sábado, 4 de janeiro de 2014

Os legados da Copa - fortalecimento dos clubes

O negócio do futebol conta com três receitas principais: a) direitos de televisionamento dos jogos; b) "comercialização" de jogadores; c) ingressos dos jogos. Além desses há receitas complementares, como venda de camisas e unfiormes, "naming rigth", quando o clube tem estádio próprio e outros.

Com a mudança de patamar econômico do futebol europeu, incluindo os paises da antiga União Soviética, os clubes brasileiros passaram a ter na "comercialização" dos seus jogadores de talento a principal fonte de renda. Alguns transformaram a atividade em investimento, destinando recursos para a formação de novos jogadores. Outros dependeram da sorte de emergir um talento entre os seus jogadores. E ainda um terceiro grupo investe na contratação e aperfeiçoamento de craques para depois "vendê-los".

Por outro lado, com as receitas dos direitos de televisionamento, comandados por uma única emissora, fez os clubes se acomodarem em relação aos ingressos e cuidar mais das negociações das cotas da televisão.

Um dos argumentos mais comuns dos clubes é que eles não dispunham - com algumas raras exceções - de estádios proprio que oferecessem conforto e segurança para maior participação das pessoas.

Diante dessas condições precárias, o público preferia acompanhar os jogos pela televisão, provocando a elevação dos valores de patrocínios.

Para ter um público nos estádios, os clubes patrocinavam a organização de torcidas que acabaram virando "torcidas organizadas" com incorporação de componentes de fanatismo, intolerância e violência. 

Com os novos estádios que oferecem maior conforto, os clubes terão que mudar as estratégias, dando maior ênfase ao público presencial  que dará maior visibilidade ao clube e poderá gerar mais receitas.

Uma comparação preliminar com a Copa de 2006 ocorrido na Alemanha, mostra que os novos estádios ajudaram os clubes a se fortalecem econômica e futebolisticamente, mas sem a correspondência de fortalecimento das suas seleções. Os clubes alemães dominam os ranking de clubes mundiais, reforçada agora pela conquista pelo Bayern de Munique do título mundial de clubes, com participação de jogadores estrangeiros, inclusive brasileiros.

Situação semelhante ocorreu com a Inglaterra, com a construção ou reforma dos seus estádios, tornando o seu campeonato nacional um dos maiores em faturamento e rentabilidade, mas sem conseguir o correspondente fortalecimento dos seu time nacional. 

O Brasil, com a sua política exportadora, enfraquece os clubes que não tinham condições de se fortalecer, diante da pressão econômica dos países europeus, mas fortalece a sua seleção nacional, desde que montada e operada adequadamente.  Sem esquecer que a Argentina está em situação similar.

Com a abertura de seis estádios modernos, para a Copa das Confederações ocorreram situações bastante diversas.

O "Mineirão" ajudou o Cruzeiro na conquista do título do Campeonato Brasileiro, de 2013  e substancial aumento das suas receitas. O estádio teve uma boa perfomance econômica, complementadas por megashows de Paul McCartney, Elton John e Black Sabbath. O Atlêtico Mineiro preferiu permanecer no estádio Independência, por superstição, mas depois de algumas derrotas, e mau desempenho no Brasileirão, depois da conquista da Libertadores, poderá voltar ao Mineirão, para seus principais jogos.

A Fonte Nova conseguiu os jogos do Bahia, mas sem um significativo aumento de público, nem mesmo uma melhoria substancial da sua condição futebolística. Não fosse o fracasso dos clubes cariocas, o Bahia poderia ter caido, novamente, para a segunda divisão. Ficou em 14º lugar, com 48 pontos, apenas 2 pontos acima do Fluminense. 
Já o Vitória, levou apenas os jogos contra o Bahia para a Fonte Nova. Numa única exceção teve prejuizos. Preferiu levar todos os jogos de seu mando para o Barradão, e por pouco não conseguiu ficar entre os 4 primeiros. A nova arena pouco influiu no desempenho futebolístico dos dois principais clubes baianos.

O Castelão recebeu bem os jogos da Copa das Confederações e os shows de Paul McCartney e Beyoncé, mas fracassou nos jogos regionais e nacionais. Sem substancial aumento de público tanto o Ceará como o Fortaleza preferem jogar de estádios menores, onde o custo é menor. O estádio não promoveu um "up grade" para os clubes locais. O Ceará permaneceu na série B, ficando apenas na 7ª colocação geral e o Fortaleza, não passou da primeira fase.

A Arena Pernambuco é outra arena, que pouco ajudou o futebol estadual. O Naútico, o único dos três principais times de Pernambuco que aceitou jogar na nova Arena, foi rebaixando para a segunda divisão, colecionando várias derrotas no novo estádio e com público diminuto.

O Sport, dentro da série B, manteve os seus jogos na Ilha do Retiro, e seu bem: em 2014 volta para a série A. E o Santa Cruz, jogando no Arruda, foi campeão da série C e voltou à série B. Na final contra o Sampaio Correa, reuniu cerca de 34 mil espectadores, pouco para a capacidade do Arruda e também insuficiente para lotar a Arena Pernambuco.

Tanto o Sport como o Santa Cruz se mantém dispostos a jogar nos seus estádio, em 2014, mantendo a ociosidade da Arena Pernambuco.

O Maracanã melhorou a condição econômica do Fluminense, obrigado a jogar em Macaé, mas não o salvos das últimas colocações. Só não foi rebaixado porque a Portuguesa dos Desportos perdeu pontos por infração legal. 

Os jogos do Vasco no Maracanã não tiveram público e renda muito superior ao que vinha obtendo em São Januário. E também não o ajudou a permanecer na  primeira divisão.

O Botafogo que vinha de uma boa campanha no início do campeonato, antes da reabertura do Maracanã manteve as suas posições, terminando dentro dos 4 classificados para a Libertadores. Mas os seus ganhos econômicos não foram significativos em relação ao seu faturamento no Engenhão.

O único clube que teve ganhos significativos com o Maracanã foi o Flamengo, apesar de campanha medíocre no Campeonato Brasileiro. Porém foi dentro do Maracanã que derrotando o Atlêtico Paranaense, sagrou-se campeão da Copa do Brasil, com um público de quase 69 mil espectadores e renda próxima a R$ 10 milhões. As poucas cadeiras não vendidas foram as reservadas ao Atlêtico Parananese.  O Flamengo tem uma grande torcida, porém na sua maior parte, entre os de menor renda que não tem condições de acompanhar continuamente os jogos do clube. Porém comparecem em massa nos jogos decisivos, dispostos a pagar até R$ 800,00 por uma cadeira. 
Brasília é uma situação excepcional. Atraiu classicos regionais para o seu estádio e os principais times cariocas enquanto não se reabria o Maracanã. Teve um grande sucesso como jogo Santos x Flamengo, mas não manteve os grandes públicos na sequência dos jogos. 

Colocou em evidência uma realidade que é a torcida nacional de clubes, em função do televisionamento dos jogos. Há sempre uma torcida regional ou local interessada em ver - presencialmente - o seu time preferido jogar, porém esse interesse não tem grande persistência.

O Estádio Nacional de Brasília tem a vocação de ser efetivamente nacional, dado o grande volume de imigrantes regionais na Capital Federal. Essa condição dará ao estádio uma utilização não considerada inicialmente.  

Mas a existência de um novo e moderno estádio não parece suficiente para alavancar o anêmico futebol brasiliense.

Os seis primeiros estádios concluidos não tiveram grande impacto positivo sobre a evolução econômica e futebolística dos clubes brasileiros. Agora, na próxima leva, com três estádios pertencentes a clubes pode se esperar maior evolução. Em compensação os três outros são fortes candidatos a "elefantes brancos".

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