quinta-feira, 26 de março de 2020

Financiar diretamente o consumidor



O principal motor da economia brasileira é o consumo das famílias (segundo a nomenclatura das contas nacionais).
Esse consumo é feito – predominantemente – pelos trabalhadores que recebem os seus salários e o gastam em comida, em remédios, em roupas, em calçados e outros bens de consumo. Ainda pagam o plano de saúde, prestações da compra do automóvel, dos eletrodomésticos, telefone celular e outros bens duráveis. Pode estar pagando aluguel ou prestação da habitação em que moram. Na casa tem as contas de luz, água, gás e, para alguns, a TV paga, Netflix e outros.
Com filhos tem ainda encargos com as mensalidades, quando em escola privada, material escolar e transportes. Tem gastos com a condução, que quando empregados, pode ser parcial ou totalmente pagos pelo empregador.
Os que tem animal em casa, tem gastos com rações e com o pet-shop.
Gasta ainda, com vários serviços como a academia, a cabelereira e outros.
Acima de tudo, não está Deus, mas os impostos a pagar.
Numa eventual suspensão de recebimento de salários, podem postergar ou renegociar as dívidas, mas não podem deixar de gastar em comida, remédios e condução.
Quando estabelecida a quarentena, com o fechamento de lojas, exceto os essenciais, fica em casa, consome menos, embora vá ter aumento da conta da luz, da água, de telefone e gás. O seu salário pode durar um pouco mais. Mas ao deixar de comprar roupas, de ir à academia ou à cabelereira, reduz a receita desses estabelecimentos que podem ficar sem dinheiro para pagar os empregados. A primeira tendência do empregador é colocar em férias ou demitir.
Gera uma corrente de redução das atividades produtivas, sucedida por demissões, importando numa redução do consumo, provocando um circuito negativo. A sequência dos circuitos leva a um redução da demanda agregada, que vai se refletir no PIB, de forma negativa.
Para conter ou mudar o sentido do circuito negativo, em função das pressões empresariais, as medidas governamentais são orientadas para auxiliar as empresas, na suposição de que elas vão manter a produção, os empregos e continuar pagando os salários, com os auxílios governamentais. Isso ocorre, num primeiro momento, até porque a maioria dos empregados recebeu os salário do período anterior às restrições. Está gastando menos, porque confinado, exceto os amedrontados que fizeram compras mais que o necessário. Alguns estão guardando para voltar a comprar, assim que as coisas se normalizarem. Ou para aguentar um período sem receber.
Numa eventual continuidade de redução da produção, com maiores demissões, a redução da massa salarial e fonte de renda para consumo, o circuito negativo se encorpa. Sem perspectiva de demanda não adianta financiar as empresas produtoras, porque elas não vão produzir. Não é função, nem vocação da indústria de produzir para estoque. A menos que vejam perspectiva de demanda próxima e precisam fazer estoque para atender.
O maior obstáculo é Paulo Guedes e sua equipe que só pensam em atender as empresas e os investidores, desprezando inteiramente os trabalhadores aos quais debitam a responsabilidade pelas crises econômica. A visão das autoridades econômicas não é ajuda-los mas puní-los, como pretendeu fazer com a primeira Medida Provisória, com o pacote de ajuda.
Não basta a solução para os formais que representam um contingente da ordem de 45 milhões de trabalhadores. Quantidade igual é de informais e ainda existe um grande parte de desocupados.
EUA e Reino Unido já anunciaram um programa de apoio trabalhadores, tanto formais como os informais.  
Com as decisões do mestre Trump é possível que Jair Bolsonaro mande Paulo Guedes, seguir o mesmo caminho. Para isso poderá contar com a boa vontade do Congresso.

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