O segmento da sociedade que veio a se tornar a primeira camada do bolsonarismo, já existia, mas oprimida escondendo-se "dentro dos armários". A candidatura de Jair Bolsonaro vocalizando a visão de mundo desse segmento conservador e reacionário (segundo a esquerda), o tirou do armário e foram a base inicial de apoio político de Bolsonaro.
A segunda camada emergiu com força a partir das revelações da Operação Lava-Jato, autorizado pelo Juiz de 1ª instância Sérgio Moro, decretando prisões temporárias ou provisórias. Na sequência, condenou à prisão politicos sem mandato, diretores da Petrobras, poderosos empresários e doleiros, todos e envolvidos em mega esquemas de corrupção. Muitos políticos também envolvidos, mas com mandato parlamentar, nem chegaram a ser investigados, protegidos pela imunidade parlamentar. Jair Bolsonaro não chegou a ser envolvido, o que usava como "selo de qualidade", ou como "politico livre de corrupção".
O Juiz Sérgio Moro, pelo seu rigor, persistência e coragem, não se intimidando diante de poderosos, tornou-se uma figura popular e ícone de um importante segmento da sociedade, o dos "anti-corrupção". Quase uma unanimidade nacional, deixou de sê-lo, quando mandou prender o ex-Presidente Lula.
Não era uma base inicial de apoio de Jair Bolsonaro, mas este, um politico esperto, abraçou a causa e obtendo o apoio de Sérgio Moro passou a ser um líder do segmento, incorporando-o como a segunda camada do bolsonarismo.
A terceira camada parte de um segmento da elite paulista que não aceita o modelo atual de representação do Congresso Nacional, em que São Paulo, com o maior colégio eleitoral do país, tem uma participação dentro do Congresso Nacional, muito menos que acha deveria ter. O colégio eleitoral de São Paulo é fundamental para a eleição presidencial, a única nacional, mas não para a composição quantitativa no Congresso.
Esse segmento antipolítico foi reforçado pelas revelações da Operação Lava-Jato, envolvendo uma grande quantidade de líderes partidários, mas uma pequena quantidade relativa de parlamentares, em relação ao total. Jair Bolsonaro não estava envolvido
Essa elite é a base da opinião publicada, que é parte menor da opinião pública. É a que acompanha a politica pelos meios de comunicação, tanto das tradicionais, como as alternativas.
Jair Bolsonaro passou a prometer acabar com o "presidencialismo de coalizão", o loteamento ministerial e o "troca-troca".
Este segmento antipolítico é indignado com a proliferação de partidos políticos, alguns dos quais são explicitamente legendas de aluguel, incluindo o PSL pelo qual Jair Bolsonaro e os parlamentares bolsonaristas foram eleitos. É indignado com a reeleição de parlamentares corruptos, que embora suspeitos ou alvo de investigações ainda não sofreram condenação em segunda instância, o que os livra da condição de ficha suja. É mais indignado ainda com a ampla presença de deputados semianalfabetos, uns "zés ninguém" ou "zé manés", que só cuidam dos interesses dos seus redutos eleitorais, negociando emendas, em troca de apoio.
Ao se propor acabar com tudo isso, caracterizado como "velha política" conquistou o apoio desse segmento que veio a se transformar na terceira camada do bolsonarismo.
Bolsonaro assumiu a Presidência da República, cumprindo o compromisso. Não fez o loteamento político dos Ministérios. Não articulou uma base de apoio, um instrumento fundamental do presidencialismo de coalizão.
Foi além da sua posição antipolítica: passou a tratar - na prática - o Congresso, com total desprezo. Não se empenhou em articular ou negociar o apoio para a aprovação das propostas do Governo, assim como para manter os vetos de projetos aprovados pelo Congresso.
Diante desse comportamento o Congresso assumiu o papel de discutir e aprovar as medidas legais, nem sempre atendendo aos propósitos do Executivo.
A reação de Jair Bolsonaro a esse protagonismo do Congresso é mobilizar o povo para ir às ruas para pressionar o Congresso. Os mais radicais pedem o fechamento do Congresso, para o Presidente poder governar mediante decretos-leis ou similares, sem ter que passar pela aprovação legislativa.
Essa camada bolsonarista está cada vez mais aguerrida e está convocando a população para um amplo movimento nas ruas no dia 15 de março. O máximo que conseguirá mobilizar será dos bolsonaristas mais fieis, insuficientes para lotar as avenidas.
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sexta-feira, 6 de março de 2020
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