Os jornais e revistas de grande circulação, assim como seus leitores, se imaginam falando "com o mundo" e que cobrem, analisam e entendem tudo o que acontece nesse mundo. Só que, na realidade, esse mundo é apenas um pequeno pedaço da realidade.
Quando ocorre um fato notável fora do seu mundinho, tem dificuldade de entender, decifrar e, num primeiro momento, o noticiam e interpretam de forma equivocada.
Os acontecimentos de periferia são acompanhados e noticiado pelas editorias policiais. Supostamente, o que lá acontece só teria interesse para a opinião publicada, quando é um ocorrência policial.
Os jovens da periferia, de há muito, promovem "rolezinhos", cuja forma moderna é o convite pela internet, mais precisamente pelo facebook. São convites feitos por "celebridades internáuticas" para conhecer os seus amigos e seguidores e por eles serem conhecidos pessoalmente. O propósito mais pecaminoso seria o beijo na boca.
Sairam da praça local para se encontrar em shopping centers, que frequentam para o seu consumo de aparência. Com o aumento de participantes duas consequências se seguiram: alguns resolveram "zoar" fazendo o "bonde", isto é, uma corrida aos gritos. Clientes e lojistas se assustaram, a segurança interna não deu conta de controlar os meninos e meninas e pediram o apoio da Policia Militar. Alguns aproveitaram a confusão para furtar ou mesmo roubar. A Polícia Militar só sabe ver essas movimentações, como confusão e parte para a sua dispersão na "marra".
A mídia tradicional trata a questão como policial, confunde convite com convocação e vê logo manifestações populares e de cunho político. O reflexo disso está no noticiário, nos equívocos das análises dos primeiros especialistas convocados e, principalmente, nas fotos, onde os jovens são caracterizados como suspeitos de crime e, portanto, a sua identidade deve ser coberta, utilizando tarjas pretas ou rostos borrados.
Os "manos" e as "minas apareceram nos jornais, na televisão, mas como suspeitos de crimes ou contravenções. Essa foi, efetivamente, a maior discriminação e crime de preconceito ocorrida, mas que a imprensa não reconhece passando a acusar os outros do crime que praticaram.
Descoberto o fenômeno pela opinião publicada, com o entendimento equivocado do que se trata, outros - jovens ou não - passaram a "convocar" rolezinhos em shopping centers não periféricos, com objetivos políticos. Adotada a mesma denominação, a mídia os tratou como fossem um mesmo fenômeno e uma das interpretações mais comuns foi de que a periferia queria invadir os "templos de consumo da riqueza". Uma cobertura direta com as entrevistas com os promotores da periferia mostrou a realidade, muito diversa das apressadas interpretações.
Aqui colocamos, desde a semana passada, a interpretação que agora a mídia está adotando: o rolezinho é um movimento de jovens da periferia em shoppings que eles frequentam habitualmente. Não vão invadir os outros, porque lá não são conhecidos. Nem mesmo os outros shoppings de periferia. Os jovens da Zona Leste não vão fazer rolezinho no shopping Interlagos ou Campo Limpo. E vice-versa.
A principal lição dessa ocorrência é que os meios de comunicação tradicionais estão perdendo alcance e os espaços estão sendo tomados pelos meios internáuticos, que, ademais são interativos, mas com uma grande limitação.
As comunicações são curtas e superficiais. A visão de mundo desse segmento social é de curto alcance. Mas representam uma grande parte do eleitorado e tem grande influência na escolha dos quadros políticos.
Ou a opinião publicada toma consciência de que é uma minoria que não mais controla, tampouco influencia, essa maioria e a trata com realismo, ou será "atropelada" nas sucessivas eleições.
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