O Instituo Ethos, movido pela boa fé, e elevado grau de ingenuidade, pretendia que a Copa 2014 deixasse um legado de transparência e sustentabilidade, Com o lançamento do projeto "Jogos Limpos Dentro e Fora dos Estadíos", com o apoio da FIFA (essa como sempre com interesses mercadológicos) pretendia que a Copa, como herança promovesse uma cultura de combate à corrupção".
Partia de uma grave contradição: a FIFA não prima pela transparência. Um exemplo simples: a CBF publica no seu portal os boletins financeiros (borderôs) dos jogos, o que permite saber o total de público, os preços dos ingressos, a receita, as despesas, os descontos, os resultados, etc.
Não houve a publicação dos borderôs dos jogos da Copa das Confederações. A FIFA não divulga os dados em absoluta intransparência e muita obscuridade.
A FIFA tem sido objeto de vários escândalos de corrupção. Mesmo não inteiramente comprovados a sua imagem, nesse sentido, não é boa.
A questão da sustentabilidade estamos tratando em matérias específicas.
A transparência em relação à Copa 2014 melhorou, mas não suficientemente. O Governo criou um portal e passou a prestar contas do andamento das obras. Porém a quem quisesse obter maiores informações sobre os contratos de construção ou de parcerias público-privadas tinha que buscar os anexos dos anexos dos anexos ou apelar para lei da informação pública.
A divulgação oficial do andamento das obras não permitiu esconder os "estouros de orçamento", porém não mostrou com a devida transparência as razões.
Já em relação à corrupção surgiram várias suspeitas, porém nenhuma comprovada. Não emergiu nenhum escândalo, com as devidas prisões.
O legado da Copa não seria o combate ou a redução da corrupção, porém a melhoria dos envolvidos em esconder os casos. Ainda ninguém "foi pego".
Na cultura da corrupção o "feio" não é a corrupção em si, mas "ser pego".
Com a ampliação dos recursos para os investimentos necessários para a Copa, os fornecedores não quiseram "ficar de fora". E se a regra era a de sempre, quem quisesse participar do bolo, tinha que jogar dentro da "regra". E a desculpa era também a de sempre: "todo mundo faz". Ou "quem não entra no jogo, não ganha".
Todo mundo que obteve contratos "pagou", mas ninguém vai admitir.
Porém a regra do "não ser pego" fez com que muitas operações fossem abortadas, pela ação preventiva e fiscalizatória dos órgãos de controle, principalmente do TCU.
O TCU fez "marcação cerrada", "estádio a estádio", com equipes específicas para cada uma delas. A fiscalização detectou indícios de irregularidades e esses foram prontamente corrigidos.
Mas cabe uma indagação preliminar: se o Governo afirmou e reafirmou que não haveria dinheiro público nos estádios, o que o TCU estava fazendo? Extrapolando as suas atribuições, assumindo o papel e a responsabilidade dos Tribunais de Contas Estaduais?
O TCU entendeu que o financiamento do BNDES era recurso público, contrariando o discurso do Executivo e por conta disso passou a fiscalizar a aplicação dos recursos, como um todo, porque o financiamento não era para partes específicas, mas para fração do conjunto.
O Governo do Distrito Federal preferiu não recorrer ao BNDES e com isso livrou-se do TCU. Só sofreu o controle do TCE, cuja maioria dos membros é escolhida pelo Poder Executivo. Por coincidência ou não, é o estádio mais caro, com o maior valor de aditivos e maiores indícios de irregularidades.
O Corinthians não fez questão do financiamento do BNDES a não ser com a obra concluída. Com o acidente na construção a operação financeira teve que ser fechada antes da conclusão da obra.
Por não ter a corrupção reduzida essa continuará sendo um dos temas das manifestações de rua.
Não há alterações no status da corrupção, por conta da Copa. O legado é aparentemente neutro.
Porém comparado com as pretensões, pode se dizer que não houve um avanço significativo da corrupção.
Os gastos públicos com a Copa eram uma grande oportunidade para "faturar" e muitos esquemas devem ter sido montados, mas abortados por um maior rigor e eficácia na fiscalização. As consequências foram atrasos na execução de obras por conta de suspeitas. Antes que se tornassem realidade eventuais irregularidades foram sanadas.
A corrupção não foi reduzida, mas, sem dúvida, o combate preventivo à corrupção melhorou com as obras da Copa.
Ver o que não é mostrado - Enxergar o que está mostrado Ler o que não está escrito Ouvir o que não é dito - Entender o que está escrito ou dito
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Lula, meio livre
Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...
-
Carlos Lessa - ex presidente BNDES As políticas públicas verticais focam partes ou setores específicos da economia, tendo como objetivo ...
-
Paralelo 16 é uma linha geográfica que "corta" o Brasil ao meio. Passa por Brasília. Para o agronegócio significa a linha divi...
-
A agropecuária brasileira é - sem dúvida - uma pujança, ainda pouco reconhecida pela "cultura urbana". Com um grande potencial de ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário