação de pequenos grupos, com intenções predatórias, as frentes eram poucas, concentradas no centro da cidade e poderiam ser controladas. 

Mas, estranhamente a polícia deixou espaço para os atos de vandalismo, todos acompanhados pela mídia, devidamente documentados. A tentativa de virar um carro da policia civil metropolitana e o incêndio de um fusquinha, condução tipica da periferia, usado como instrumento de trabalho de um serralheiro, foram acompanhados pelos helicópteros, sem a presença pronta da PM que deveria estar nos arredores.

Posteriormente a polícia deixou que um grupo de vândalos, acompanhados por "seguidores" e curiosos depredassem e pichassem uma concessionária de veículos, na rua Augusta, para então o acuar mais acima. Cercados refugiram se num hotel então invadido pela PM que efetuou a detenção de mais de 100 pessoas.

As fotos e os dados das pessoas detidas mostram que a maior parte não era de vândalos, mas jovens de periferia que foram ao centro para um "rolezinho" aproveitando o feriado.

A ação cinematográfica da PM não foi apenas para deter os manifestantes. Foi para intimidar os "inocentes úteis" que não vão se arriscar  de novo e "entrar de gaiato".

Participar de manifestações passará a ser um atividade de risco e ir para a "guerra". Muitos não estarão dispostos a ir por ser contra a Copa. 

Esse seria, segundo a teoria da conspiração, o objetivo principal. 

Novas manifestações serão convocadas, depois do Carnaval, novos vandalismos vão ocorrer, planjeando o ápice das manifestações em abril, maio e esvaziadas em junho/julho.

Irão conseguir?

O risco do efeito colateral é assustar os turistas estrangeiros que poderão cancelar a sua vinda, com receio das manifestações.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O que aconteceu em São Paulo, no final de semana

Em todo o Brasil pessoas estão tentando mobilizar a população contra os gastos com a Copa no Brasil. Através das redes sociais fizeram as convocações que, como sempre receberam milhares de adesões, mas na hora H aparecem apenas alguns. Nas diversas cidades houve reunião de poucas centenas ou apenas dezenas de participantes.
Só em São Paulo, que coincidia com o aniversário da cidade, uma dia feriado e com diversas comemorações, houve uma movimentação e participação maior.
O grupo que convocou a manifestação ocupou o vão do MASP, marcado como início da caminhada, na véspera e preparou os cartazes e faixas.


Cerca de 50 manifestantes acamparam no local para o que chamaram de "Primeiro Grande Ato contra a Copa do Mundo".
O grupo que se autodenominou "Se não tiver direitos não vai ter Copa" .
De acordo com o manifesto divulgado pelo grupo, o movimento é "contra os gastos bilionários da Copa e a favor de um melhor sistema de transporte, moradia e saúde para a população." 


O Governo do Estado teria mobilizado um contingente de 2.000 militares para monitorar a manifestação, com os soldados enfileirados em torno da Avenida Paulista, para manter os manifestantes na faixa de rolamento e a tropa de choque em prontidão para enfrentar qualquer tumulto ou alguma ação violenta por parte de manifestantes.
Como era feriado, as pessoas e famílias que sairam às ruas foram para as comemorações, a via estava com pouco trânsito e tranquila. 
A concentração, segundo estimativas oficiais, reuniu cerca de 700 pessoas, apesar de cerca de 23.000 terem respondido à convocação. Era praticamente uma relação de 3 policiais para cada manifestante.
Mas já na concentração uma grande presença de mascarados indicava uma forte adesão dos black blocs ao evento. Eles tinham sido convocados, paralelamente, à organização inicial da manifestação e com
disposição de retomar as ações que ficaram incubadas e em compasso de espera.
A tática do black blocs não é mobilizar os seus adeptos para manifestações próprias, mas se juntar às outras. 
Ativistas de movimentos políticos também se juntaram à manifestação que seguiu pela Av. Paulista e desceu a Av. Brigadeiro Luis Antonio, em direção ao centro e de forma pacífica recebendo sucessivas adesões, tendo chegado a cerca de 3 mil participantes, nas estimativas oficiais.
A caminhada teria terminado em frente à Prefeitura Municipal no Viaduto do Chá, iniciando-se a dispersão dos grupos. Os block blocs, em diversas frentes iniciaram ações de depredação, alguns documentados, outros não. A PM teria usado bombas de lacrimogênio para dispersar os grupos, sem contudo ter evitado as depredações.
Um grupo subiu pela Rua da Consolação e, junto à Praça Roosevelt, atacou e tentou virar um carro da Policia Civil Metropolitana e ao lado atear fogo num colchão que atingiu um fusquinha que tentou passar pela manifestação acompanhada pela reportagem da TV Globo pelo alto. 
Como sempre, "a Globo mostrou aconteceu. A Globo não mostrou não aconteceu". Toda mídia repercutiu essas duas ações que não tiveram danos maiores, a menos do pobre serralheiro que passou pelo lugar errado na hora errada. Além do susto perdeu o seu veículo de trabalho. Foi a maior vítima das manifestações, que nada tinha a ver com essas.

O mesmo grupo ou outro, pois estavam nas imediações se dirigiram para a rua Augusta e na subida, acima da Praça Roosevelt (ver mapa) depredaram uma concessionária de veículo e ao passarem da quadra seguidos pelos policiais ficaram acuados com a tropa de choque que se postou do lado oposto. Cercados se refugiram dentro de um hotel. 
A tropa invadiu o hotel, evidentemente, autorizado ou ordenado pelo comando, com escopetas e atirando balas de borracha e em operação cinematográfica deteve todos os mais de 100 jovens manifestantes refugiados e até eventualmente algum hóspede, que depois de prestarem depoimento foram liberados pela manhã. Todos "são e salvos".
O perfil divulgado pela imprensa indica que a maioria era massa de manobra que "estava de alegre" acompanhando ou incentivando os black blocs. Esses eram minoria entre os detidos.
Como a operação foi documentada no seu início, e pela sua escala, tornou-se o outro grande fato da manifestação. Um grupo menor de black blocs que foi detido, por vandalismo no centro da cidade não recebeu a mesma atenção. Não foi documentado pela Globo, então "não aconteceu".

Mas ao final da noite, ocorreu um fato isolado que tomou conta do noticiário. Um jovem abordado pela Polícia Militar fugiu e, supostamente, tentou enfrentar os perseguidores. Recebeu dois tiros e está em estado grave na Santa Casa de Misericordia, bem proximo de onde foi baleado e levado.

Ao ser ferido com risco de morte, não importa mais o que fez ou o que é. Tornou-se a grande vítima da "truculência policial" e pode se tornar o mártir dos movimentos anti-Copa.

Esse episódio não estava no "script". 








Planejamento estratégico - manifestações anti s manifestações contra a Copa.

Os Governos estão convencidos de que haverá manifestações de rua anti-Copa nas doze cidades sede e ainda em alguma outra.
Precisam-se preparar para enfrentá-las da melhor forma, para minimizar os impactos negativos do país perante a comunidade mundial. A cobertura das manifestações, a reação policial, a sequência, com riscos de vandalismos e violência correrá o mundo. Durante a Copa a Imprensa Mundial estará presente nas cidades-sede. Alguns meios de comunicação anteciparão as suas equipes para cobrir eventuais manifestações prévias que podem afetar o fluxo de turismo. O potencial turista vai querer saber, antes da sua viagem, se haverá riscos ou não e pode até cancelá-la.

Por outro lado, sendo ano de eleições gerais, os Governantes estão e estarão preocupados com o impacto eleitoral dos acontecimentos.

Será, portanto, uma das principais questões estratégicas de 2014, envolvendo a inteligência militar. Essa pode não estar suficientemente preparada para entender e agir sobre manifestações populares urbanas. Não se trata de enfrentar um inimigo. Mas as estratégias, embora defensivas, deverão cuidar dos manifestantes como potenciais adversários.



As ações finais da Polícia Militar contra um  grupinho de supostos vândalos foi correta, mas executada de forma desastrosa.

Depois de encerrada a manifestação em São Paulo contra os gastos com a Copa, no processo de dispersão, um pequeno grupo, saindo o centro em direção à rua Augusta teria atacado uma concessionária de veículos, sendo perseguidos por uma tropa da PM. Subindo a rua Augusta, logo após cruzarem a rua Caio Prado teriam deparado com outra tropa que vinha em sentido contrário. Como manobra militar: perfeita.
Acuados os jovens se refugiram dentro de um hotel. A tropa entrou no hotel, com escopetas e atirando - provavelmente para o alto - determinou que todos se deitassem com as mãos na cabeça, numa operação cinematográfica.
Foi uma operação como se um bando de perigosos terroristas tivesse se refugiado. Todos foram presos, eventualmente, algum hóspede junto, também jornalistas e fotógrafos,  levados para a Delegacia, identificados e liberados. Alguns eram menores.
Não houve prisão em flagrante. 
O procedimento subsequente é avaliar as fotos e ouvir testemunhas e deter os identificados. 

Militarmente uma estratégia correta. A execução, com excesso de força, real e demonstrada irá gerar uma reação altamente negativa, com aumento das manifestações, agora em apoio aos que foram vítimas da violência policial.

Os Governos queriam a antecipação das manifestações para testar a sua preparação. Aparentemente se melhorou nas estratégias, apesar de falhas já apontadas aqui, mas continua com o principal ponto fraco: o adequado treinamento dos soldados e dos oficiais das tropas de choque que continuam atuando com violência despropositada.

domingo, 26 de janeiro de 2014

O retorno dos black blocs

Convocada como uma manifestação pacífica contra os gastos com a Copa 2014, os black blocs se juntaram aos manifestantes com o claro propósito de provocação e vandalismo.

As imagens de acompanhamento das movimentações, pelo helicóptero da Globo, mostraram situações estranhas. 
Ao longo da Av. Paulista duas fileiras de soldados  da PM, mantendo os manifestantes nas faixas de circulação, impedindo-os de acesso às calçadas e às frentes da lojas e agências, e sem responder às provocações dos black blocs. Os demais manifestantes se encarregavam de retirá-los das proximidades dos soldados. O mesmo era visto na Av. Brigadeiro Luis Antonio, por onde o grupo principal seguiu.

Passado algum tempo, ao sintonizar as imagens na Globo News, visões estranhas: um grupo tentando virar uma viatura da Policia Civil Metropolitana, e nas proximidades uma pequena fogueira junto a um Fusca que acabou pegando fogo, ficando inteiramente queimado, sem qualquer presença da polícia fardada, ou dos bombeiros. Isso na rua da Consolação, próximo à Praça Roosevelt, distante da Av. Brigadeiro Luis Antonio, indicando uma divisão dos manifestantes, com aqueles com fins beligerantes seguindo pela Consolação, em direção ao centro, sem o acompanhamento policial.

Num primeiro momento me pareceu uma falha estratégica de parte da Polícia, permitindo o fracionamento do grupo, sem o devido acompanhamento e proteção contra os vandalismos que acabaram ocorrendo.
Na sequência um grupo teria subido pela rua Augusta e após confronto com a PM  se refugiado num hotel, logo cercado pela polícia, com os integrantes detidos ao sairem.

Notícias subsequentes, não mostradas pela televisão, disseram que a polícia estava descaracterizada, ou seja, estavam em trajes civis, disfarçados de manifestantes e acabaram prendendo mais de 100 pessoas suspeitas de vandalismo.

A segunda impressão é que a manobra foi premeditada: esperaram que ocorressem os vandalismos, para poder prender, já que não poderiam prender por meras suspeitas ou para averiguações. Ocorrido o vandalismo, a polícia pode prender os vândalos, mesmo que apenas suspeitos, podendo até prender inocentes que nada tem a ver com as ações violentas. As fotos dos detidos e depois liberados, mostram que não eram, predominantemente, de black blocs.


As tropas podem se movimentar acompanhando as marchas. Podem ainda se dividir se os manifestantes se dividirem, incluindo a convocação de outros em reserva para cobrirem os novos trajetos. Se não fazem isso, por que não o fazem?

Seria por incompetência ou por manobra estratégica?

Permanece sempre a suspeita de que alguns dos black blocs são policiais "descaracterizados", ou melhor "caracterizados" como arruaceiros para intimidar e afastar os manifestantes legítimos e pacíficos.

Se esse era o objetivo, foi alcançado, mesmo antes do início. Um pequeno número de pessoas aderiu ao protesto. Menos de 1.000. 

Com a perspectiva de presença dos black blocs muitos dos protestantes não vão às ruas, ou não vão seguir o cortejo. Não querem confusão.

As manifestações durante os dois próximos meses estarão esvaziadas, até porque o que vai dominar será o carnaval. Esse sim vai levar multidões às ruas.

O que acontecerá a partir de abril?

sábado, 25 de janeiro de 2014

Vai ter Copa?

Vai ter Copa? Vai

A maioria do povo brasileiro é a favor da Copa? É

Vai ser a "Copa das Copas"? Vai

Vai ter manifestação de rua, durante a Copa? Vai

Quem irá às ruas, protestar contra a Copa?

Se o povo brasileiro, na sua maioria, é a favor da Copa, quer o seu sucesso, vai torcer pelo Brasil, então quem irá às ruas e por que?

A realização da Copa no Brasil, teve e terá diversas fases. A mais recente foi a construção dos estádios, dos aeroportos e da infraestrutura. Os estádios ficarão prontos. Os aeroportos e as obras de mobilidade urbana, apenas em parte. 

O essencial que são os estádios, onde ocorrerão os jogos estarão aptos a recebê-los e a organização da Copa é para o recinto fechado. Poderão ocorrer algumas falhas, mas serão de pequena monta, sem prejudicar a organização do evento que será "a Copa das Copas". Embora não seja mais que a obrigação de todo país sede de organizar uma Copa melhor que as anteriores, será alardeada - mundialmente, como a Copa das Copas. E lançará o desfio para que a Russia e depois o Catar superem essa Copa no Brasil. Vão.

A seleção brasileira irá bem? Provavelmente sim e vai empolgar os torcedores. 

Então por que ir às ruas? 

Os protestos não serão contra a Copa. Serão contra os gastos bilionários com a Copa, sem cuidar de outras coisas essenciais.

A Copa será das Copas. Mas porque não a Copa da Educação, a Copa da Saúde, a Copa da Segurança?

Por que não o "padrão FIFA" para os hospitais, postos de saude, escolas, presídios e outros equipamentos públicos?

O brasileiro se empolgará com a Copa, mas não vai esquecer as mazelas. Ficará orgulhoso com o brilhantismo da organização do evento, com todas as "vitrines" enfeitadas para "vender o Brasil ao mundo". Mas é só abaixar os olhos, ou desligar a televisão, para ver as vidraças.

Vai ter Copa. Irá ser um sucesso, mas não terá o condão de anestesiar a população brasileira. A dose não será suficiente e não adianta querer vender um clima de otimismo, como fazem o Governo e os patrocinadores. A realidade é outra e as pessoas irão às ruas.

As polícias brasileiras são incontroláveis. Os comandos não tem autoridade, por falhas éticas. Os soldados e os policiais subalternos irão bater nos manifestantes e só gerarão reações e movimentações maiores. 

Os manifestantes vão provocar os policiais, armados, mas despreparados psicologica e estrategicamente. Irão reagir às provocações com violência desigual, com uso de força excessiva. Será por instinto de defesa e sobrevivência. É o objetivo dos manifestantes para conseguir maior adesão social: "guerra é guerra"! 



sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Ultimatos e vontades

Depois de mais de 2.000 dias, desde a homologação do Brasil como sede da Copa e faltando menos de 140 dias para o seu início, constatados os atrasos nas obras os discursos públicos são de otimismo, voluntarismo e ultimatos, como se os problemas fossem de falta de vontade.
Na realidade o problemas são confrontos entre os agentes envolvidos.
No caso da Arena da Baixada, o clube não quer desembolsar mais do que orçado inicialmente, para não comprometer as suas finanças futuras, requerendo a complementação por parte dos Governos. Os Governos, pressionados pela reação negativa da população, não querem se arriscar a ampliar os recursos para os estádios. O ultimato dado pela FIFA é uma iniciativa estratégica, de acuar os governos, antes que ela seja acuada e ter que desembolsar os recursos para assegurar os jogos já programados para Curitiba.
O Atlêtico vai comprometer as suas quotas dos direitos de transmissão, mas - provavelmente - não vai querer ampliar além disso o seu endividamento, jogando o "mico" aos ombros dos Governos Municipal e Estadual da presença de Curitiba na Copa.
O problema do Governo Federal é de imagem, diante do mundo, pois não escapará da perspectiva de incompetência. Poderá afetar o fluxo de turistas e de investimentos, mas serão consequências marginais.
A FIFA não tem problemas físicos e técnicos para realocar os jogos. Ainda sobram 11 estádios e mesmo que mais algum outro fique de fora, há reservas, já que são essenciais apenas 8 estádios. 
O problema dela é com as seleções e com os patrocinadores. As seleções já estão fazendo o seu planejamento logístico e irão resistir às mudanças. Para elas o problema deve ser resolvido pela FIFA, alocando recursos seus se necessário para assegurar o que já estabelecido.
Mas acabarão aceitando as alterações.
Já os problemas com os patrocinadores poderão ser mais graves, dependendo da programação que esses tenham feito, considerando o mercado de Curitiba. 
Provavelmente também poderão ser contornados, mas não sem grandes, exaustivas e desgastantes negociações. 
Para a FIFA o melhor é que o estádio fique pronto, mesmo na véspera. Dai o ultimato, porque não fossem as  conexões com as seleções e patrocinadores, ela já teria descartado Curitiba e promovida a restruturação da tabela. Quanto mais próxima da Copa, mais complicadas ficam as reprogramações..

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Os legados da Copa: engenharia consultiva

"Antes de uma boa obra existe sempre um bom projeto". Assim deveria ser com as obras para a Copa 2014 que tem prazo inelástico para sua entrega e, portanto, deveriam ser antecipadas para um bom andamento e concluídas dentro dos prazos.
Homologado pela FIFA e aceito pelo Governo Brasileiro, como sede da Copa 2014, ainda no final de 2007 teve tempo mais do que suficiente, do ponto de vista técnico, para se preparar adequadamente. 
Mas nem a Copa no Brasil conseguiu mudar a cultura do "deixar tudo para a última hora" e no final "dar um jeitinho".
O ano de 2008 deveria ser destinado ao planejamento, tendo em vista a escolha das cidades-sede, 2009 o ano dos projetos e de 2010 a 2012/13 os períodos de execução das obras, com tempo suficiente para os testes e estar com tudo concluído até o final de 2013. Chegamos a esse e nem tudo estava pronto. Agora se verifica que nem todos os estádios poderão ficar prontos a tempo.
Os prazos mais longos eram necessários para uma boa elaboração dos projetos básicos de engenharia (juntamente com os de arquitetura) e dos projetos executivos, antes da contratação das obras.
Prevaleceu, no entanto, a tradicional concepção de esperar as definições institucionais (a escolha da cidade como sede) embora se soubesse que 8 cidades estavam certas, com pendência apenas em 2, para a programação original de 10 cidades. Caso houvesse uma extensão para 12, 4 cidades eram candidatas às vagas. As 8 cidades certas (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife e Fortaleza) podiam ter se antecipadas. 

Já com prazo encurtado a solução tradicional foi a de elaborar um  "tipo projeto básico", licitar e contratar as obras, pela modalidade menor preço e transferir a elaboração do projeto executivo ao construtor.
É uma situação típica do "faça de conta de que está oferecendo o menor preço, que eu faço de conta que acredito e fazemos a torcida acreditar: o preço final ninguém vai ver".
Os resultados foram os esperados embora sempre contestados pelas autoridades: "isso não vai acontecer porque é para a Copa". Mas aconteceram: obras superfaturadas, enormes variações de valores entre as previsões orçamentárias iniciais e as subsequentes, atrasos na execução, paralisações por diversos fatores e exclusão da programação para a Copa, caracterizada pela retirada da Matriz de Responsabilidade.

Muitas das obras contratadas pelo menor preço, estão paralizadas, porque a construtora não tem fôlego financeiro para executar as obras com prejuizo. A expectativa de que conseguiriam aditivos em função de ser obra para a Copa se frustraram. 

Já mais próximo ao final dos prazos, para acelerar a contratação das obras atrasadas foi criado um Regime Diferenciado de Contratações Públicas, que permitiu efetivamente reduzir os prazos de contratação, mas não garantiu os prazos de conclusão. Grande parte das obras contratadas pelo RDC não ficarão prontas para Copa. 
E o RDC criou uma figura esdrúxula, supostamente, uma institucionalização incompleta e equivocada do "turn key", cuja aplicação não tem melhorada a perspectiva de conclusão, qualidade e custo. As obras para mobilidade urbana e dos aeroportos contratadas pelo RDC não vão ficar prontas para a Copa.

O principal legado da Copa, neste setor é o Regime Diferenciado de Contratações, que simplifica algumas das complicações introduzidas pela Lei nº 8666/93, mas que contém equívocos que confunde o simples com o simplório.

O conjunto das obras previstas para a Copa aumentou o volume de serviços, porém a contratação dos projetos com base no menor preço não teve o dom de promover avanços tecnológicos. Há uma carência de quadros qualificados de engenharia, mas não de volume total e o uso indiscriminado do menor preço propiciou apenas que quadros de menor qualificação ampliassem a sua participação no mercado, caracterizando a atividade de projeto como uma commodity , sem promover uma graduação tecnológica.
A consequência é que o conjunto dos projetos para a Copa não apresentou nenhum avanço tecnológico significativo. 

Já no segmento do gerenciamento, onde as condições de contratação ainda são favoráveis o aumento das oportunidades atraiu as empresas estrangeiras, envolvendo um grande volume de aquisições de empresas nacionais por empresas e fundos estrangeiros, gerando um processo de transformação com efeitos perigosos para a engenharia no Brasil: as prioridade das empresas não é a qualidade tecnológica mas a rentabilidade de curto prazo, caracterizada pelas metas anuais do EBTIDA - Retorno antes dos impostos, juros, depreciação e amortização. 

Dessa forma, pode ser considerado como o legado da Copa 2014 para a engenharia consultiva  a aceleração da transformação do setor de predominantemente técnico para mais um indiscriminado setor de negócios. A inteligência brasileira ganhará com essa transformação?

Do ponto de vista técnico os projetos de engenharia de mobilidade urbana não trouxeram inovações significativas. A introdução do monotrilho como um novo meio de transporte coletivo pode ser creditada à Copa, uma vez que os três únicos projetos com essa tecnologia foram contempladas na Matriz de Responsabilidades, ainda que posteriormente um deles tenha sido abandonado, por flagrante inviabilidade (o de Manaus), outro retirado por não ficar concluído a tempo de Copa (a Linha Ouro, em São Paulo) e apenas um prolongamento do Expresso Tiradentes (Linha Prata), ter se mantido, embora não diretamente vinculado à Copa. Os projetos adotam as tecnologias desenvolvidas pelos fornecedores dos equipamentos, e sem inovações na parte civil, seguindo tecnologias já criadas nos projetos das obras de arte rodoviárias a grande alturas.

O mesmo ocorre com a implantação do sistemas de VLT e de BRTs.  As soluções foram triviais. 

A principal evolução tecnológica na área foi a ampliação do uso do BIM, seja por iniciativa dos próprios projetistas, para melhorar a sua produtividade e competitividade, como por exigências dos contratantes.

Na implantação do sistema metroviário em São Paulo, a engenharia consultiva brasileira deu um grande salto tecnológico, reconhecido mundialmente. Mas de lá para cá a evolução foi gradual, sem novos significativos saltos. O monotrilho é uma implantação na cidade de São Paulo de tecnologias desenvolvidas e testadas no exterior.

Curitiba implantou, de forma pioneira, um sistema de ônibus em corredores exclusivos, juntamente com um novo sistema viário. A tecnologia rodou o mundo e voltou como um BRT "Bus Rapid Transit", com aperfeiçoamentos feitos no exterior e transformador dos projetistas brasileiros em meros copiadores das tecnologias externas.

Do ponto de vista tecnológico, as discussões são se adotará o modelo japonês ou coreano, ou o filipino ou malaio. Não o modelo brasileiro. 

O legado da inovação tecnologica na engenharia, com a realização da Copa é praticamente nulo.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

O estádio só não é suficiente

O Itaquerão, como quer o Corinthians, vai ficar pronto até 15 de abril e poderá receber o seu primeiro jogo,  com lotação completa de cerca de 40 mil pessoas. 
Mas isso não garante o jogo de abertura da Copa nela. Para a abertura são necessários ainda mais cerca de 20 mil lugares transitórios, uma área para o estacionamentos dos caminhões com os equipamentos de retransmissão da TV, uma área para a village de recepção dos convidados da FIFA, dos patrocinadores e outra village para a exposição dos patrocinadores.  Além disso será necessário providenciar áreas para estacionamento dos carros do público espectador, a uma distãncia mínima de 2 km. Estacionamento próximo, só para as autoridades, patrocinadores e convidados Vips e VVips. 
A dificuldade do Morumbi em atender essas instalações do entorno, foi usada como argumento para sua inaceitação e mudança para o estádio em Itaquera que, igualmente, tem dificuldades.
A principal dificuldade é que ninguém quer assumir a responsabilidade pelos gastos, orçados em torno de R$ 70 milhões. 
Normalmente a FIFA transfere para os Governos a responsabilidade de suprir essas áreas e instalações, mas com a mudança do local do jogo, consta que nem o Governo do Estado, tampouco a Prefeitura assinaram os termos de compromisso, para assumir tais responsabilidades.

O Governo do Estado reafirma que não irá fazer esses investimentos, cuidando apenas das obras de mobilidade urbana no entorno. A Prefeitura Municipal diz que já deu a sua contribuição e não irá gastar a mais com a Copa. Ademais porque não conseguiu o aumento do IPTU e está sob imensa pressão para cumprir as promessas de Campanha.

O Corinthians, por sua vez, também reafirma que não irá gastar nada que seja utilizado apenas para a Copa e não se agregue de forma permanente ao seu estádio. Entende que o interesse em usar o estádio para a abertura da Copa é da FIFA e dos Governos, não dela.  O estádio poderá abrigar os jogos da subsequentes, mas não necessariamente o da abertura.

A FIFA, a esta altura, abandonou os conceitos do planejamento europeu, ou mais precisamente do suiço, com tudo meticulosamente previsto e acertado com antecedência, para confiar no "jeitinho" brasileiro. Acredita que, uma vez o estádio pronto, o mais difícil e oneroso, alguém irá achar a solução para os investimentos no entorno.

O planejamento técnico foi substituido pelo "planejamento à brasileira".

Já está acreditando na "conversa" de que sendo 2014 o ano de eleição, nenhum Governo irá querer assumir a responsabilidade de uma eventual transferência da abertura para outra cidade, com Brasília e Rio de Janeiro disponíveis.

A FIFA veio fazer uma vistoria nos estádios, começando por São Paulo e aprovou o andamento das obras, aceitando as promessas de que o Itaquerão ficará pronto até 15 de abril, "graças a Deus". Deus sendo brasileiro é torcedor do Corinthians? Será paulista ou carioca? Será imparcial, ficará fora da disputa, ou irá mandar uma chuva a mais, uma ventania mais forte?

A FIFA não acertou a equação financeira para as instalações do entorno. Seguiu o processo brasileiro de "empurrar com a barriga".

Com mais alguns dias, na sua próxima vinda ao Brasil, será tarde demais para a alternativa pública. Os Governos são obrigados a fazer licitação para a escolha dos fornecedores. Poderá alegar emergência ou urgência para dispensar a licitação, mas sofrerá os embargos do Ministério Público, de ações civis e outras contestações. Terão que enfrentar um processo judicial e mesmo que consiga liminares, ficarão sujeitos a suspensão dos mesmos. Além disso terão as criticas da mídia e de movimentos populares, pois os favoráveis à realização da Copa no Brasil seriam apenas metade da população. Não há mais unanimidade ou predominância a favor da Copa.
Poderão apelar para o RDC para reduzir os prazos licitatórios, porém continuarão sujeitos a contestações e atrasos.

Toda pressão recairá então sobre o Corinthians e sobre a construtora para que, como entidades privadas, com maior liberdade decisória, achem uma solução. Para eles a solução é simples: a FIFA coloca o dinheiro e eles fazem.

Mas estará a FIFA disposta a colocar o dinheiro? Em último caso, em função dos seus compromissos com os patrocinadores e também com os convidados, terá que desembolsar os recursos. 

O que ela procurará é o interesse dos Governos de Brasilia ou do Rio de Janeiro em bancar os recursos e receber o jogo de abertura. Ela não tem compromisso com os Governos de São Paulo, para fazer esse jogo em São Paulo. Ela estará se "lixando" com as questões eleitorais. O seu problema é sempre com os seus patrocinadores. 

Se esses exigirem que a abertura seja em São Paulo, conforme programado, ela não terá alternativa a não ser "abrir o seu cofre".

A abertura ou não em São Paulo está nas mãos de Coca-Cola, Sony e outras.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A politização do fenômeno social

Um fato social corriqueiro pode não ter conotação política, mas ganha-a pela reação dos outros, da sociedade, da opinião publicada, seja a tradicional como a das redes sociais. Na falta de uma denominação corrente, chamaria essa de opinião publicada virtual ou digital.

Os rolezinhos verdadeiros, encontros de jovens da periferia, para passear, para se divertir, para lanchar, para tomar sorvete, para encontrar as minas e manos, para rolar beijo na boca, eram corriqueiros, marcados por telefone, pela comunicação pessoal "boca a boca", ou até por tradição.

Quando passaram a ser marcados pelo facebook ganharam outra dimensão. Passaram a reunir um volume maior de pessoas, tornaram-se notados e a reação dos outros acabou sendo política, pela emergência dos preconceitos. Os outros se assustaram e reagiram de forma repressiva e discriminatória. Essa reação deu margem a que pessoas ou grupos com posições políticas usassem ou pretendessem usar o fenômeno espontâneo em manifestações políticas. 

Os rolezinhos marcados e realizados em shoppings mais próximos das áreas de alta concentração de moradias populares, como o Itaquera, Guarulhos, Interlagos, Campo Limpo e outros não tinham conotação política, não eram manifestações de protesto ou de qualquer outra motivação que não a da diversão. Mas foram tratados pelos lojistas, pelas administrações dos shoppings, pelos demais clientes, pelos Governos, pela policia, pela mídia tradicional e por tantos outros, como movimentos de intenção criminosa.
Os rolezinhos foram criminalizados e tratados como tal. O indicador mais claro dessa percepção foram as fotos, já mostradas aqui no blog, dos jovens com tarjas pretas ou rostos borrados, como determina o Estatuto da Criança e do Adolescente, em relação aos menores suspeitos de crimes.
Já o suposto rolezinho convocado para o Shopping JK Iguatemi tinha conotação política, com o objetivo de "invadir e perturbar" a burguesia consumidora, no seu maior templo. E fez aflorar de forma intensa os preconceitos. O shopping sentiu-se ameaçado e tomou medidas preventivas que foram caracterizadas como discriminatórias. A politização, a ideologização foi ainda maior. 

O que vai acontecer na sequência? Que lições podemos aprender com o processo social ocorrido ou em andamento. A questão não é mais, ou apenas, os rolezinhos verdadeiros, mas a reação social a esses e os movimentos políticos subsequentes. Um das lições principais é a emergência da opinião publicada virtual.

Uma guria, formada em antropologia,  que acompanhou o fenômeno do consumismo dos jovens pobres no Rio Grande e fez uma belíssima carreira acadêmica no exterior. Tornou-se professora na Inglaterra, mantendo um blog que trata de questões brasileiras, como chinesas, (http://rosanapinheiromachado.wordpress.com )  foi quem melhor soube interpretar e explicar esse fenômeno social, denominado rolezinho, tendo sido entrevistada por diversos meios de comunicação tradicional. 

Rosana Pinheiro Machado, tornou-se - momentaneamente - uma celebridade e, militante ou integrante da esquerda, fez críticas acerbas às interpretações e colocações da direita, o que levou a milhares de visualizações das suas postagens e comentários, contra e a favor. Os contra, recheados de ofensas e ameaças. Já vivi isso.

É a emergência de um novo fenômeno social, ainda não claramente percebido: a opinião publicada virtual.

A mídia tradicional tem um pequeno alcance. Jornais e revistas com opiniões, sejam nas colunas próprias, como no viés das notícias, não são consumidos ou lidos pela população pobre. Anteriormente se dizia que nas comunidades pobres só servia para embrulhar a carne ou o peixe, quando consumível. Hoje nem isso. 

Jornais e revistas são elementos de comunicação da classe média que se autoalimenta e se autolimita, achando - no entanto - que se comunicam com todo o mundo.

Com a emergência de novos instrumentos de comunicação, como o blog, e os que dão suporte às redes sociais, inicialmente o orkut, depois o facebook e o twitter, a opinião publicada se ampliou com a incorporação dos internautas.

O novo padrão de comunicação é o "conceito twitter": textos curtos. As eventuais análises precisam ser concisas e sem grande profundidade. Não há espaço para textos longos, como este. Pouco lêem.

O principal elemento é a interação. A opinião publica não está nos textos iniciais, mas nos comentários e nos debates entre os comentaristas. 

Muitos não comentam, apenas curtem, mas são influenciados pelas informações. Não por outro motivo, os meios de comunicação tradicional tem os seus blogs, portais, sítios, perfis e outros instrumentos da vida internáutica.

Suponho que, hoje em dia, grande ou a maior parte da formação da opinião pública decorre da opinião publicada virtual. 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Rolês da classe média emergente

Os rolezinhos autênticos são fruto da emergência de uma nova "classe média" que em função dos programas sociais ou do trabalho melhorou a sua renda. Adquiriu uma pequena capacidade adicional de consumo que desenvolveu novos hábitos, mas conservou outros. 
Os manos que promovem ou participam dos rolezinhos não deixam a favela, não deixam as condições precárias de moradia, mas querem ter os produtos de marca e incluem como equipamento essencial um laptop conectado na internet. A partir dai se relacionam virtualmente criam um outro mundo. 
A maioria dos jovens rolezistas entrevistados pela mídia trabalham, ainda que em funções subalternas, e gastam a sua renda em alguns produtos de marca que os caracterizam, como diferenciados. Seria uma elite dentro das comunidades periféricas.
Já as minas dependeriam mais dos pais, com a reclamação de uma das mães de que a filha gasta o seu salário para se produzir, impedindo que ela tenha os recursos para conseguir uma moradia própria. A mina faz parte de uma família de classe média emergente.

Os rolezitas não são "pé rapados", mas tem alguma renda para gastar no shopping: um hamburguer no Mc Donalds, um sorvete, ou um produto da sua indumentária. 

Reunem-se no shopping próximo da sua moradia e não vão se aventurar em outros shoppings, onde não são conhecidos, nem conhecem os outros. Reunem-se nos seus pontos.

A falta de compreensão do fenômeno e os preconceitos subjacentes levaram a Administração do Shopping JK Iguatemi a uma ação equivocada que terá consequências negativas, embora inevitáveis.


O que foi marcado no final de semana retrasada para o Shopping JK Iguatemi não foi um rolezinho, mas uma manifestação política, promovida por ativistas oportunistas aproveitando a movimentação da periferia para tentar repetí-la num shopping de luxo, com a participação de jovens de classe média tradicional. Tinha um sentido político de contestar a "sociedade de consumo" ao qual eles mesmo pertencem, mas à qual se opõem ideologicamente. O deste final de semana não era um rolezinho, com apropriação indevida do termo por ativistas. Era uma manifestação política, em reação ao "apartheid" desnecessário do shopping.

Os rolezinhos autênticos vão refluir. Os jovens da periferia terão que buscar outras alternativas para se divertir nos finais de semana.
Haverá um rescaldo de manifestações políticas, dos falsos rolezinhos com esvaziamento progressivo, mas que ficarão incubadas na espera de nova oportunidade. 
"Imagine na Copa".

domingo, 19 de janeiro de 2014

Opinião Publicada e Comunicação via internet

Os jornais e revistas de grande circulação, assim como seus leitores, se imaginam falando "com o mundo" e que cobrem, analisam e entendem tudo o que acontece nesse mundo. Só que, na realidade, esse mundo é apenas um pequeno pedaço da realidade.
Quando ocorre um fato notável fora do seu mundinho, tem dificuldade de entender, decifrar e, num primeiro momento, o noticiam e interpretam de forma equivocada.
Os acontecimentos de periferia são acompanhados e noticiado pelas editorias policiais. Supostamente, o que lá acontece só teria interesse para a opinião publicada, quando é um ocorrência policial.

Os jovens da periferia, de há muito, promovem "rolezinhos", cuja forma moderna é o convite pela internet, mais precisamente pelo facebook. São convites feitos por "celebridades internáuticas" para conhecer os seus amigos e seguidores e por eles serem conhecidos pessoalmente. O propósito mais pecaminoso seria o beijo na boca.

Sairam da praça local para se encontrar em shopping centers, que frequentam para o seu consumo de aparência. Com o aumento de participantes duas consequências se seguiram: alguns resolveram "zoar" fazendo o "bonde", isto é, uma corrida aos gritos. Clientes e lojistas se assustaram, a segurança interna não deu conta de controlar os meninos e meninas e pediram o apoio da Policia Militar. Alguns aproveitaram a confusão para furtar ou mesmo roubar. A Polícia Militar só sabe ver essas movimentações, como confusão e parte para a sua dispersão na "marra".

A mídia tradicional trata a questão como policial, confunde convite com convocação e vê logo manifestações populares e de cunho político.  O reflexo disso está no noticiário, nos equívocos das análises dos primeiros especialistas convocados e, principalmente, nas fotos, onde os jovens são caracterizados como suspeitos de crime e, portanto, a sua identidade deve ser coberta, utilizando tarjas pretas ou rostos borrados.
Os "manos" e as "minas apareceram nos jornais, na televisão, mas como suspeitos de crimes ou contravenções. Essa foi, efetivamente, a maior discriminação e crime de preconceito ocorrida, mas que a imprensa não reconhece passando a acusar os outros do crime que praticaram.

Descoberto o fenômeno pela opinião publicada, com o entendimento equivocado do que se trata, outros - jovens ou não - passaram a "convocar" rolezinhos em shopping centers não periféricos, com objetivos políticos. Adotada a mesma denominação, a mídia os tratou como fossem um mesmo fenômeno e uma das interpretações mais comuns foi de que a periferia queria invadir os "templos de consumo da riqueza". Uma cobertura direta com as entrevistas com os promotores da periferia mostrou a realidade, muito diversa das apressadas interpretações.

Aqui colocamos, desde a semana passada, a interpretação que agora a mídia está adotando: o rolezinho é um movimento de jovens da periferia em shoppings que eles frequentam habitualmente. Não vão invadir os outros, porque lá não são conhecidos. Nem mesmo os outros shoppings de periferia. Os jovens da Zona Leste não vão fazer rolezinho no shopping Interlagos ou Campo Limpo. E vice-versa.

A principal lição dessa ocorrência é que os meios de comunicação tradicionais estão perdendo alcance e os espaços estão sendo tomados pelos meios internáuticos, que, ademais são interativos, mas com uma grande limitação.

As comunicações são curtas e superficiais. A visão de mundo desse segmento social é de curto alcance. Mas representam uma grande parte do eleitorado e tem grande influência na escolha dos quadros políticos. 

Ou a opinião publicada toma consciência de que é uma minoria que não mais controla, tampouco influencia, essa maioria e a trata com realismo, ou será "atropelada" nas sucessivas eleições.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Os Legados da Copa: : arquitetura

Para a receber a Copa 2014 o  Brasil previu e está realizando um conjunto de obras, sem o devido e oportuno planejamento, porém em execução, antecedido por um projeto de arquitetura e/ou engenharia.

As edificações, como as dos estádios ou das estações de passageiros dos aeroportos são precedidos por projetos de arquitetura, complementados pelos de engenharia. As obras de infraestrutura partem de projetos de engenharia.
Dos 14 novos estádios em construção, 12 para a Copa e 2 (Arena Palestra e Arena Grêmio) que não serão utilizados para a Copa.
Somente os estádios de Manaus e Natal foram projetados por escritório de arquitetura estrangeiro, diversamente do que ocorreu na África do Sul, onde todos os estádios foram projetados por escritórios internacionais, com participação marginal de escritórios nacionais. 
A concepção do estádio do Corinthians foi importada, mas desenvolvida por escritório nacional. Os projetos estrangeiros foram elaborados pelas maiores empresas mundiais de arquitetura esportiva: a GMP e a Populous (ex HOK), sendo que a primeira ainda foi coparticipante de outros projetos de estádios. Os projetos de cobertura foram desenvolvidos por escritórios estrangeiros.

Foi uma excepcional oportunidade para a arquitetura brasileira, mas nenhum dos estádios despontou por um ineditismo ou importante inovação tecnológica ou estética. Firmou-se, ao longo dos últimos anos, com uma sucessão de construção ou reforma de estádios - predominantemente voltados para jogos de futebol - uma concepção, que governa todos os projetos. Talvez em decorrência dos padrões fixados pelo Manual da FIFA. 
Os estádio tem a construção dos espaços para o publico em torno de um campo retangular, subindo verticalmente, a grandes alturas e com cobertura completa sobre as áreas reservadas ao público. 
O formato final é ovalado ou circular, com alternativa retangular. O formato final pode ter um tratamento diferenciado.


As inovações foram nos detalhes e apenas três dos estádios / arena tem caracteristicas estéticas diferenciadas: o Beira Rio em Porto Alegre, a Arena da Amazônia, em Manaus e a Arena das Dunas, em Natal. O Maracanã perdeu a sua identidade visual. 

A elaboração de uma dezena de projetos de estádios promoveu o desenvolvimento de uma arquitetura esportiva, um segmento até então muito restrito, atendendo a rigorosas exigências em relação à visibilidade do campo a partir de todos os pontos, segurança, conforto e outros itens definidos pelo Manual da FIFA.

A arquitetura brasileira respondeu aos desafios, gerou um grande interesse pelos projetos dos estádios, não só dentro da comunidade técnica, como da mídia e da sociedade, mas continuou anonima. Houve uma grande difusão dos nomes das principais construtoras dos estádios, mas pouco dos arquitetos projetistas.

Em função das novas exigências da FIFA, todas as arenas foram projetadas como construções sustentáveis, candidatas à certificação LEED, como "green building". Os projetistas tiveram capacidade de responder a esse desafio e essa capacitação que pode ser estendida a todos os projetos de arquitetura, pode ser considerada como um dos principais legados técnicos da Copa.

A Copa do Mundo da FIFA é reallzado a cada quatro anos e os paises sede tendem a construir ou reformar os seus estádios para atender aos requisitos da FIFA. Já estão confirmadas as Copas de 2018 na Rússia e 2022 no Catar. 

A capacitação dos escritórios brasileiros de arquitetura em concorrer para esses projetos será um legado da Copa 2014?


Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...