quinta-feira, 12 de março de 2020

Destruição do inimigo

EUA, Rússia e Arábia Saudita são os três países maiores produtores de petróleo & gás (Oil & Gás - O&G) do mundo.
Rússia e Arábia Saudita tem regimes políticos centralizados, autoritários, governados por dirigentes que tem comando sobre empresas estatais ou associadas ao Governo, podendo usá-las na formação dos preços internacionais e se envolver em guerras.
Já os EUA tem um regime mais democrático, com economia liberal e produção de O&G disseminada por centenas de empresas privadas, sem participação estatal na produção. O Governo norte-americano tem condições de promover diretamente qualquer guerra de preços. Mas à medida que suas empresas, no conjunto, com apoio estatal tornam o país o maior produtor mundial, teriam forte influência sobre os preços. Mas não podem determinar os preços, porque é também o maior consumidor mundial e ainda tem déficit, dependendo da importação de petróleo, no caso, principalmente do "mundo árabe", liderado pela Arábia Saudita. 
Terá uma posição subsidiária na guerra de preços entre as duas outras maiores potências em O&G, mas sofrerá - fortemente - as consequências da mesma.

A guerra de preços promovida pela Arábia Saudita, diante da resistência da Rússia em concordar com as propostas dos árabes em reduzir a produção para manter os preços, diante da retração da demanda, provocada pelo COVID-19, o nome do atual coronavirus que vem devastando a Europa, com repercussão maior do que da China, onde se originou o novo vírus.
A Arábia Saudita com as maiores reservas em regime de produção, associada ao "mundo ocidental" tem amplas condições de gerenciar os seus níveis de produção e com isso influenciar ou, praticamente, definir os preços no mercado internacional de O&G.
O seu objetivo imediato é manter sua posição relativa num mercado europeu, em forte retração, em função do menor volume de transportes de pessoas e paralisações na produção industrial, que afeta também o transporte de carga, todos grandes consumidores de derivados de petróleo. 
A médio prazo, o objetivo é inviabilizar a produção por empresas menos competitivas, com alto custo de produção. Com isso destruí-las econômicamente e retirá-las do mercado. Ao fazer isso está promovendo a redução da produção, ocupando maior participação nos mercados. A Rússia já anunciou que tem condições de resistir a preços mais baixos entre 6 a 10 anos.

A estratégia de Putin, com visão de médio e longo prazos é evitar um fortalecimento excessivo dos EUA, que vem ampliando as suas exportações de petróleo & gás, apoiado pelos benefícios governamentais. Com as empresas suportando prejuizos e rolando dívidas. Mantendo produção abaixo da sua capacidade, a Rússia, junto com os árabes, vinha controlando os preços, em níveis relativamente baixos. Suficientes para os seus negócios e apertados para os EUA e demais paises produtores (exceto o Brasil).
Com a crise do coronavirus, os árabes propusaram reduzir a produção, para manter os preços, evitando a sua queda, em função da redução da demanda.
Os russos não concordaram. O príncipe árabe, num ato intempestivo, tipico de sua índole, "dobrou a aposta". Ao invés de reduzir a sua produção junto com os demais integrantes da OPEP e da Rússia, como desejava, resolveu - unilateralmente, aumentar a produção, deprimindo ainda mais os preços mundiais do petróleo. 
"Não quer reduzir a produção, truco: aumento a minha".

Os EUA, provavelmente, serão as maiores vítimas da estranha guerra de preços entre a Arábia Saudita e a Rússia. Com preços mais baixos, os EUA - como uma economia aberta - tenderá a aumentar as importações da Arábia Saudita, comprometendo a saúde econômica de muitas das suas empresas produtoras do shale-oil e shale-gaz, com efeitos sociais e políticos.
Muitas das pequenas e médias empresas de petróleo&gas que exploram o xisto, irão quebrar, por não conseguirem honrar as suas dívidas, demitindo trabalhadores. Terão efeito sobre o PIB global que já sofre com a redução dos transportes. O nível de emprego irá cair. Ambos com efeitos políticos, desfavorável a Donald Trump. Ele contava com a economia e o emprego norte-americanos "bombando" no segundo semestre deste ano, com ápice em novembro, mês das eleições.
O que ele irá fazer, diante da mudança de tendências?

E o Brasil?



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